Entrevista/ “O crowdpublishing é usado por autores independentes e editoras de nicho”

Alexandre Coutinho, cofundador da editora Contra a Corrente

Alexandre Coutinho, cofundador da editora Contra a Corrente, está a escrever um livro sobre a história do Land Rover em Portugal. A obra será lançada no início de março e, apesar de não estar totalmente financiada, conta já com o apoio de leitores através do crowdfunding e de patrocínios de empresas.

Beirão por convicção e passado familiar, Alexandre Coutinho nasceu em 1960, em Lisboa. Rumou para as ex-colónias portuguesas desde tenra idade, regressando em 1975 a Sintra, onde vive desde então.  É jornalista, autor e um dos cofundadores da editora Contra A Corrente, que começou a publicar livros em 2011 e que lançou um modelo de crowdpublishing pioneiro em Portugal.

Ao Link To Leaders, Alexandre Coutinho fala do livro que está a escrever sobre a história do Land Rover em Portugal, que deverá chegar ao mercado em março deste ano e que irá juntar-se ao seu reportório que conta já um “best seller”: o “TAP Air Portugal” que Alexandre escreveu em 2013 com a jornalista Alda Rocha. E explica como a tendência do crowdfunding deu um novo fôlego ao mercado literário, influenciando o aparecimento de novos autores e de clássicos nunca antes publicados em Portugal.

É cofundador da editora Contra a Corrente, a primeira em Portugal com um modelo de crowdpublishing. O que os levou a criar a editora e este modelo?
Em 2010, cerca de um ano antes da criação da Contra a Corrente, estive envolvido na edição de um livro de autor que não encontrava uma editora interessada em publicá-lo… Ocorreu-nos então dirigirmo-nos diretamente aos leitores, às empresas e às instituições que financiaram o livro, tendo como contrapartida a colocação dos seus nomes, logotipos e marcas na contracapa e o valor do patrocínio convertido em exemplares do livro. O sucesso deste modelo seria replicado a partir de 2011, em mais de uma dezena de edições lançadas até à data.

Funciona o crowdpublishing em Portugal? Quais as áreas que mais recorrem a esta forma de publicação?
Criado nos Estados Unidos, o crowdpublishing chegou recentemente à Europa, onde é mais usado por autores independentes e por editoras de nicho, especializadas em livros de grande qualidade e de tiragens limitadas. Com o apoio de uma plataforma de crowdfunding – por exemplo, o PPL –, é possível apresentar um projeto a uma vasta comunidade de potenciais leitores interessados em adquirir o livro a um preço mais vantajoso, contribuindo com montantes que podem variar entre €1 e €200, por exemplo, e recebendo em troca as mais diversas recompensas: livros numerados com assinatura dos autores; convites para as sessões de lançamento; conversas com os autores; e, claro, uma menção na página dos agradecimentos. Poesia, contos para crianças, livros sobre causas sociais e ambientais e livros de história são os que mais recorrem ao crowdpublishing.

Qual o best-seller nestes anos de existência?
Sem dúvida, o grande livro sobre a história da TAP – “TAP Air Portugal”, que escrevi em 2013, em coautoria com a jornalista Alda Rocha e o fotógrafo André Garcez. Já esgotou duas edições e estamos a estudar o lançamento da terceira.

E quais os maiores desafios com que se depararam enquanto empreendedores?
Escassez de financiamento no mercado para obras independentes, a par de uma rede deficiente de distribuição e de um circuito obsoleto de livrarias. Por isso, mais de dois terços dos livros editados pela Contra a Corrente são comercializados diretamente aos leitores e enviados por correio, à cobrança.

Está a escrever um livro sobre a história do Land Rover em Portugal, produzido em contínuo durante 68 anos. O que o levou a escrever sobre este caso específico? Há mercado em Portugal para ele?
Sendo eu próprio um entusiasta da marca e proprietário de um Land Rover, não podia deixar de homenagear este extraordinário veículo 4X4, sob a forma de um livro, o primeiro sobre a sua história em Portugal, de 1948 aos nossos dias. Naturalmente, é um mercado de nicho, mas que conta com muitos proprietários de Land Rover e apaixonados pela marca e por automóveis clássicos em geral. O livro poderá ter igualmente interesse no estrangeiro, pela raridade dos modelos fotografados.

A Jaguar e a Land Rover estiveram à beira da falência e de fechar as portas, o que não aconteceu devido ao Grupo Tata, por iniciativa de Ratan Tata, que assegurou as duas marcas, hoje com grande sucesso. O que levou à falência e o que está na base do volte-face que conseguiram até ao sucesso atual?
À imagem de outras grandes marcas de automóveis britânicas, a Jaguar, a Rover e a Land Rover entraram numa espiral decrescente após a sua integração na British Leyland, conglomerado que acabaria por entrar em insolvência. A Land Rover seria vendida, primeiro à BMW e depois à Ford, onde se viria juntar à Jaguar, acabando as duas marcas por ser adquiridas pelo Grupo Tata, em 2008. Apostada em revitalizar as marcas, orientando-as para os segmentos mais lucrativos dos automóveis premium e de luxo, a Tata Motors começou por fazer investimentos consideráveis na fábrica de Solihull, em Inglaterra (cerca de 1500 milhões de libras), que dotaram as linhas de montagem com os equipamentos e robots mais sofisticados da indústria automóvel atual. Isto permitiu grandes economias de escala e uma diversificação ímpar na gama de modelos, de que resultou uma duplicação das vendas em poucos anos.

Como jornalista e escritor, como vê o panorama nacional em termos de condições e de apoio ao empreendedorismo?
Embora rodeados por muitos anúncios de programas de apoio ao investimento (QREN, Portugal 2020, fundos comunitários), a realidade com que se deparam os empreendedores nacionais é de uma enorme complexidade burocrática, tornando inevitável o recurso a fundos de tesouraria para superar os atrasos do Estado (com os inerentes encargos financeiros) e crédito a um custo inacessível por parte das instituições de crédito. As melhores soluções de financiamento passam pela mobilização de investidores diretos, business angels, crowdfunding (financiamento colaborativo) ou fundos privados de incubadoras ou de universidades, para o lançamento de start-ups.

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