Opinião

Desenhar o futuro!

Anabela Possidónio, Integral Coach

Recentemente tive a oportunidade de falar com várias pessoas sobre um tema que me apaixona: a educação. Assisti a alguns webinares sobre o tema, assim como tive conversas com a minha filha que, estando no 8.º ano, se começa a questionar sobre o futuro e a área de estudos que deve seguir.

Uma das conversas que me deixou a pensar, tem a ver com o facto de o nosso sistema educativo preparar os alunos para uma coisa muito simples: para que gostem deles! Sim, na verdade e, ao contrário de países como os Estados Unidos em que o empreendedorismo é fomentado desde tenra idade, em Portugal estamos a preparar os alunos para que venham a ser assalariados e, consequentemente, a ser escolhidos!

Paralelamente, se pensarmos na forma como os alunos são avaliados, percebemos também que a escola mantém um sistema de avaliação individualista, com objetivos muito concretos, baseados no benefício próprio. Neste sistema, é deixado de fora a avaliação do aluno como pessoa, incluindo os seus valores, capacidade de interação com os outros e o impacto que o mesmo se propõe a ter no mundo.

Se olharmos para as competências identificadas como críticas pelo World Economic Forum para 2025, os aspectos identificados como importantes são a capacidade crítica na resolução de problemas, criatividade, capacidade de liderança e influência, capacidade de manter uma atitude de aprendizagem para a vida, bem como competências digitais.

Podemos então concluir que estamos perante uma dissonância, entre aquilo que exigimos aos nossos jovens e aquelas que são as competências críticas para o futuro. Acresce que estes mesmos jovens estão sujeitos a uma quantidade enorme de estímulos, factor que os faz sentirem-se ainda mais perdidos.

A verdade é que aos 15 anos têm que tomar decisões importantes, sendo certo que a grande maioria deles não passaram por processos de reflexão que lhes tivessem aberto a porta ao autoconhecimento, permitindo-lhes assim tomar uma decisão consciente. Desta forma, acabam muitas vezes por decidir tendo em consideração a opinião dos amigos ou dos pais, para não os contrariar. Por seu lado, os pais tendem a projetar nos filhos toda a sua carga emocional, algo que se agrava quando os filhos querem seguir caminhos algo diferentes do tradicional.

Curiosamente, este é um tema que tenho acompanhado de perto há alguns anos. Dada a minha ligação à educação, é frequente receber pedidos de amigos no sentido de dar uma ajuda aos filhos, seja quando estão no 9.º ano, seja na passagem para a universidade.

Nas conversas que tenho com estes jovens, é recorrente ouvir que não sabem qual o caminho a seguir nos seus estudos, acabando por partilhar o que é que os pais gostavam que eles fossem ou o que é que os amigos vão fazer.

Nessas conversas, exploro as suas paixões e motivações, o que gostam de fazer fora da escola e que disciplinas lhes interessam mais. Falamos também sobre quem eles são como pessoas, os seus valores, em que situações se sentem felizes, que tipo de situações ou pessoas lhes causa frustração, bem como os seus sonhos.

Invariavelmente partilham comigo temas que nunca tinham partilhado com ninguém. Mas o que é mais impressionante é que muitos deles não tinham parado para pensar sobre si mesmos. Nunca se tinham visto como seres individuais, independentes da família, dos amigos e dos grupos de referência. E o que é mais fascinante é perceber o quanto eles valorizam ter alguém que se predisponha a vê-los como eles são. Sem máscaras, sem pressões.

Com estas conversas o que tento fazer é que eles encontrem as suas respostas. No fundo, ajudo-os a verem aquilo que está lá, mas que eles ainda não conseguiram reconhecer.

A verdade é que muitas vezes as respostas são surpreendentes. E é também verdade que muitas vezes consigo reconhecer o potencial de um empreendedor, que por não estar desperto para o tema, nunca tinha pensado que poderia ser essa a sua opção de vida. Quando não ouvimos os jovens, quando não lhes damos espaço nem condições para refletirem, podemos estar a perder o potencial de alguém que, podendo vir a desenvolver algo único, está a ser treinado apenas para que gostem dele!

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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