Entrevista/ “Delegar as funções certas nas pessoas certas é a tarefa mais importante para que realmente seja empreendedora”

Karina Leite, fundadora e CEO do Instituto Karina Leite

“Acreditar no nosso potencial é condição sine qua nom para que se consiga algum resultado”, afirma Karina Leite, médica dentista e empreendedora, que deixou o Brasil para morar em Portugal, onde abriu um Instituto de medicina dentária com o seu nome.

A brasileira Karina Leite, médica dentista há cerca de 25 anos, instalou-se em Portugal, concretamente em Oeiras, por opção familiar e aproveitou para abrir na cidade o seu Instituto Karina Leite, à semelhança do que possui no Brasil há vários anos. Segue um conceito de medicina dentária inovador, que recorre a tecnologia digital avançada permitindo disponibilizar tratamentos mais eficazes e rápidos aos clientes.

Em entrevista ao Link To Leaders, partilhou a sua experiência como empreendedora e a estratégia que adota para conseguir conjugar os dois mundos, sem prejuízo para nenhum deles.

Como nasceu o seu projeto de clínicas? É a única fundadora?
Temos a primeira unidade que é a clínica do Brasil que já tem 25 anos e agora estamos na segunda unidade em Oeiras, Portugal.

No início de 2022 trocou o Brasil por Portugal, onde decidiu instalar o Instituto Karina Leite. O que a motivou a fazer esta mudança? O que a atraiu?
Não foi uma troca. Na verdade, adicionei Portugal porque hoje dou consultas no Brasil e em Portugal. Apenas a minha morada fixa é em Portugal. Essa mudança aconteceu porque o meu marido é português e durante a pandemia ele decidiu que não queria mais ficar no Brasil. Queria fazer a sua vida em Portugal e, entre a família e profissão, decidi pela família e aqui estamos nós. E também foi uma decisão de família criar a segunda unidade do Instituto em Portugal, mais precisamente em Oeiras. Assim, tenho o Instituto Karina Leite em Portugal e o Instituto no Brasil, que fica em Maceió.

Então, não foi bem o mercado português que me atraiu, mas sim um momento em família em que foi decidido  vir morar para cá. E assim surgiu a necessidade de eu trabalhar aqui e de criar o instituto, com todo o know how, com toda a experiência que já tenho dos meus 25 anos de atividade. E para que também possa fazer parte da comunidade portuguesa e passar a receber os clientes portugueses.

“Mas o mais importante: além do sistema de inovação e tecnologia, é a nossa experiência clínica, são as pessoas”.

Apresenta as suas clínicas de odontologia com tendo um conceito inovador. Em que consiste a sua abordagem e como se distingue da restante oferta do mercado?
Coloquei na clínica um sistema totalmente tecnológico e inovador. É odontologia tecnológica avançada, porque já venho com essa experiência do Brasil e não podia regredir. É a mesma coisa que sair de um carro mecânico para um automático… depois de uma década já não consegue voltar. Uma mente evoluída jamais volta ao seu tamanho original. Então, eu tinha de dar continuidade a este projeto que começou há 10 anos no Brasil.

Fui uma das primeiras dentistas digitais do Brasil. E foi só continuar. Temos aqui toda a comunidade europeia, estamos próximo da Alemanha que é muito avançada na tecnologia em medicina, o que também facilita no sentido de conseguirmos ter esses aparelhos. Na verdade, este ciclo inovador já vem há muitos anos e eu só acrescentei com máquinas de última geração. Mas o mais importante: além do sistema de inovação e tecnologia, é a nossa experiência clínica, são as pessoas. E isto faz toda a diferencia na clínica. Fez no Brasil e tenho a certeza que está a fazer também aqui em Portugal.

De que forma a tecnologia tem vindo a revolucionar o seu setor de atividade?
A tecnologia é como um todo e o mundo está em evolução. Todas as áreas, não só a medicina, mas também a engenharia, a educação…. Todo o tipo de tecnologia para dar sustentabilidade. Hoje a tecnologia auxilia a medicina dentária, na sustentabilidade, na rapidez dos procedimentos, na necessidade de menos tratamento para o paciente, menos visitas ao dentista, ou seja, na resolução de problemas no menor tempo possível, com alta qualidade. Isso resume-se à odontologia hoje, transformando-se em odontologia digital.

O mercado brasileiro é muito diferente do português?
Hoje, o mundo está globalizado. As redes sociais, a Internet, o Google… vieram para unificar e todas as pessoas têm acesso a informação. Então, a mesma informação que tenho no Brasil, tenho em Portugal, como nos Estados Unidos. As diferenças são culturais. Por exemplo, o brasileiro cultiva o corpo, a imagem, os dentes. Para ele, a saúde oral e a saúde corporal estão em primeiro lugar. Ele quer estar magro, quer estar jovem e ter um sorriso branco e perfeito. Isto é uma característica do mercado, do cliente, da pessoa, da cultura brasileira.

A cultura portuguesa já é um pouco diferente. Muitas vezes o paciente tem condições, mas não tem o desejo, a necessidade de ter um sorriso branco, um sorriso perfeito, de ter todos os dentes na boca. Então, para mim, é uma caraterística cultural e, nesse sentido, o Brasil está muito avançado. As pessoas têm uma exigência estética muito maior comparativamente a Portugal.

Portugal é a muitas vezes a porta de entrada para outros mercados europeus. Quais os que estão na sua lista de prioridades?
Ainda não pensei nisso. O meu pensamento hoje é estabilizar, ou seja, sedimentar bem o instituto em Portugal. Ser realmente uma referência na odontologia digital, na odontologia avançada, em todas as áreas. Estou a cuidar disso com todo o carinho. É um “bebé” que está a nascer e depois é preciso que tenha sustentabilidade, nome e que esteja bem solidificado em Portugal, para, quem sabe, ir para outros mercados. Mas ainda não pensei em qual.

“Quando se faz uma empresa, ela não anda sozinha. Quem anda são as pessoas”.

Tem sido fácil conjugar a sua vertente de médica dentista com a de empreendedora?
Não, não é fácil. A médica tem de estar focada no paciente, nos seus desejos, na qualidade do trabalho que vai entregar ao cliente. Tem de estar focada na saúde, na anestesia, se o paciente está nervoso, etc, etc … ou seja, está-se em tensão a todo o momento e com a atenção toda voltada para o paciente.

No lado de empreendedorismo, tenho de ver o lado do atendimento da clínica, os funcionários, os colegas dentistas que comigo trabalham… tudo ao meu redor. Mas com toda a minha experiência no Brasil, o que fazemos é tentar delegar funções nas pessoas certas.

Quando se faz uma empresa, ela não anda sozinha. Quem anda são as pessoas. Quem faz a empresa são as pessoas. Então, para mim, delegar as funções certas nas pessoas certas é a tarefa mais importante para que realmente seja empreendedora e não deixe de ser a médica dentista. Para que consiga conciliar estes dois lados.

Enquanto mulher, e pela sua própria experiência, como olha para o papel empreendedor das mulheres e para o impacto da liderança feminina nas empresas?
Acho que o sexto sentido feminino faz muito bem para o tino empreendedor da mulher porque ela não olha só para o lado do empreendedorismo prático nem racional do homem. Ela também tem o lado da compaixão e da sensibilidade… essa sensibilidade feminina para conseguirmos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, estar na consulta, mas pensar em que está à espera na recepção, pensar na medicação, no doente que já foi embora, mas a quem temos de telefonar no dia seguinte para saber se está tudo bem. Esse lado da sensibilidade da mulher, do ser mãe, faz toda a diferença com certeza.

Nos dias de hoje, que caraterísticas considera essenciais para que uma mulher consiga equilibrar o lado profissional e familiar?
É muito difícil, porque nós como mulheres estamos sempre a culparmo-nos. Se dedicarmos muito tempo à família, culpamo-nos porque estamos a deixar o lado profissional. E se ficamos no lado profissional, deixando de lado a família, os filhos, então a mulher vive sempre a culpar-se. E esse equilíbrio é muito importante, embora eu tenha a certeza de que nem todas consigam.

É muito difícil para nós conseguirmos conciliar os dois lados. Mas penso sempre o seguinte: Vou ser sempre um exemplo para os meus filhos, então tento conciliar esse lado familiar – sendo o exemplo de princípios, de disciplina, de trabalho, de força… – , mas não deixo também o lado amoroso ser esquecido. Sou muito amorosa quando estou com eles. Dessa forma consigo lidar com estes dois lados e ensiná-los também a serem alguém, a terem uma profissão e a seguirem a sua vida. Os filhos são para o mundo, mas desde que eles saibam que o mundo deles somos nós e que quando quiserem voltar para os pais vão ter o lugar deles. Esse equilíbrio é de extrema importância.

“Acreditar no nosso potencial é condição sine qua nom para que se consiga algum resultado”.

Que conselhos dá às jovens médicas dentistas, com ideias inovadoras e que queiram marcar a diferença nesta área de atividade?
Muita disciplina e muito foco porque às vezes são tantas coisas em que nos envolvemos que desfocamos. Acho que temos de ter foco, seguir e acreditar. Acreditar no nosso potencial é condição sine qua nom para que se consiga algum resultado. Mesmo que não se consiga o resultado esperado, só o levantar-se da cadeira e fazer isso já é uma grande vitória. Muitos nem da cadeira se levantam porque não acreditam em si. Então, ao acreditar em si, ao seguir o seu propósito mesmo que não chegue ao final, só por fazer esse caminho já é um vencedor. Essa é a questão principal para que se consiga um resultado na sua vida.

Enquanto CEO do Instituto, o que ambiciona concretizar este ano?
Quero fixar a equipa de Portugal, os médicos dentistas, a equipa de funcionários e colaboradores que realmente têm no sangue o protocolo da clínica, o perfil da clinica, o propósito. E para que realmente consigamos crescer como referência, como equipa, como empresa, e que sirva de exemplo para outros que possam vir a seguir o sistema e o protocolo do Instituto Karina Leite Portugal.

Respostas rápidas:
O maior risco: Não tentar, não acreditar em si.
O maior erro: Não fazer nada. Tem de fazer algo, mesmo que erre. Tem de seguir o seu propósito.
A maior lição:  Aprender com os seus erros. Acredito que aprendemos mais com os erros do que com os acertos.
A maior conquista: Ter acreditado em si, ter seguido o caminho e ver o seu resultado. Ver o resultado da sua própria conquista é o maior sucesso.

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