Desafios da advocacia num mercado global

A globalização e as novas tecnologias de comunicação vieram derrubar fronteiras e permitir o estabelecimento de relações humanas e comerciais que até há poucos anos pareciam impensáveis.

O que se acaba de dizer aplica-se em variados setores, em que os respetivos serviços podem ser prestados independentemente do local em que os clientes (e os profissionais) se encontrem. Se, por um lado, isso permitiu alargar, de forma significativa, as oportunidades de negócio, por outro, trouxe consigo desafios incontornáveis.

A advocacia, naturalmente, não é exceção neste contexto, pelo que nesta nova forma de prestar serviços, em que se pede aos advogados que sejam capazes de quebrar barreiras físicas e horárias, estes tanto terão de estar disponíveis para participar de uma videoconferência às sete da manhã, para discutir um contrato urgente com um cliente asiático, como para participar de uma chamada de grupo às dez da noite com clientes americanos, para preparação de um julgamento. Em nome de uma prestação de serviços ágil e eficiente, cada vez mais se dilui o tradicional horário de expediente, que é, assim, substituído por um horário flexível, em que os serviços são prestados nos mais diferentes fusos horários, colocando, assim, às empresas e às sociedades de advogados o desafio de adaptar a forma de organização do seu trabalho nessa conformidade.

Não menos importante, os advogados terão de ter especiais capacidades de comunicação para, de uma forma clara e convincente, expor soluções jurídicas – por vezes tecnicamente complexas – a clientes que, além de não terem formação jurídica, desconhecem a realidade do país, o que, desde logo, pressupõe uma proficiência em línguas estrangeiras, em particular na língua inglesa, mas também a sensibilidade para captar diferenças culturais que, uma vez perdidas na tradução, poderiam conduzir a falhas de comunicação e, consequentemente, a resultados indesejados.

Induzida por esta era global, assistimos, tanto na advocacia como na prestação de serviços em geral, a uma mudança de paradigma do perfil dos profissionais, em que o conhecimento de línguas e as soft skills assumem um fator preponderante e diferenciador, com reflexos nos processos de recrutamento, com as empresas e as sociedades de advogados a cada vez mais privilegiar a contratação de profissionais dotados de valências que vão para além do conhecimento técnico e da capacidade analítica, por forma a poder dar resposta às necessidades de um mercado que, sendo global, é também cada vez mais concorrencial e competitivo.

Gonçalo Tavares Gomes exerce a sua atividade profissional nas áreas do Direito Comercial e Societário e Direito Imobiliário. Advogado Associado do Departamento de Comercial e Societário da Pinto Ribeiro Advogados, tem uma vasta experiência na assessoria de clientes empresariais, com especial enfoque em aquisições societárias e imobiliárias, possuindo ainda experiência relevante nas áreas de Direito Civil e Contencioso Civil, Direito do Trabalho e Investimento Estrangeiro.