Católica-Lisbon cria centro de investigação e lança estudo sobre custos da crise

O centro designa-se PROSPER e o primeiro estudo é sobre “Quem arcará com os custos da crise Covid-19? Análise de empregos em risco em Portugal”.
A Católica Lisbon School of Business & Economics (CLSBE) lançou ontem o PROSPER-CATÓLICA-LISBON Center of Economics for Prosperity. Trata-se de um centro de investigação em economia e áreas complementares, que tem como objetivo melhorar o debate público sobre a economia portuguesa, liderado pela professora Joana Silva, economista com 13 anos de experiência no Banco Mundial.
No seu arranque o centro vai concentrar-se na análise de temas económicos como o emprego, inovação e crescimento económico, pobreza, desigualdade, mobilidade social, educação e economia da saúde, todos eles cruciais para a prosperidade de Portugal, para a prosperidade coletiva e o bem-estar de todos os cidadãos, frisou a Católica em comunicado.
O primeiro trabalho do PROSPER é exatamente um estudo – designado “Quem Arcará com os custos da Crise COVID-19? Análise de Empregos em Risco em Portugal” – que avalia o nível de vulnerabilidade do emprego face à crise económica associada à pandemia da Covid-19 no curto e médio prazo, e que compara a resposta de política económica com a dimensão social e laboral da crise.
As conclusões deste estudo apontam para que os empregos em maior risco representem 17 a 31% do emprego em Portugal. O cálculo é feito estimando que a paragem ou forte abrandamento de setores chave da economia nos últimos três meses tenha afetado 400 a 700 mil empregos de forma direta.
Por seu turno, estes efeitos são amplificados por efeitos indiretos noutros setores que se manifestam através das cadeias de produção, colocando em risco 130 e 245 mil empregos adicionais, respetivamente, colocando em risco um total de 530 mil a 945 mil empregos.
De uma forma geral, 67% dos trabalhadores registados nos quadros de pessoal têm tarefas pouco propensas a serem realizadas com recurso ao regime de teletrabalho. Adicionalmente, 22% do emprego estruturado requer interação social intensa ou muito intensa, e 42% dos trabalhadores são de indústrias não essenciais.
A tecnologia tem sido cada vez mais adotada e o estudo estima que os empregos mais suscetíveis de serem automatizados/substituídos por máquinas e robôs correspondem a 36% do emprego e a 34% da massa salarial em Portugal. Por outro lado, é provável também que a pandemia aumente a desigualdade no rendimento oriundo do trabalho.
Trabalhadores com empregos de baixa remuneração, jovens e/ou trabalhadores com baixa escolaridade são os que terão mais probabilidade de perder rendimentos. A incidência nas gerações mais jovens é gravosa: os jovens até 24 anos têm quase o dobro da probabilidade de desempenhar funções em setores não essenciais que não podem ser realizadas em regime de teletrabalho que os trabalhadores com idade superior a 40 anos, e uma probabilidade 1.6 vezes superior de trabalharem em sectores altamente sensíveis.
Pequenas empresas, jovens e regiões menos desenvolvidas são os mais afetados
No geral, o estudo “Quem arcará com os custos da crise Covid-19? Análise de empregos em risco em Portugal” estima que os novos programas que foram alargados para apoiar o emprego e as famílias poderão custar quase 3,5 mil milhões de euros, o equivalente a 1,8% do PIB. O “Programa de Layoff Simplificado” abarca sensivelmente metade desse montante, considerando um período de duração dos apoios de cerca de três meses.
O número total de trabalhadores apoiados por esta medida, avaliado em cerca de 800 mil, está acima do efeito total, estimado neste estudo, no emprego dos setores que pararam ou quase pararam por razões de saúde pública, mas é menos de metade do efeito total, a médio prazo, no emprego estruturado decorrente do choque de procura associado ao confinamento.
Uma questão essencial para os efeitos na desigualdade da atribuição dos apoios é a situação dos trabalhadores casuais. Este estudo estima que existem cerca de 400 mil trabalhadores casuais, os chamados recibos verdes, e cerca de 250 mil trabalhadores independentes não registados na segurança social, para quem este o lay-off simplificado não se aplica ou não é suficiente.
A grande proporção de emprego em tarefas automatizáveis/passiveis de serem substituídas por máquinas e robôs e a adoção de tecnologia registada durante esta crise implicam mudanças a médio- e longo-prazo.
O estudo defende que são essenciais um melhor alinhamento entre as qualificações e ocupações, um melhor sistema educativo e de formação, uma maior complementaridade com os desafios tecnológicos, e empresas com bom desempenho nos mercados internacionais, complementados por políticas económicas que promovam a prosperidade coletiva e o bem-estar de todos os cidadãos. Em suma, a forma como as políticas públicas e empresariais responderem aos desafios atuais moldará o progresso da economia portuguesa e o bem-estar dos trabalhadores e cidadãos por mais de uma década, conclui o estudo.