Opinião
Due diligence: as soft skills do CEO
Numa start-up, tal como num navio, o capitão tem um papel crucial. Navegar em águas calmas é simples, mas é durante a tempestade que se põem verdadeiramente à prova a força, a visão e a resiliência do CEO. Ainda assim, em fases críticas de “due diligence”, a avaliação do CEO assenta muitas vezes mais na intuição do que em critérios objetivos — um paradoxo que merece reflexão.
Soft skills: Um fator subestimado
Durante o processo de “due diligence”, os investidores em fases iniciais seguem listas de verificação rigorosas. Analisam com detalhe a tecnologia, os modelos de negócio, os planos financeiros e o mercado. No entanto, quando chega o momento de avaliar o CEO e a sua equipa, a análise assenta frequentemente em meras impressões.
Por exemplo, dúvidas sobre arrogância ou fracas competências de escuta podem levar à rejeição; enquanto resultados pré-clínicos promissores ou um mercado em forte crescimento podem pesar a favor. Mas será este um método eficaz?
Ser CEO de uma start-up inovadora é uma missão exigente, marcada pela pressão de corresponder ao mito do líder “super-humano”. Um CEO deve ser estratega financeiro, visionário, embaixador, diplomata, líder e gestor operacional — tudo ao mesmo tempo. Deve investir dinheiro, tempo e empenho pessoal, sem cair em excesso de compromisso ou esgotamento.
Segundo um estudo da revista Nature, baseado em mais de 20.000 start-ups, os CEO podem agrupar-se em seis tipos de personalidade: Combatentes, Operacionais, Realizadores, Líderes, Engenheiros e Developers.
O impacto do CEO no sucesso da start-up
O estudo da Nature identifica o CEO e a sua equipa como a terceira principal causa de falha numa start-up — a seguir aos problemas de fluxo de caixa e de inadequação produto-mercado. Muitas vezes, nem é preciso recorrer a dados científicos para perceber isso.
Quantas vezes, numa fase de pós-análise, nos apercebemos de que os sinais de um CEO frágil, indeciso, arrogante ou emocionalmente instável já estavam visíveis durante um processo de “due diligence” — mas foram ignorados por serem subtis?
Ou, pelo contrário, quantas vezes a presença carismática de um CEO acaba por ofuscar sinais de alerta? Sem dúvida, os preconceitos cognitivos de cada investidor podem comprometer seriamente a sua capacidade de avaliação.
Reconhecer a Importância das Soft Skills
Na Angels Santé, decidimos tornar explícitas estas perceções, identificar sinais de alerta e sensibilizar os nossos membros para a importância das competências interpessoais dos CEO. Embora a avaliação formal deva ser conduzida por profissionais de RH, é essencial dar visibilidade a estas qualidades humanas para compreender melhor quem liderará os investidores numa viagem tão empolgante quanto incerta.
Qualidades-Chave a Avaliar num CEO
Durante a “due diligence”, considere os seguintes aspetos fundamentais:
- Visão Estratégica e Agilidade: Capacidade de definir uma visão clara e manter o rumo, adaptando-se rapidamente às mudanças.
- Resiliência: Enfrentar desafios sem desmotivar a equipa.
- Construção e Gestão de uma Equipa Complementar: Reconhecer a importância de competências diversas e formar uma equipa equilibrada.
- Delegação e Liderança: Confiar responsabilidades, evitando o microgerir, e inspirar a equipa.
- Partilha de Conhecimento e Cultura Organizacional: Criar uma dinâmica de empresa sólida e partilhada.
- Comunicação Transparente: Construir confiança dentro e fora da organização.
- Gestão Emocional e Prevenção do Excesso de Investimento Pessoal: Lidar com desafios sem sucumbir à pressão, mantendo o equilíbrio.
Um diretor de investimento experiente partilhou recentemente o seu arrependimento em relação a um projeto falhado devido a um CEO difícil:
“Somos financeiros guiados pelos números. Mas perder 20 milhões de euros por causa de um CEO problemático mostra o quão valiosa seria uma avaliação mais abrangente”.
Conclusão: Não Subestime as Soft Skills
As start-ups são, acima de tudo, aventuras humanas. Vale a pena escutar, observar e questionar quem está ao leme. Um bom capitão garante uma viagem mais segura para todos os passageiros — e aumenta significativamente as hipóteses de chegar a bom porto.
*Caroline Saï, diretora da Angels Santé , rede de Business Angels europeia dedicada aos cuidados de saúde, e membro da EBAN
Caroline Sai é a responsável pela Rede de Investidores de Saúde da EIT e pela Angels Santé (Angels4health) & EBAN Board Member. A Rede de Investidores de Saúde do EIT é uma rede europeia de investidores de saúde dedicada a apoiar startups de cuidados de saúde na sua jornada de angariação de fundos. É uma rede gerida pela Angels Santé e cofinanciada pela EIT Health.
Versão em inglês
In a startup, much like on a ship, the captain plays a pivotal role. While navigating calm waters is straightforward, it’s during a storm that the CEO’s strength, vision, and resilience are truly tested. Yet, during critical due diligence phases, evaluating the CEO often relies more on instinct than on objective criteria—a paradox worth pondering.
Soft Skills: An Underestimated Factor
During due diligence, early-stage investors use rigorous checklists. They meticulously analyze technology, business models, financial plans, and market size. But when it comes to evaluating the CEO and their team, the assessment is often based on mere gut feeling.
For instance, doubts about arrogance or poor listening skills might lead to a dismissal; while promising preclinical results or a dreamy hyper-growth market could tip the scales in their favour. But is this approach efficient?
Being the CEO of an innovative startup is demanding, under pressure to live up to the myth of the superhuman leader. A CEO must be a financial strategist, visionary, ambassador, diplomat, leader, and operations expert all rolled into one. They must invest money, time and themselves deeply while avoiding overcommitment or a burn-out.
CEOs are exceptional individuals who can be categorized into six personality types, according to a Nature study of over 20,000 startups: Fighters, Operators, Accomplishers, Leaders, Engineers, and Developers.
The CEO’s Impact on Startup Success
The Nature study identifies the CEO and their team as the third leading cause of startup failure, following cash flow issues and poor product-market fit. Quite often, you don’t need to rely on scientific data to see this!
How many times, in the post-mortem phase, have we realised that the signs of a fragile, indecisive, arrogant, or emotionally unstable CEO were already perceptible during the due diligence phase, but their subtle signals had too often been overlooked ?
Or, on the contrary, a CEO’s charismatic presence can overshadow potential warning signs. Undoubtedly, the cognitive biases of each investor can significantly cloud their assessment.
Acknowledging the Importance of Soft Skills
At Angels Santé, we’ve decided to articulate these perceptions, identify warning signs, and raise awareness, among our members, regarding a CEO’s soft skills. While formal evaluation is best left to HR professionals, shedding light on these critical human qualities is essential for understanding the unique individual who is to lead investors on a journey that is as exciting as it is uncertain.
Key Qualities to Assess in a CEO
During due diligence, consider these fundamental aspects:
- Strategic Vision and Agility: The ability to define a clear vision and stay on course while adapting swiftly to changes.
- Resilience: Facing challenges while maintaining team motivation.
- Building and Managing a Complementary Team: Recognizing the need for diverse skills and forming a balanced team.
- Delegation and Leadership: Distributing responsibilities with trust, avoiding micromanagement, and inspiring the team.
- Knowledge Sharing and Corporate Culture: Establishing a strong and shared company dynamic.
- Transparent Communication: Building trust both internally and externally.
- Emotional Management and Avoiding Overinvestment: Handling challenges without succumbing to pressure and maintaining a healthy balance.
A seasoned investment director recently shared their regret over a failed project due to a difficult CEO:
“We are financiers guided by numbers. But losing €20 million because of a problematic CEO shows how invaluable a more comprehensive evaluation could be.”
Conclusion: Don’t Underestimate Soft Skills
Startups are, above all, human adventures. Let’s take the time to listen to, observe, and question the leaders at the helm. A solid captain ensures a smoother journey for all passengers and significantly increases the chances of arriving safely at port.
A publicação deste artigo insere-se na parceria entre o Link To Leaders e a EBAN, rede europeia de investidores em fases iniciais.









