Opinião

Quando a IA encontra a IE: o date perfeito

Catarina Correia, Head of Marketing & Communication na Cegoc

A Inteligência Artificial (IA) vai substituir a humana? A Inteligência Emocional (IE) passará para segundo plano perante a emergência da IA?

Estes medos… perdão, perguntas, são frequentes nos últimos tempos. A dicotomia surge como resposta instintiva da sociedade à cavalgada poderosa da IA.

É compreensível? Claro que sim.
Corresponde à realidade? Não, bem pelo contrário.

Afastem-se os fantasmas, até porque, na verdade, estes dois tipos de inteligência não são recentes (apesar do reconhecimento formal tardio), portanto, convivem há décadas. A Inteligência Artificial – definida como tecnologia que, através de algoritmos e programas, replica a inteligência humana para conseguir executar algumas tarefas complexas e/ou rotineiras – nasceu na segunda metade do século passado (por exemplo, a linguagem de programação Lisp foi criada em 1958).

Já a Inteligência Emocional – capacidade que nos permite reconhecer e gerir os nossos próprios sentimentos, os dos outros e conseguir de forma eficaz gerir as relações – começou a ser assim designada nos anos 90, em especial após a publicação do livro com o mesmo nome, do psicólogo Daniel Goleman.

Na sua obra, Goleman identifica cinco grandes áreas do modelo de IE: conhecer as próprias emoções; gerir as emoções, automotivar-se, reconhecer as emoções nos outros e gerir relacionamentos. Em todas elas não parece ser possível que a máquina possa fazer o papel do humano, apesar de todo o esforço da ciência.

A automatização de tarefas trazida pela IA permite indiscutíveis ganhos de eficácia nos processos de trabalho a que se podem aplicar: imunidade ao erro e maior rapidez. Porém, escapa-lhe toda a riqueza cognitiva e comportamental que um cérebro pode gerar em cada momento: interpretar e compreender as situações e os seus interlocutores, adaptar-se às circunstâncias e, tão importante, gerar empatia. No fundo, a IA está desprovida das soft skills que caracterizam a IE e que, tantas vezes, são determinantes para uma interação humana bem-sucedida.

Para se perceber a sua importância, refiro que desde 2016 o Fórum Económico Mundial incluiu sempre no seu relatório anual “The Future of Jobs” a Inteligência Emocional (no seu conjunto ou em algumas das suas vertentes) nas 10 competências mais valorizadas no mercado de trabalho.

IE e IA são incompatíveis?
Não. De maneira alguma. A cooperação entre ambas, inclusive, já é uma realidade. O melhor da automação e o da capacidade de percecionar o momento cruzam-se, sempre com o objetivo de potenciar a performance.

Um dos grandes desafios assumidos pelos “arquitetos” de IA é, justamente, conseguir “importar” alguma IE para a programação das suas máquinas. O investimento para que tal seja uma realidade tem sido avultado. Um pequeno exemplo desse esforço é a criação de assistentes virtuais mais sensíveis à informação recebida pelos utilizadores destes serviços, com um nível mais sofisticado de interpretação dos inputs recebidos.

A aposta é cada vez maior em dotar a IA de atributos humanos, em particular aqueles que estão relacionados com a Inteligência Emocional. A réplica dessas qualidades quer chegar mesmo à capacidade de modelizar os comportamentos não verbais dos interlocutores da IA. Por outro lado, a IA consegue ser um ótimo instrumento de suporte à aplicação prática das várias competências da IE. As recolha e análise de dados podem ser estendidas a campos de informação (por exemplo, as redes sociais) que privilegiem variáveis de natureza emocional e que sejam úteis à tomada de decisão. A angariação “científica” de dados de índole subjetiva é um auxílio valioso ao exercício das competências emocionais, que, por essência, valoriza a compreensão e a criação de empatia com os seus destinatários.

O empoderamento de cada profissional e organização, em função das sinergias criadas entre ambas as “inteligências” é, assim, a consequência natural desta simbiose, ao invés da temida dicotomia ou do fantasma do “Homem substituído pela máquina”.

Inteligência Artificial e Inteligência Emocional não funcionam, afinal, em regime de exclusão ou competição. Formam, antes, o par deste encontro perfeito.


Com mais de 13 anos de experiência na área de Marketing e Comunicação, Catarina Correia é uma entusiasta do marketing digital, com uma paixão especial por geração de leads e análise de resultados. Licenciada em Design de Equipamento pela Universidade de Lisboa e pós-graduada em Marketing Management, no IPAM, atualmente, é Head of Marketing & Communication na Cegoc. Dedica-se a criar estratégias que não só elevam a marca, mas também enriqueçam as experiências de aprendizagem. No centro do seu trabalho está a vontade de conectar, educar e inspirar através de estratégias de marketing bem pensadas e comunicação autêntica. Acredita firmemente que o marketing eficaz pode, e deve, servir como um catalisador para a aprendizagem contínua e desenvolvimento pessoal e profissional. Em cada projeto que abraça, procura inovar e trazer novas perspetivas que possam não apenas atingir os objetivos de marketing, mas também enriquecer o setor de L&D com insights frescos e relevantes. Este é o desafio que a mantém motivada e em constante procura por novas aprendizagens e melhores práticas na interseção entre Marketing, Comunicação e Formação.

 

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