Entrevista/ “É um desafio constante vingar em Portugal”

João Sousa Guedes, CEO da Weezie

“Ao contrário das start-ups tradicionais que começam com uma ideia, desenvolvem um software e só depois vão para o mercado, a Weezie começou através dos seus clientes e foi a partir daí que tudo aconteceu”, afirmou João Sousa Guedes, CEO da Weezie, que ajuda a levar fibra ótica a mais de 50 milhões de casas em todo o mundo. Depois de levantar capital em 2019, iniciou agora uma nova ronda de investimento série A e está a contratar.

Começou por ser um departamento de investigação e desenvolvimento da Aixtel Engineering, mas em 2018 tornou-se independente. A spin-off recebeu o nome Weezie e, em 2019, fechou uma ronda seed no valor de 525 mil euros assegurada pela Novabase Capital e pela Bynd Venture Capital.

Em entrevista ao Link To Leaders, o CEO, engenheiro eletrotécnico de formação, explica que “a Weezie oferece uma solução de rede de fibra ótica que integra num só ecossistema digital a equipa de planeamento, execução, controlo e gestão, a fim de oferecer a melhor experiência ao cliente final. Isto permite não só a redução de 60% do tempo de trabalho quando comparado com o formato tradicional, como também a redução de 90% das não conformidades entre o projeto e aquilo que é implementado”.

Atualmente, a start-up já está presente em cinco países, sendo que os mercados francês e britânico têm maior relevância e peso para o negócio, com clientes como a TDF – Teledifusion de France, a Ert – Altice Tecnhical Service, a Airband e a Gigaloch.

Mas continua com os olhos postos na internacionalização: “queremos iniciar operações nos EUA entre o final deste ano e o primeiro semestre do próximo”, revelou João Sousa Guedes.

Como nasceu o projeto Weezie? Quem está por detrás desta ideia?
Tudo começou com uma empresa de engenharia portuguesa, a Aixtel Engineering, que elaborava projetos de redes de fibra ótica não só em Portugal, como também em França, Reino Unido, Angola e Moçambique. O grupo desenvolveu um software de otimização de desenho de redes e do trabalho interno, e um cliente, em 2016, ao ver a apresentação de um projeto, reparou no software que era utilizado, teve interesse, e perguntou se o podia adquirir.

Ao contrário das start-ups tradicionais que começam com uma ideia, desenvolvem um software e só depois vão para o mercado, a Weezie começou através dos seus clientes e foi a partir daí que tudo aconteceu. Atualmente, Weezie, com quase cinco anos de atividade, está presente em cinco países e já ajudou a que os nossos clientes levassem a fibra ótica a mais de 50 milhões de casas em todo o mundo.

Qual o trabalho desenvolvido pela Weezie? O que é que as empresas de telecomunicações podem esperar da vossa solução?
A Weezie é uma empresa de software que oferece soluções de gestão de redes de fibra ótica, focada na automação e digitalização dos processos associados ao desenvolvimento de uma rede de telecomunicação. Conseguimos oferecer esta garantia, uma vez que o nosso software é composto por várias funcionalidades complementares que permitem uma maior agilização de vários processos: a Weezie Tasks; a Weezie Field e a Weezie Fiber.

A Weezie Tasks é um gestor de tarefas que permite fazer um planeamento, controlo e implementação das atividades, orientado para a atribuição de tarefas em tempo real e execução assistida, de modo que as atividades de instalação ou manutenção sejam em tempo real e bidirecionais. Já Weezie Field permite ao cliente capturar e transmitir informações no terreno e fornecer os dados da rede em tempo real. Permite também que as edições sejam feitas e atualizadas a qualquer momento, mantendo os registos do sistema exatos ao mesmo tempo que reduz o tempo para aprovação do cliente.

Por último, a Weezie Fiber é uma plataforma colaborativa e de inventário, que permite automatizar, acelerar, e ter controlo em tempo real da implantação e gestão da rede.

“Acima de tudo, aquilo que nos diferencia da concorrência é o facto de os concorrentes se focarem em partes do ciclo e nós fazermos o ciclo completo (…)”.

O que vos distingue da concorrência?
A Weezie oferece uma solução de rede de fibra ótica que integra num só ecossistema digital a equipa de planeamento, execução, controlo e gestão, a fim de oferecer a melhor experiência ao cliente final. Isto permite não só a redução de 60% do tempo de trabalho quando comparado com o formato tradicional, como também a redução de 90% das não conformidades entre o projeto e aquilo que é implementado.

Acima de tudo, aquilo que nos diferencia da concorrência é o facto de os concorrentes se focarem em partes do ciclo e nós fazermos o ciclo completo, ainda com aplicações complementares que criam este ecossistema com uma solução one fits all. Nenhuma empresa tem a oferta que a Weezie tem: uma ferramenta completa de gestão.

Assumem o papel de querer revolucionar o setor das telecomunicações em todo o mundo. De que forma pretendem fazê-lo?
Nas telecomunicações, é necessário ter um inventário de toda a rede que passa pelas nossas casas. Toda esta gestão, desde o registo do equipamento, o plano dos cabos, a sua planta, a identificação de que casas estão ligadas, entre outros passos que o processo exige, é feito de forma manual.

O processo, na sua forma tradicional, consiste em enviar um técnico ao terreno para fazer o planeamento manual. Posteriormente, já no escritório, este utiliza um software genérico para fazer o desenho de rede e passa a informação recolhida em terreno para analisar em Excel, informação essa posteriormente partilhada por e-mail, drives ou Dropbox. No final, na maioria das vezes, o inventário não é feito de forma correta ou, com o passar do tempo, as informações são perdidas.

Para solucionar o problema, a Weezie criou um ecossistema digital e automatizado, onde todos os intervenientes no processo de implementação e gestão de uma rede de fibra ótica podem trabalhar numa única plataforma, segundo as mesmas bases, com regras pré-definidas e em tempo real, onde quer que estejam. Esta solução permite o controlo absoluto de toda a operação.

Como é que em cinco anos de atividade já conseguem estar presentes em cinco países?
A internacionalização foi um processo natural e espontâneo, pois a ambição da Weezie sempre foi o mercado internacional. Estabelecemo-nos através dos nossos primeiros clientes em França e, posteriormente, tivemos contacto com outros clientes internacionais no Reino Unido, Alemanha, Áustria e Angola, e ainda potenciais parceiros internacionais.

Que estratégia adotaram para a internacionalização? Parcerias?
Para a internacionalização, foi adotada uma estratégia assente em essencialmente dois vetores. O primeiro através de ação direta. A deslocação entre países da Europa é relativamente simples e rápida, portanto em apenas algumas horas conseguimos estar presentes nos países em que atuamos. O segundo através de parcerias locais, nomeadamente revendedores de topo.

“(…) o nosso grande objetivo é ser líderes do mercado mundial e, por isso, os EUA são vistos como um dos mercados mais interessantes para continuarmos a crescer”.

Quais os mercados internacionais mais interessantes para o crescimento da Weezie?
Atualmente, o mercado onde temos uma maior presença é o francês onde contamos com clientes como a TDF – Teledifusion de France, e a Ert – Altice Tecnhical Service. Também o Reino Unido é um mercado com grande relevância para a Weezie, onde contamos com clientes como a Airband e a Gigaloch.

Embora o nosso plano seja continuar a crescer na Europa e a desenvolver o mercado diretamente através de parceiros locais, o nosso grande objetivo é ser líderes do mercado mundial e, por isso, os EUA são vistos como um dos mercados mais interessantes para continuarmos a crescer.

Qual o papel que atribui às start-ups no setor da tecnologia? O que é que a inovação e criatividades destas pode aportar a uma área de negócio tão concorrencial como as telecomunicações?
O ecossistema das start-ups está intimamente ligado à criação de valor. Numa área tão competitiva como a área da tecnologia, o que distingue as empresas é a capacidade de inovação e o profundo know-how dos profissionais da empresa e, nessa vertente, a Weezie combina a experiência de muitos anos na área de negócio das telecomunicações com a juventude da equipa de development. Isto aporta novas formas de conectividade, mais automatizada, mais rápida.

Já foram “assediados” por algum gigante das telecomunicações para uma eventual compra? Interessa-vos essa possibilidade?
Já existiram aproximações por diversos players globais. A empresa encontra-se ainda numa fase de crescimento e consolidação. Contudo é um cenário que não é descartado e poderá ser equacionado nos próximos anos. É um passo natural neste tipo de empresas.

Quais os vossos investidores? Alguma ronda de investimento em perspetiva?
A Weezie fechou em 2019 uma ronda de investimentos de 525 mil euros liderada pela Novabase Capital e Busy Angels. Neste momento, iniciamos uma nova ronda de investimento, série A, e encontramo-nos em conversações com algumas VCs [venture capitalists] internacionais.

“Neste momento, a Weezie tem cerca de 20 funcionários e encontra-se a contratar. A estratégia passa por “duplicar” a equipa durante o próximo ano (…)”.

Qual o plano de crescimento para 2023?
Neste momento, a Weezie tem cerca de 20 funcionários e encontra-se a contratar. A estratégia passa por “duplicar” a equipa durante o próximo ano e recrutar talentos tecnológicos que podem ajudar a crescer a nossa solução em novos mercados. Ambicionamos ser líderes no mercado mundial, por isso estamos concentrados na expansão do nosso software a nível mundial. O Reino Unido é neste momento o principal mercado a explorar, mas também queremos iniciar operações nos EUA entre o final deste ano e o primeiro semestre do próximo.

O mercado nacional “trata” bem as start-ups? É fácil um empreendedor vingar em Portugal?
Numa vertente de clientes, a nossa experiência começou pelo mercado internacional – logo o contacto com o mercado nacional foi inexistente. No entanto, numa perspetiva geral, o mercado nacional ainda olha para as start-ups com alguma desconfiança, embora seja um cenário que tem vindo a mudar ao longo dos anos.

É um desafio constante vingar em Portugal. A enorme burocracia, a fiscalidade e a rigidez do mercado de trabalho, dificultam todo o processo. O mercado nacional está também mais focado em empresas com modelos de negócio mais tradicionais, maduros e consolidados e que mais contribuem para a economia do país.

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