Business angel aponta perigos da cultura de unicórnio

Jonathan Shokrian, fundador e CEO da start-up MeUndies e business angel, partilha a sua opinião sobre os perigos da aparentemente promissora cultura de unicórnio.
Atualmente, as empresas de capital de risco tendem a focar-se na imagem dos fundadores, em conceitos atraentes ou em classes de tecnologia específicas como a inteligência artificial, a realidade aumentada, a ciber-segurança, a robótica e os veículos autónomos.
Se, por um lado, muitas start-ups simplesmente não têm os meios necessários nem para captar a atenção nem para assegurar suporte a longo prazo das empresas de capital de risco. Por outro lado, há start-ups que beneficiaram do capital de risco como a Lyft e a Uber e que preparam a sua oferta pública inicial (IPO, na sigla anglo-saxónica). Esta é uma tendência crescente que coloca empreendedores uns contra os outros, em detrimento de operações de negócios saudáveis e sustentáveis. Quem o afirma é Jonathan Shokrian, fundador e CEO da start-up MeUndies, num artigo publicado no Business Insider.
“Como empreendedor e com um braço na área de investimento em empresas na sua fase inicial, acredito que o mundo precisa de uma comunidade de investidores que valorize o crescimento sustentável e a confiança de todos, em detrimento da perseguição agressiva de vagas de investimento massivo que apenas favorecem um número limitado de empresas”, explica o também business angel.
Para Shokrian, existe um outro caminho que requer que tanto empreendedores como investidores combatam a ‘visão curta’ e tomem decisões baseadas no cliente e nos valores fundamentais, em vez de no crescimento a curto prazo. E, por isso, alerta para alguns perigos.
A corrida ao bilião de dólares (mil milhões de euros) pode ser fatal
Para as start-ups da atualidade, o caminho sustentável para a rentabilidade tem tanto de compensador, como de desafiante e angustiante. Os fundadores a atuarem em setores e geografias distintas têm de tomar decisões difíceis no longo caminho rumo à rentabilidade. Ao concentrarem-se na construção da confiança do cliente através da oferta de um produto ou experiência excelentes, as start-ups mantêm os seus valores principais, garantindo simultaneamente recursos suficientes para continuar a evoluir, a contratar e a crescer.
Na verdade, muitos empresários que lançam start-ups numa procura agressiva de dinheiro caem na armadilha de perseguir metas de angariação de clientes maiores e mais agressivas. Enquanto isso, perdem o foco na atenção aos clientes já existentes e na inovação de produtos. O facto é que a maioria das start-ups orientadas diretamente para o consumidor que garantiram financiamentos iniciais avultados em 2011 hoje já não existem. “Foram engolidas por mercados de evolução rápida e financiamento de risco inadequado”, frisa Shokrian.
De acordo com a Pitchbook, 64% dos unicórnios que fecharam OPV apoiados em investidores desde 2010 não eram rentáveis no momento da indexação. Não existem simplesmente garantias que vagas de investimentos massivos conduzam à rentabilidade ou até à sobrevivência. É por isso que os fundadores de start-ups devem-se concentrar em expandir as suas empresas, de forma a proporcionarem um crescimento estável, um ritmo inteligente de expansão de mercado e práticas responsáveis, aconselha o CEO.
Devem também dar prioridade ao desenvolvimento de uma cultura e ambiente corporativos sustentáveis, favoráveis à criação de inovação, desenvolvimento de aplicações, fornecimento de serviços e colocação de produtos no mercado.
Investimento massivo não garante retorno massivo
“Preferir um investimento constante em vez de massivo pode ajudar as empresas mais jovens a enfrentar os altos e baixos económicos que, no passado, destruíram inúmeras start-ups. Estratégias de crescimento modesto podem ainda permitir aos fundadores a manutenção da sua independência nas tomadas de decisão. Torna-se difícil manter as crenças fundamentais e a missão da empresa, sob a pressão do capital de risco de chegar ao milhão de dólares, aconselha Shokrian.
É por isso que, em particular para as novas start-ups, é importante perceber que muitos dos investidores de capital de risco não estão interessados em financiar empresas que vão usar os seus milhões de investimento para fazer crescer um negócio com vista à aquisição futura. A maioria simplesmente ignora start-ups credíveis que resolverão problemas reais com financiamento suficiente porque querem provas do potencial e garantia de lucro do unicórnio. Ou, pelo menos, de como os fundadores pretendem alcançá-lo.
“As start-ups envolvidas neste processo correm riscos potencialmente fatais de se desviarem das suas missões iniciais, ao sentirem-se pressionadas pelo capital de risco, pelos concelhos, subsidiando os preços dos produtos com esse capital e perdendo clientes vitais para o lucro quando os preços precisarem de aumentar à medida que a fonte de financiamento vai secando”, acrescenta o CEO da start-up MeUndies.
Shokrian acredita que o capital de risco pode ser determinante para a expansão de qualquer negócio. Contudo, sabe, por experiência própria, que é fácil os fundadores deixarem-se apanhar no ciclo de pressões na busca da próxima vaga de investimento.
A mudança da cultura de base à volta do tema do investimento a start-ups será uma tarefa monumental e complicada. Por isso, Shokrian deixa um apelo aos investidores: “É por isso que apelo a investidores de capital de risco e a outros investidores que se juntem a mim, convidando start-ups mais promissoras, voltadas para a missão a sentarem-se connosco à mesa independentemente do seu volume de investimento. Por seu lado, os fundadores de start-ups precisam de considerar a hipótese de abandonar a corrida ‘vencer ou morrer’ ao capital de risco massivo e preferir injeções de capital estratégicas de investidores de confiança que garantam um crescimento a longo prazo”.