Entrevista/ O jovem com paralisia cerebral que fechou um negócio com a PlayStation
Bruno Osório é um empreendedor fora do comum. Com apenas 30 anos – e uma condição que o prendeu a uma cadeira de rodas -, já fundou duas start-ups, recolheu uma ronda de investimento e fechou um negócio de 50 mil euros com a PlayStation. Ao Link to Leaders fala sobre o seu objetivo de vida e as dificuldades que enfrenta devido à paralisia cerebral.
Presidente executivo da FoxTech Portugal e da Adamastor Studio. Estes são os dois cargos que o engenheiro informático apresenta no seu perfil de LinkedIn. Contudo, aquilo que a rede social de trabalho não conta são as dificuldades acrescidas que Bruno Osório enfrenta diariamente devido à paralisia cerebral, uma condição que o prendeu – desde a nascença – a uma cadeira de rodas.
Apesar de todas estas dificuldades, o empreendedor que quer mudar o mundo prefere apresentar-se como uma inspiração para todas as pessoas que o rodeiam, mostrando que, independentemente das barreiras que possam surgir, é sempre possível fazer acontecer.
Parte da força que move o jovem bem-humorado foi passada para dois projetos. Um deles, que está a ser desenvolvido através da FoxTech, é o QuadRevolution, um sistema de condução autónoma segura para as cadeiras de rodas. Um outro projeto, que é atualmente o seu principal foco, é o VRrock, um videojogo de realidade virtual que está a ser desenvolvido pela Adamastor Studio e em que os jogadores são estrelas de rock a atuar para uma arena. A aceitação do público-alvo levou a PlayStation a fechar um negócio de exclusividade com Bruno Osório e a sua equipa: a troco de 50 mil euros em campanhas de publicidade, a consola da Sony vai ser a única a vender o jogo.
Como é que começou o seu percurso no empreendedorismo?
A minha família sempre esteve ligada a negócios. Primeiro teve um café e, desde há muitos anos, uma empresa de táxis. Quando comecei a adquirir conhecimentos em Excel, tive as primeiras noções de contabilidade e a ter gosto em construir algo e criar riqueza.
Desloco-me em cadeira de rodas devido ao facto de ter paralisia cerebral, mas o meu objetivo de vida é ser um ícone inspiracional para novas empresas e empreendedores, mostrando que, apesar de todas as dificuldades, é sempre possível fazer acontecer. Sempre fui apaixonado pelo empreendedorismo e a minha meta sempre foi e será criar negócios, pois acredito que vou mudar o mundo e ter sucesso. Sou uma pessoa que luta por todos os seus sonhos até ao fim e para mim não há impossíveis!
Desde 2012 que comecei a projetar a minha caminhada no empreendedorismo ao construir uma equipa multidisciplinar que contemplava as áreas de engenharia informática e engenharia eletrotécnica. O objetivo era o desenvolvimento de um projeto para participar no concurso Imagine Cup – promovido pela Microsoft. O projeto consistia num sistema que fosse conectado a qualquer cadeira de rodas elétrica e em que o utilizador pudesse, através de um dispositivo móvel, escolher um determinado destino no mapa da região. A partir daqui o sistema controlava a condução da cadeira até chegar ao destino pretendido.
Em 2013 finalmente participámos na Imagine Cup com um pequeno protótipo deste sistema e conseguimos chegar à final nacional. Devido ao excelente feedback recebido, começamos a levar mais a sério a realidade de iniciar um caminho empresarial. Tendo este projeto como base, começámos a criar conexões com o mundo empresarial, como associações e outras empresas da área. Participámos também em feiras, palestras e eventos de empreendedorismo. Durante este percurso, a nossa equipa começou a implementar os seus conceitos e protótipos, tendo conseguido construir bases sólidas que nos permitiram lançar, em 2016, a empresa Foxtech. Agora, quero criar uma empresa de cinco em cinco anos.
“Grande parte da autoconfiança que tenho hoje em dia deve-se à estrutura mental que adquiri no desporto.”
Acha que o facto de ter sido atleta de alta competição o pode ajudar no seu percurso empreendedor?
Por acaso voltei, no ano passado, ao alto rendimento! Mas respondendo diretamente à sua pergunta, sim, até posso dizer que o desporto foi o ponto de partida para provar a mim próprio que conseguia atingir grandes feitos. Grande parte da autoconfiança que tenho hoje em dia deve-se à estrutura mental que adquiri no desporto. Para ser claro, agora, o tubarão sou eu!
Vê o facto de estar “preso” numa cadeira de rodas como uma barreira ao seu potencial?
Sinceramente não. A cadeira de rodas oferece-me um charme que poucos conseguem ter, ou seja, é como se a cadeira fosse o assessório ideal para ser o centro das atenções como tanto gosto! A vida ensinou-me a “trabalhar” a questão da minha condição como sendo uma vantagem.
Quais são as grandes dificuldades que enfrenta diariamente?
A primeira coisa que me vem à cabeça são as viagens de longo curso e a duração, uma vez que quando isso acontece tenho de levar alguém para cuidar de mim. No entanto, estou convicto que um dia irei contornar este obstáculo!
“A cadeira de rodas oferece-me um charme que poucos conseguem ter.”
E quais são as vantagens da sua condição motora?
Como já tive oportunidade de dizer: A cadeira de rodas oferece-me um charme que poucos conseguem ter. Se juntarmos a minha confiança sou o produto perfeito [risos]. Já senti várias vezes que não me disseram que não precisamente por causa da minha condição. Noto que antes de começar uma reunião não dão nada por mim, mas que quando começo a falar tudo muda!
Têm pelo menos dois protótipos já desenvolvidos (Sempre em Casa e o Quad Revolution) na FoxTech. O que é que vos falta para levar estas duas soluções para o mercado?
Se há coisa que apreendi é que no empreendedorismo é vital ter foco. Agora só penso na Adamastor Studio e no VRock até vender a empresa, mas garanto que vamos voltar ao QuadRevolution! É o projeto da minha vida!
A Adamastor Studio ganhou os prémios PlayStation em 2016. Foram-lhe dados 10 meses para terminar o jogo – que ainda não foi lançado. O que correu mal?
A empresa não era nossa, só tínhamos a marca Adamastor Studio, mas desde sempre vi o produto com grande potencial de venda. Então esperámos pela oportunidade certa para adquirir a empresa e o VRock e, em mais ou menos três meses, tornámos um produto morto e esquecido num título bastante esperado e cheio de oportunidades!
“A minha relação com os videojogos é, desde a minha infância, umbilical, pois foi com eles que me foi possível chutar uma bola e ser o que quisesse!”
Porquê um projeto na área dos videojogos?
A minha relação com os videojogos é, desde a minha infância, umbilical, pois foi com eles que me foi possível chutar uma bola e ser o que quisesse! A marca Adamastor Studio, surgiu porque adoro os descobrimentos portugueses e faço o paralelo com o monstro Adamastor como sendo algo aparentemente impossível de dobrar, mas os portugueses “venceram-no” e trouxeram uma grande esperança para o mundo!
Fazendo o paralelo com a minha vida, posso dizer que começou por ser um grupo muito grande de Adamastores – ou dificuldades – e agora no presente tenho uma vida pojante e cheia de esperança no futuro, ou seja, o Cabo da Boa Esperança.
Sabemos também que fecharam um negócio com a PlayStation. Em que consistiu?
O negócio é de exclusividade a nível das consolas – eles deixam que o jogo seja desenvolvido para computador. Em troca, abrem todos os canais de vendas para nos ajudarem a vender mais jogos e têm uma campanha de marketing no valor de 100 mil euros associada ao projeto. Normalmente concedem 50 mil euros, mas gostaram tanto do jogo que decidiram duplicar esse valor.
Receberam investimento recentemente. O que é que isto significa para o projeto?
O investimento é uma fase sempre bonita porque com o dinheiro que é aportado à empresa vai permitir ao projeto ter uma qualidade muito maior.
Eu gosto desta fase porque gosto muito de responsabilidade e, a partir do momento que se tem investimento associado, essa responsabilidade aumenta exponencialmente. Para além disso, ter pessoas que sabem mais do que nós, acreditam em nós, transmitem conhecimento e acreditam em nós e no caminho que trilhamos juntos. Isso para mim é ouro. Gostava de agradecer à StarBusy pela confiança em mim e na minha equipa e ao Pedro Antunes, que será para sempre uma inspiração tanto a nível profissional, como pessoal.
“Acredito que vou mudar o mundo e ter sucesso!”
Quer servir de inspiração para as pessoas. Que mensagem pretende transmitir?
O que quero mostrar às pessoas é que apesar de todas as dificuldades, é sempre possível fazer acontecer. Sempre fui apaixonado pelo empreendedorismo, a minha meta sempre foi e será criar negócios! Pois acredito que vou mudar o mundo e ter sucesso!
O que é que gostava que lhe tivessem dito há dez anos, antes de ter arrancado com as duas start-ups?
Que iria ter este prazer que sempre tive e tenho! Sinceramente eu estava tão bem preparado para este caminho que já sabia como iria ser.
Quais são os planos para 2019 para os projetos em que está inserido?
Fazer do VRock um dos melhores jogos do ano e fazer as pessoas sonhar com o que vier no futuro da Adamastor!