Opinião

Como a IA de hoje se tornará obsoleta amanhã

Sérgio Viana, Managing Partner – Customer Experience na Xpand IT

Nos últimos dois anos, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser apenas um avanço tecnológico para se tornar um motor central da transformação digital global. No entanto, os últimos três meses mostraram algo ainda mais impressionante: o ritmo de evolução da IA não está apenas a acelerar  – está a redefinir setores inteiros e a reescrever regras económicas e políticas.

De novos modelos revolucionários a mudanças regulatórias e impactos geopolíticos, houve um pouco de tudo nestes últimos 3 meses.

  1. DeepSeek

Em janeiro de 2025, a startup chinesa DeepSeek ganhou notoriedade ao lançar um modelo de IA avançado com performance semelhante ao o1 da Open AI, mas com custos muito inferiores em termos de treino e de utilização. Apesar de algumas teorias que questionavam a forma como o modelo foi criado, o facto é que a situação abalou gigantes do setor, como a Nvidia e a OpenAI, e demonstrou que a China está a competir seriamente na corrida global pela supremacia em IA, sendo este um desígnio nacional. O impacto foi sentido no mercado de ações, com a Nvidia a perder biliões em valor de mercado em poucos dias.

  1. OpenAI e uma nova geração de modelos

A OpenAI não ficou para trás e teve de se voltar a afirmar. O anúncio do GPT-4.5 e o lançamento dos novos o3 trouxe avanços significativos, com melhor eficiência energética e um custo menor de inferência. Além disso, tudo indica que a empresa poderá lançar em breve um assistente pessoal, que poderia competir diretamente com a Siri e o Google Assistant, elevando o patamar da IA integrada no dia a dia. Como alguém que utiliza vários dispositivos em casa com os quais interajo por voz, estou ansioso por neles ver reflectido estes avanços – já me parecem demasiado ultrapassados!

  1. Regulação: União Europeia e Trump em direcções opostas – e a China.

A regulação da IA também mudou drasticamente. A União Europeia intensificou o controlo sobre modelos avançados com a implementação do AI Act, exigindo maior transparência e testes de segurança. Enquanto isso, nos EUA, o regresso de Donald Trump à presidência já começou a influenciar a abordagem regulatória, com um novo decreto que elimina algumas restrições impostas durante a administração Biden. Isto poderá impulsionar o desenvolvimento da IA nos EUA, mas também levanta preocupações sobre uso não regulamentado e enviesamentos dos algoritmos. Novamente, é importante não esquecer a China, que neste momento está na segunda fase do seu plano de obter a liderança mundial de AI até 2030 – e o Deepseek foi apenas uma demonstração do que está, potencialmente, para vir.

  1. O papel do Le Chat da Mistral no crescente ecossistema de IA

Um dos avanços mais recentes e notáveis no panorama da IA foi o lançamento do Le Chat da Mistral, uma app semelhante ao ChatGPT que permite a utilização do modelo Mistral Large 2. Este modelo promete ser uma alternativa viável a grandes players como a OpenAI e DeepSeek. Resultado da parceria da Mistral com a norte-americana Cerebras Systems, este sistema foca-se em fornecer uma abordagem mais aberta e acessível ao uso da IA destacando-se pelo desempenho robusto que o torna no assistente de IA mais rápido a responder, atualmente – pode chegar às 1000 palavras por segundo. O crescimento da Mistral reforça a ideia de que o mercado de IA está a diversificar-se rapidamente, reduzindo a dependência de um pequeno número de empresas dominantes. E é uma demonstração séria do que pode ser feito pela Europa, não tendo sido por acaso que foi anunciado durante o AI Action Summit em Paris.

  1. O impacto da IA no mercado de trabalho e na economia

O ritmo acelerado de inovação está a gerar transformações profundas no mercado de trabalho. Relatórios recentes mostram que sectores como desenvolvimento de software, marketing e atendimento ao cliente estão a adotar IA em larga escala, resultando em maior produtividade, mas também em cortes de postos de trabalho. Empresas como Microsoft, Google e start-ups emergentes estão a reconfigurar as suas equipas para um mundo onde a IA complementa (ou substitui) diversas funções humanas. Várias das minhas equipas tiram partido, diariamente, da tecnologia em algumas das duas tarefas – isto permite perceber o impacto real da tecnologia na produtividade e o que realmente pode ser substituído (ou não) por tecnologia – para já.

Conclusão: o que os próximos meses reservam?

Se os últimos três meses pode dar alguma indicação, é de que o ritmo da evolução da IA continuará a acelerar de forma imprevisível. Modelos mais poderosos, regulações em conflito e novas aplicações empresariais continuarão a moldar o cenário tecnológico. A grande questão já não é “o que a IA pode fazer?”, mas “como vai a nossa sociedade lidar com esta velocidade de transformação?”. E cada um de nós?

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Sérgio Viana

Sérgio Viana

Sérgio Viana é Partner e Managing Director da área de Customer Experience na Xpand IT, onde lidera a definição estratégica e a oferta de uma unidade especializada em criar experiências digitais inovadoras de base tecnológica. A sua equipa atua em áreas como User Experience, Customer-Facing Apps, Core Services e Business Process Transformation, e hoje em dia com um foco especial na área da Inteligência Artificial e das arquiteturas multiagente. É apaixonado pelo desenvolvimento pessoal e melhoria contínua, em particular em temas... Ler Mais..

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