Opinião

Contrate equipas, não pessoas!

Anabela Possidónio, Integral Coach

Ao longo da minha carreira tive a oportunidade de trabalhar com várias pessoas e integrar várias equipas. De entre as várias experiências, apercebi-me que não eram necessariamente as equipas com membros de elevado potencial que apresentavam os melhores resultados. Concluí também que existiam equipas que, independentemente do desafio que lhes era colocado, apresentavam sempre bons resultados.

“Teamwork is the ability to work together toward a common vision. The ability to direct inividual accomplishments toward organizational objectives. It is the fuel that allows common people to attain uncommon results.” – Andrew Carnegie

Na mesma linha, segundo um estudo realizado pela Google, equipas de elevado rendimento têm um traço em comum: segurança psicológica. Em termos muito simplistas os membros destas equipas sentem que podem arriscar e que não serão julgados. São equipas em que a criatividade e a capacidade de iniciativa são valorizadas e em que cada um se sente como parte do todo.

Finalmente, se a todos estes factos juntarmos o processo de constituição de uma equipa, será de salientar que até que uma equipa se forme existem várias fases, sendo que não é expetável que o potencial da equipa seja atingido desde o primeiro momento. Das 5 fases, a storming phase é a mais complicada e desafiante. Esta é a fase em que surgem os conflitos, em que se podem formar sub-grupos e em que a concorrência entre personalidades pode emergir. Caso as diferenças não se consigam colmatar, isso pode ditar o insucesso de uma equipa. Pelo contrário, se por possível atenuar as diferenças e a equipa se conseguir unir à volta de um objetivo comum, a probabilidade de se tornar uma equipa de elevado rendimento é muito elevada.

Em contexto empresarial a capacidade de tornar grupos de pessoas em equipas, continua a ser um dos maiores desafios de gestão e ao qual se dedica muito tempo e atenção. Contudo, no seu processo de recrutamento as empresas continuam a basear-se na fórmula da procura de talento individual. Será que não está na hora de olharem para o recrutamento segundo uma nova perspetiva?

Como poderão reconhecer equipas de elevado rendimento?

Remetendo-me à minha experiência posso referir que integrei equipas em diferentes fases, tendo tido também o privilégio de liderar equipas na fase de performance. Para lá do que diz a teoria, gostaria de salientar algumas das caraterísticas destas equipas:

  • Elevado sentido ético
  • Definição de um propósito
  • Respeito pela diversidade de pensamento / concordar em discordar
  • Reconhecer os pontos fortes dos membros da equipa e ter a capacidade de pedir ajuda quando alguém pode fazer melhor
  • Os interesses da equipa estão acima de interesses individuais
  • Criar um ambiente em que as pessoas não se sentem julgadas
  • Generosidade e partilha de tempo e conhecimento
  • Não hesitar em defender um colega
  • Celebrar as pequenas vitórias

De entre estas equipas algumas delas prosperaram e tiveram sucesso durante vários anos. Outras houve que acabaram por se dissolver, seja porque o objetivo para o qual se juntaram deixou de existir, seja porque se perdeu o sentido de propósito.

Tenho contudo a forte convicção que, se a estas equipas tivesse sido apresentado um novo desafio, mesmo que fosse numa área completamente diferente, elas teriam sucesso. A partilha de valores, a confiança nos membros e a vontade de atingir resultados, seriam o combustível que as faria prosperar. Acredito também que, se estas equipas tivessem a oportunidade de voltar a trabalhar juntas mesmo passados alguns anos, grande parte delas não hesitaria em voltar a juntar-se, desde que o projeto lhes fizesse sentido.

Neste contexto, acredito que um dos objetivos das empresas deverá passar por identificar equipas que estão em fase de dissolução por falta de propósito ou objetivo, e apresentar-lhes um novo desafio.

Apesar do risco ser grande, o prémio pode ser enorme! No mundo atual, em que a capacidade de atrair e reter talento é cada vez mais desafiante, serão as empresas que conseguirem ser mais disruptivas e inovadoras no seu processo de recrutamento que terão mais sucesso… E contratar equipas e não pessoas é sem dúvida uma mudança de paradigma!

“Coming together is a beginning. Keeping together is progress. Working together is success.”Henry Ford

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Anabela Possidónio

Anabela Possidónio

Anabela Possidónio é fundadora e diretora-geral da Shape Your Future, que tem como missão ajudar jovens e adultos a tomarem as melhores decisões académicas e profissionais. Assume também o cargo de diretora-geral da Operação Nariz Vermelho. Tem uma vasta carreira corporativa de mais de 25 anos, onde assumiu posições de liderança em diversos setores (Saúde - CUF; Educação - The Lisbon MBA; Retalho - Jerónimo Martins e Energia - BP), em diferentes países (Inglaterra, México, Espanha e Portugal) e empresas... Ler Mais..

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