Opinião

Canais digitais e a nova ordem mundial

Gustavo Teixeira, diretor executivo do Child Behavior Institute of Miami

Vamos aos fatos: jovens não veem mais TV. O mundo mudou e continua numa grande transformação digital. Diversas pesquisas têm mostrado que a audiência de TVs tem declinado ao longo dos anos.

Jovens entre os 18 e os 24 anos de idade veem 10 horas a menos de televisão por semana, quando comparados com os jovens de décadas passadas. Fenómeno semelhante tem sido observado também entre adultos de 25 e 45 anos de idade. O fato é que a cada dia que passa a antiga televisão da década de 1990 está a ser substituída pelo smartphone de hoje. A Rede Globo de Televisão, a Rede Record, a SBT e a Rede TV estão a tornar-se obsoletas quando o assunto é a divulgação da sua marca e estão rapidamente a ser engolidas pelo Netflix, Facebook, Instagram e YOUTUBE, por exemplo.

Grandes empresas como a Kraft, a P&G, a Nestlé, a Coca-Cola e a McDonalds já identificaram esse fenómeno e estão a migrar os seus investimentos em marketing para as medias sociais.

Sem dúvida nenhuma, essa mudança de comportamento do mercado consumidor, associado ao fácil acesso e baixo preço das novas plataformas digitais, significa oportunidades ímpares para empreendedores disruptivos que desejam competir e crescer rapidamente, surfando nesse oceano azul de oportunidades! Você vai ficar de fora?

Facebook, Instagram e YOUTUBE são os canais de televisão da próxima década quando o assunto é marketing, pois os jovens de hoje não assistem televisão, logo não são mais um público consumidor de anúncios televisivos. Você quer atingir as próximas gerações? Então o investimento tem que ocorrer em medias digitais.

E preste atenção nessa dica. Investimento financeiro nessas novas medias sociais ainda são considerados baratos em comparação com anúncios publicitários em jornais, televisão e rádio. Entretanto isso está a mudar. Se pretende divulgar sua marca em media digital, aproveite para surfar essa onda nos próximos cinco anos ou arrependa-se pelo resto de sua vida, pois os custos ainda são baixos e a oportunidade de ouro é agora!

“Ponto” Físico X Presença Digital

Obviamente que criar um website na internet e uma página no Facebook é mandatório se deseja divulgar sua marca. Entretanto deparamos-nos a todo momento com empreendedores que ainda não entenderam o que significa o século XXI e que o poder não está mais no local físico em que a sua loja ou restaurante está localizado. O poder está na presença digital da sua marca.

Uma das vantagens de estar presente nas redes sociais é a possibilidade de expor o produto num marketplace gigantesco e a baixo custo. Na época do seu avô você precisava de ter uma loja física, gastos com aluguer do espaço, pagamento de inúmeros funcionários e a exposição da marca e do negócio ficava limitado aos transeuntes que passavam na frente do empreendimento.

Possivelmente o seu avô conseguiria visibilidade do negócio devido a localização geográfica da loja (perto da igreja central da cidade ou no centro comercial local, por exemplo) e talvez com um gasto financeiro considerável o seu avô poderia anunciar a loja no jornal impresso da cidade ou na rádio local.

Felizmente, hoje o empreendedor não precisa de um bom “ponto” físico para prosperar o negócio e na era da tecnologia e das medias digitais temos novos tempos e novas oportunidades.

Portanto, aproveite essa oportunidade, pois aqueles que não souberem surfar essa onda certamente irão arrepender-se no futuro.

Marketing Tradicional X Medias Digitais
Chegou a Era do protagonismo do consumidor
Num artigo publicado na Revista Forbes, em 2016, o jornalista Brandon Katz analisou o histórico de gastos em anúncios publicitários nos Estados Unidos e constatou o que todos que trabalham com medias sociais já observam: os gastos com anúncios publicitários em medias sociais estão a ultrapassar os gastos em anúncios televisivos.

A explicação para esse fenómeno é simples: existe uma clara migração do interesse do público para as medias digitais. Fenómeno semelhante ocorreu com os nossos avós nas décadas de 1950 e 1960, quando a tecnologia da televisão chegou ao Brasil introduzida por um grande empreendedor brasileiro, Assis Chateaubriand, e o interesse pela mesma ultrapassou a rádio. Nesse período, o público migrou para a televisão, assim como os anúncios publicitários.

Na atualidade, o mundo digital tornou-se o principal player em termos de interesse de público e de investimentos em marketing e está a mostrar novamente como o nosso padrão de consumo se modifica ao longo do tempo, conforme a tecnologia avança e se modifica.

Portanto, precisamos de estar atentos a esse novo paradigma e conhecer o mercado consumidor é fundamental na hora de expor a marca e o produto para a venda nos canais corretos de divulgação.

A maturidade do consumidor atual merece destaque também, pois agora ele exerce uma função ativa na divulgação de produtos que ele julga ser importante para ser divulgado. Se ele gosta do produto, ele “curte” e dá um like nas redes sociais, mas se ele realmente aprova o produto, compartilha o anúncio, “marca” amigos no post e estimula outros consumidores a conhecerem a sua marca.

Hoje, o consumidor é um ser proativo e capaz de produzir um efeito cascata ao anúncio que ele aprova, sonho de todo empreendedor, o amigo consumidor pode “viralizar” a divulgação do seu produto! Desta forma, o público é consciente do seu papel e da sua importância na maneira de aceitar e compartilhar anúncios publicitários que julga importantes e assume um protagonismo jamais visto no mundo dos negócios!

Mas existe alguma dica sobre o tipo de anúncio que é melhor aceite pelo público?
Bem, podemos pensar em duas dicas básicas: causa nobre e conteúdo gratuito inicial.

Normalmente temas carregados por uma causa nobre, altruísta ou com significado e importância para um determinado grupo de pessoas possuem melhores chances de serem aceites pelo público.

Por exemplo, conceitos do tipo: “O importante é não perder a causa” seria uma forma de levantar uma bandeira e dar conteúdo de qualidade ao público. Isso pode ser uma excelente maneira de mostrar ao cliente que você se preocupa com ele e deseja dar muito mais do que receber em troca.

Uma postura no estilo “dar conteúdo gratuito” ao cliente antes de pedir que ele compre algo é uma estratégia interessante, pois gera empatia ao mercado consumidor e permite que sua marca seja organicamente compartilhada entre seguidores e clientes em potencial que compartilham dos mesmos interesses, preocupações e ideais.

Portanto, oferecer conteúdo de qualidade e que merece ser partilhado é uma oportunidade fantástica para conquistar novos seguidores e clientes em potencial. Nenhuma start-up deve menosprezar o poder das medias sociais. Indiscutivelmente essa nova maneira de as pessoas se comunicarem e socializarem é a melhor oportunidade de divulgar sua marca e de vender os seus produtos.

Geração Facebook e o Poder das Medias Sociais
Quando Mark Zuckemberg criou o Facebook nos dormitórios da Harvard University nem mesmo ele poderia imaginar que estaria a revolucionar a maneira como as pessoas iriam comunicar, socializar e fazer negócios nos anos seguintes.

Parece algo inacreditável, ficção científica, mas é a realidade. O Facebook foi criado em fevereiro de 2004 e em 2012, menos de oito anos após seu lançamento, já tinha ultrapassado a marca de um billião de utilizadores ativos. Um empreendedor não pode fechar os olhos a isso.

Falências Inevitáveis?
Pois se alguém acha exagerado a possibilidade de falência nos negócios para quem menospreza o poder da internet e das medias sociais, vamos discutir um pouco sobre o recente case da Toys”R”us.

Imaginamos que todos já ouviram falar da gigante americano da distribuição no ramo dos brinquedos. Eis que a Toys”R”us decretou falência em 2017. A gigante faliu.

Basicamente ocorreu uma sucessão de erros ao longo de mais de uma década e como já expusemos anteriormente no livro, o mercado não liga para quem você é. Ele apenas reage aos seus produtos e à forma como você os comercializa.

A Toys”R”us faliu porque não acreditou no fenómeno da internet. Não “surfou” na web, tornou-se uma empresa pesada, atrasada, obsoleta e lenta como um dinossauro dos tempos modernos.

A gigante se esqueceu de que para continuar no mercado é preciso inovar sempre. Esse foi o seu pecado capital e é o perigo da arrogância dos gigantes. A empresa pensou que continuaria a fazer sucesso vendendo brinquedos da mesma forma que fazia desde sua fundação em 1948, quando empreendiam em grandes lojas de 5.000m2 e dezenas de vendedores e funcionários.

Bem, com 1.600 lojas espalhadas pelos Estados Unidos e 64 mil funcionários, a gigante dos brinquedos demorou muito tempo para entender que a venda online reduziria custos, seria mais prático, mais moderno e que, logicamente, esse novo método de vendas ultrapassaria as cifras das lojas físicas.

Identificando quedas bruscas e sucessivas nas vendas dos últimos 5 anos, a Toys”R”us tentou reerguer-se investindo em vendas online, mas não suportou a derrocada acumulando mais de 400 milhões de dólares em dívidas e declarou falência em setembro de 2017.

Concluindo, a gigante não foi para a internet a tempo, faltou inovação e visão do futuro. Entenda-se que ninguém parou de comprar brinquedos, pois na contra-mão disso tudo, a Amazon, do bilionário Jeff Bezos, vendeu 4 biliões de dólares em brinquedos em 2016 e teve um aumento de 24% nesse nicho de vendas.

A verdade é que ninguém quer sair de casa para consumir. Comprar pela aplicação do telefone, por exemplo, é mais fácil, mais rápido, mais prático e muito mais barato!

Vamos pensar noutro case bastante conhecido: o da Kodak. Quem nasceu até a década de 90 com certeza já ouviu falar na Kodak. Essa empresa criada por George Eastman, em 1880, já foi responsável por vender 90% do filme utilizado nos Estados Unidos, foi usada para fazer filmes de Hollywood durante o século XX, incluindo 80 vencedores de Melhor Filme no Óscar, para gravar a coroação da rainha em 1953 e usada por Neil Armstrong para fazer close-ups na superfície lunar na missão Apollo 11.

Mas por que essa gigante faliu? Muitos responderiam: “Graças à mudança de mercado” ou “devido à invenção da máquina digital”. Porém, a máquina digital foi inventada pela própria Kodak em 1975 e só foi revelada em 1989.

Lembrem-se que o mercado nunca é culpado pela nossa falência, mas sim a nossa incapacidade de nos adaptar-mos. Os reais motivos para falência da Kodak foram: conformismo com os lucros e resultados atuais, demora e resistência à inovação, medo do canibalismo (ou seja, medo que a câmara digital tomasse o lugar da sua câmara atual), postura defensiva às mudanças de mercado, apego ao passado… Basicamente, tudo aquilo que não queremos ver no empreendedor moderno.

Veja-se o que disse Olivier Laurent, editor de notícias do British Journal of Photography:

“A Kodak foi a primeira empresa a criar a câmara digital, mas, naquela época, a maioria dos seus lucros vinha de vendas de produtos químicos utilizados nos filmes e eles tinham medo de investir em algo novo porque achavam que podia prejudicar o negócio tradicional. Quando perceberam, o mercado digital tinha chegado para ficar, ultrapassando o filme e todos os concorrentes da Kodak tinham câmaras digitais muito superiores. As câmaras Kodak nunca foram boas e a empresa perdeu a reputação conquistada com o “‘momento Kodak'”.

Estes cases ilustram a nova ordem mundial do mercado. Ainda assim, muito empreendedor negligencia e ignora o poder da internet, e navega em direção ao precipício do mercado investindo na criação de lojas pesadas, com grande número de funcionários (e por ter funcionários despreparados acaba por contratar mais funcionários) e termina por criar um elefante pesado, inoperante, engessado, tornando a empresa ineficiente e com um funcionamento operacional burro. Certamente vai falir em menos de cinco anos e virar estatística.

Conclusão: inove ou morra! É assim que o mercado funciona. Você pode ser o dono do mundo, mas se não for humilde, respeitar e entender o mercado, certamente vai quebrar. Observamos esse fenómeno diariamente. Se maus gestores destroem empresas gigantescas todos os dias, imagine o que acontece se o pequeno empresário ou empreendedor não tiver os olhos bem abertos e atentos ao mercado?

Charles Darwin já havia nos ensinado: “Não são os mais fortes nem os mais inteligentes que sobrevivem. São os que melhor se adaptam”.

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Gustavo Teixeira

Gustavo Teixeira

É médico, mestre em Educação Especial pela Framingham State University, cofundador e diretor-executivo do Child Behavior Institute of Miami nos Estados Unidos. Atua como palestrante internacional nas áreas de inclusão e educação especial, e é um dos responsáveis pela popularização de livros psicoeducacionais no Brasil.

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