Opinião

Disrupção tecnológica: surfar a onda ou dormir na praia?

Carlos Sezões, presidente da Plataforma Portugal Agora

Estamos naquela que poderá ser a mais disruptiva década da história da humanidade. A confluência de várias tecnologias (informação, energia, materiais e biotecnologias) irá transformar a vida como a conhecemos. Como aprendemos, colaboramos, criamos e trabalhamos.

Mas também como convivemos e desfrutamos da vida em sociedade. E no mundo das empresas, como desenhamos novos modelos de negócio, mudando processos de trabalho e de conceção de produtos ou serviços.

Na saúde, as ciências da vida estão a gerar soluções que asseguram cada vez maior longevidade e uma qualidade de vida impensável há uma ou duas gerações atrás – através dos avanços da genética e de IA (Inteligência Artificial) nos equipamentos médicos.

Na vida das cidades e na mobilidade diária, tecnologias de IoT (Internet of Things) e 5G vão conectar, através de sensores, todos os equipamentos urbanos, pugnando por novos patamares de segurança, fluidez de trânsito, gestão de resíduos e eficiência energética. As soluções elétricas e (brevemente) autónomas e partilhadas, serão uma proporção cada vez maior do parque automóvel. Esta realidade das “smart cities” vai-se prolongar nas nossas casas, com “smart homes” que nos assegurarão todo o controlo e conforto com que (nunca) sonhámos.

Na alimentação, a produção sintética de alimentos e nutrientes, com texturas e sabores similares à carne, ao peixe, ou aos produtos hortícolas, será uma realidade incontornável, face às exigências demográficas e de sustentabilidade dos ecossistemas. As tecnologias de CRISPR (edição genética) e PF (precision fermentation) garantirão, daqui a uns anos, o início desta revolução alimentar. Por outro lado, a evolução das tecnologias imersivas (realidade aumentada e virtual) mudarão a nossa forma de olhar o mundo, absorver informação e interagir com os outros, seja em contexto de lazer ou profissional.

Na energia, com a maturação das tecnologias de armazenamento, seremos cada vez mais (e simultaneamente), produtores e consumidores, ligados em redes (“smart grids”) mais inteligentes e sustentáveis. E, na produção física, a robótica e a crescente fiabilidade da impressão 3D vai mudar muitos dos processos logísticos de produtos e componentes físicos – com a crescente autonomia e rapidez a beneficiarem o consumidor final.

Poderia continuar por mais uns parágrafos, num contexto de futurismo que já nada tem de ficção científica, apenas levando-nos à pergunta essencial sobre cada uma das disrupções atrás mencionadas: quando acelerará e terá impacto global?

Portugal deve estar consciente desta disrupção incontornável – na qual podemos escolher ser apenas espetadores dormentes ou atores efetivos, surfando a onda. E, escolhendo a segunda opção, aproveitá-la de duas formas: promovendo a literacia tecnológica e digital na sociedade e incentivando investimentos em inovação nestas áreas.

Portugal tem vantagens competitivas (talento, centros de inovação, ecossistema de start-ups, facilidade de adoção tecnológica) que deve aproveitar para estar na linha da frente destas vagas de mudança – e, quando na Europa se fala de uma postura mais afirmativa na investigação e na inovação, perante os EUA e a China, devemos pensar na tecnologia como vantagem competitiva. Que, num país relativamente pequeno, mas que funciona bem em rede, convém ser pensada estrategicamente em termos de políticas, incentivos e recursos (públicos e privados) – nota: o investimento nacional em I&D continua nuns medíocres 1,68% do PIB (2022), longe da meta europeia de 3%.

Em suma, algo que exigirá a cooperação entre todos – Estado, Universidades, Centros de Investigação e Empresas. E com efeitos multiplicadores na nossa capacidade de atrair e reter talento (seduzido por projetos tecnológicos de ponta), de criar riqueza e valor acrescentado e de potenciar um desenvolvimento humano mais sustentável.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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