Opinião

Colégio de São João de Brito: o “Educar para servir” como princípio da liderança servidora

José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education

Dia 8 de dezembro foi o dia do antigo aluno do Colégio de São João de Brito. Dia 8, depois de algum debate interno, voltei ao Colégio e fui à missa das 19h (missa do CUPAV).

Na missa, meio desatento, ouvi duas daquelas verdades que de tão simples são sempre universais: a ideia de que a liberdade que Deus nos dá para seguirmos o que quisermos e fazermos as escolhas que quisermos é a verdadeira e grande liberdade; a segunda assentando nas ideias a) da educação como serviço e b) na de educar para que ao servir também os educandos venham a servir. Ou construam a aptidão para servir.

Desde os tempos de Colégio aos dias de hoje muita água passou por baixo da ponte. Mais proximidade ou mais afastamento à Igreja Católica, foram sendo compassos para a minha vida.

Porém, e no meio da alegria que é voltar ao Colégio, senti mais que isso. Volto sempre, todos os anos, pelo menos para a missa do Galo, no Natal.

No meio do ambiente acolhedor e inclusivo que o Colégio sempre propicia, senti mais que isso.

No meio das memórias que são impossíveis esquecer a quem quer que seja que por lá tenha passado – houve os que muito gostaram (que foi o meu caso) e os que, quiçá por fazerem gala nisso e em estarem do contra para parecerem “politicamente corretos”, detestaram – senti muito mais que as memórias.

No meio de algumas caras conhecidas e outras próximas, senti mais que a sensação de estar em casa.

E o que senti?

Dois sentimentos que muitas vezes racionalizo, mas que o ambiente de Colégio sempre desenvolve: a primeira de que nos foi sempre dada máxima liberdade para tudo. E o que nos foi exigido, em troca, foi responsabilização pela consequência das nossas ações. A segunda foi a de que a nossa educação inaciana sempre teve por esteio educacional o serviço. Ensinamos-te e damos-te toda a liberdade. Assim servimos. Em troca, quando devolveres o que seja, pois que seja também para servir outros. No Colégio, mesmo que nada se diga, isto sente-se.

Estes dois sentimentos e princípios são centrais às lideranças que hoje se proclamam serem críticas em todo o lado. A primeira questão remete-nos para o auto-conhecimento, sendo que essa capacidade de nos conhecermos deve ser a base para fazermos mais e melhor, para lidarmos melhor connosco mesmos e com os outros. No uso da nossa liberdade, pois que haja responsabilização própria e no que a outros diz respeito.

A segunda vem na linha do que se convencionou chamar de liderança servidora. A importância do líder como sendo capaz de seguir e ser consequente com as necessidades dos seus liderados, ajudando-os a alcançar todo o seu potencial.

No final, a ideia e o sentimento central de tudo isto que nos orientou, a quem passou pelo colégio: Educar para servir. Educar para servir. Educar para servir.

Educar para servir é, sem tirar nem pôr, um dos princípios, queira-se ou não, da liderança servidora. E talvez o mais importante. Conhece-te, educa e, ao educares, serve. Quando devolveres o que recebeste, pois, devolve com sentido de serviço aos demais.

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José Crespo de Carvalho

José Crespo de Carvalho

Licenciado em Engenharia (Instituto Superior Técnico), MBA e PhD em Gestão (ISCTE-IUL), José Crespo de Carvalho tem formação em gestão, complementar, no INSEAD (França), no MIT (USA), na Stanford University (USA), na Cranfield University (UK), na RSM (HOL), na AIF (HOL) e no IE (SP). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático da Nova SBE (Operations... Ler Mais..

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