Opinião
COP-29: Decisões cruciais e um caminho para a ação climática global
Na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-29), realizada em Baku, Azerbaijão, a dificuldade e a complexidade das negociações climáticas globais estiveram em destaque.
Ao longo dos dias em que a Conferência das Partes decorreu, o debate centrou-se em quatro dimensões: a negociação sobre os moldes de um financiamento climático eficaz, com pedidos de 1,3 biliões de dólares anuais para apoiar países em desenvolvimento; a urgência de acelerar a transição energética, uma mudança que enfrenta maior resistência por parte de economias dependentes de combustíveis fósseis; a inclusão de vozes vulneráveis, como as de comunidades indígenas, nas decisões climáticas; e o alerta científico sobre o limite de 1,5°C de aumento da temperatura global, reforçando a necessidade de ações imediatas para mitigar os impactos das alterações climáticas.
Desafios do financiamento climático: colmatar a lacuna
O financiamento climático continua a ser um desafio crítico na resposta à ambição climática de limitar o aumento da temperatura em 1,5°C, como foi amplamente salientado na Conferência. Apesar dos compromissos das nações desenvolvidas em duplicar o financiamento para adaptação até 2025, a lacuna entre os fundos comprometidos e os necessários continua a ser significativa. Da mesma forma, o recém-criado Fundo para Resposta a Perdas e Danos recebeu 700 milhões de dólares, um valor que fica muito aquém dos 580 mil milhões de dólares estimados como necessários para responder aos danos provocados pelas alterações climáticas até 2030.
Por outro lado, a acessibilidade aos fundos continua a ser um obstáculo, uma vez que os processos burocráticos e as restrições de capacidade nas nações em desenvolvimento dificultam uma distribuição atempada e equitativa dos recursos. Estes desafios agravam as desigualdades globais, levando muitos países vulneráveis a exigir maior responsabilização e contribuições por parte dos emissores historicamente elevados. O reforço da colaboração internacional e a simplificação do acesso aos fundos para os países em desenvolvimento foram, assim, identificados como prioridades para garantir uma ação climática atempada e eficaz.
O papel do financiamento privado esteve igualmente em destaque. Os fundos públicos, por si só, não serão suficientes para responder ao nível de investimento necessário, sendo a mobilização de capital do setor privado absolutamente crucial. A necessidade de mecanismos financeiros inovadores, como as obrigações verdes e os mercados de carbono, juntamente com medidas para reduzir o risco dos investimentos e garantir a transparência do sistema, foi considerada essencial.
Sem progressos significativos nestas frentes, o alcance da meta de 1,5°C e das metas de resiliência global permanece incerto.
No Grace – Empresas Responsáveis, temos vindo a trabalhar na sensibilização do tecido empresarial para a urgência da ação climática, criando e disponibilizando ferramentas que permitam, de forma mais assertiva, a construção de um roadmap de ação climática ajustado à realidade e ao contexto das empresas. Apenas com um esforço concertado de todas as partes será possível reverter as tendências atuais e garantir um futuro sustentável para todos.
*Isabel Barros, em representação da Sonae SGPS