Entrevista/ “O brasileiro deseja mais ser empreendedor do que empregado”
Antropólogo, professor e consultor de empresas no Brasil, Luiz Marins esteve recentemente em Portugal para participar como orador na Convenção Anual da Era. O Link To Leaders falou com o especialista em gestão empresarial sobre o estado atual do ecossistema empreendedor brasileiro e a sua experiência em projetos no setor público e privado.
Luiz Marins é antropólogo. Estudou Antropologia e conviveu com os aborígenes australianos da Ilha de Bathurst em 1972. Lecionou Antropologia em universidades no Brasil e no exterior. Através da Anthropos Consulting, da qual é presidente, realiza trabalhos de consultoria para empresas nacionais e estrangeiras desde 1984.
O brasileiro tem atualmente um programa de televisão denominado “Motivação & Sucesso com Professor Marins”, na Rede Vida de Televisão, e participa ainda como comentador e consultor empresarial no programa “Show Business” com João Dória Jr. na Rede Bandeirantes de Televisão.
Em entrevista ao Link To Leaders, Luiz Marins refere que o Brasil está a passar por uma grande revolução positiva: “Tanto o Governo federal como os estaduais estão dispostos a descentralizar, a facilitar a vida dos empresários e empreendedores, e a fazer com que o Governo seja menor e o mercado maior, e mais ativo e produtivo”.
E vê Portugal como um país de grandes oportunidades. “O povo português é naturalmente empreendedor e muito trabalhador, e isso facilita muito a sua inserção em novos mercados, tanto da Europa como do mundo inteiro, inclusive asiático e América Latina, explica.
Como carateriza o ecossistema empreendedor brasileiro?
Empreender no Brasil não é fácil. A burocracia é muito grande e o custo até para se pagar os impostos e taxas exigidos é muito elevado. Os novos governos estaduais e federal estão a trabalhar afincadamente para facilitar a vida de quem quer empreender. O brasileiro deseja mais ser empreendedor do que empregado.
O que motiva os brasileiros a criarem o seu próprio negócio?
O brasileiro é um resultado híbrido de várias etnias e o país tem imensas oportunidades, não só pela sua dimensão territorial, como também pela sua diversidade cultural. Assim, em todas as áreas geográficas e em todos os campos há oportunidades, e isso faz com que o brasileiro acredite mais em empreender.
“Os brasileiros têm consciência das grandes oportunidades que o país oferece. Há muito por se fazer em todos os campos”.
Dados da última pesquisa “Empreendedorismo no Brasil” de 2011, conhecida também como
“Pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor)”, apontam o Brasil como o décimo país mais empreendedor do mundo. O que contribui para este cenário?
Os brasileiros têm consciência das grandes oportunidades que o país oferece. Há muito por se fazer em todos os campos.
Acredita que todos podem ser empreendedores no Brasil?
É claro que nem todos, mas a grande maioria quer tentar. Nas nossas pesquisas mostramos que o brasileiro prefere ser autoempregado a ser um empregado ou funcionário, mesmo que seja numa boa empresa. Há sempre exemplos de pessoas que empreenderam a partir do nada e tiveram um enorme sucesso, utilizando a sua criatividade e inovação. Como referi, as oportunidades que o Brasil oferece são imensas e tudo o que for bem feito, com qualidade, tem grande probabilidade de prosperar.
É presidente da Anthropos Consulting que trabalha com o conceito da antropologia empresarial. Em que consiste este conceito?
Todas as empresas possuem uma “cultura” que está oculta e que, na verdade, a define e a diferencia de outras empresas e organizações. Essa “cultura” é formada e moldada pelo conjunto das tradições (passado), necessidades (presente) e aspirações (futuro) da empresa e dos seus dirigentes. Com o conhecimento dessa “cultura”, a empresa pode crescer com segurança, aproveitando as razões do seu sucesso e modificando o que deve ser mudado sem romper com os valores fundamentais da organização e das pessoas. Descobrindo, revelando e respeitando os valores culturais e o conjunto de crenças e valores nem sempre explícitos de uma empresa ou organização, as pessoas que a compõem podem dar muito mais energia e dedicação ao que fazem, levando a empresa ou organização ao sucesso. Essa é a base do trabalho da antropologia empresarial que está a ser desenvolvida pela Anthropos Consulting e Anthropos Motivation & Success desde 1984.
Com que empresas trabalham neste momento?
Realizamos trabalhos de formação e consultoria para muitas empresas nacionais e multinacionais tanto no setor privado como público. No site encontra uma série de clientes, o que demonstra a amplitude do nosso trabalho. Serão muito raras as grandes ou médias empresas com as quais não tenhamos realizado algum trabalho e com as quais continuamos a realizar. Temos clientes de muitos anos com quem trabalhamos de forma ininterrupta, pois ajudamos a empresa a pensar. Esse é um grande diferencial.
“Os métodos e técnicas da antropologia são cada vez mais essenciais à compreensão das empresas e dos seus mercados, e ao planeamento do seu futuro”.
De que forma os métodos e técnicas da antropologia são cada vez mais essenciais às empresas? Qual a relação que existe?
Os métodos e técnicas da antropologia são cada vez mais essenciais à compreensão das empresas e dos seus mercados, e ao planeamento do seu futuro. Descobrindo e revelando os hábitos e costumes dos consumidores, a antropologia e a etnografia são utilizadas por grandes empresas e agências de publicidade e comunicação, em geral, para o planeamento de novos produtos e serviços. A antropologia empresarial utiliza os métodos da antropologia – principalmente observação participante para compreender a empresa e o seu mercado e trabalhar com o planeamento do futuro.
O sucesso hoje não garante o sucesso amanhã. O que pode garantir o sucesso de uma empresa amanhã é a grande questão que a antropologia empresarial procura responder. Sem “pacotes”, a antropologia empresarial procura detetar e reforçar os pontos fortes e identificadores positivos da empresa do ponto de vista dos clientes, do mercado, dos colaboradores, dos fornecedores e da comunidade, e desenvolve programas e projetos que farão a empresa vencer os desafios da competitividade neste novo século.
“… a partir da realidade factual de cada empresa e região, é possível trabalhar e compreender como fazer com que a empresa ou organização se desenvolva, respeitando as suas características essenciais, sempre em busca do sucesso”.
Foi também presidente e CEO de empresas em Nova Iorque e Raleigh (Carolina do Norte) nos Estados Unidos. Quais os desafios e lições que retirou do seu percurso profissional em mercados tão distintos?
Há diferenças culturais marcantes, mesmo dentro dos Estados Unidos. Nova Iorque e a Carolina do Norte pouco têm em comum. Assim, a partir da realidade factual de cada empresa e região, é possível trabalhar e compreender como fazer com que a empresa ou organização se desenvolva, respeitando as suas características essenciais, sempre em busca do sucesso.
“…o Brasil terá a missão de alimentar o mundo nas próximas décadas e tem tudo para que a indústria, o agronegócio e o setor de serviços tenha uma grande aceleração…”.
Como vê o Brasil daqui a cinco anos em termos de desafios e oportunidades?
Acredito que o Brasil esteja a passar por uma grande revolução positiva. Tanto o governo federal como os estaduais estão dispostos a descentralizar, a facilitar a vida de empresários e empreendedores e a fazer com que o governo seja menor e o mercado maior, mais ativo e produtivo. Os desafios são grandes para romper com décadas de centralismo e uma visão estatizante que reinou até aqui, mas as oportunidades são enormes, principalmente se considerarmos que o Brasil terá a missão de alimentar o mundo nas próximas décadas e tem tudo para que a indústria, o agronegócio e o setor de serviços tenha uma grande aceleração, assim como menos interferência governamental em todos os níveis.
De Portugal, o que conhece?
Venho a Portugal há muitos anos. Vejo Portugal como um país de grandes oportunidades no mundo europeu pela sua qualidade de vida, setor de serviços e mesmo possibilidade de expansão para outras regiões. O povo português é naturalmente empreendedor e muito trabalhador e isso facilita muito a sua inserção nos novos mercados, tanto da Europa como no mundo inteiro, inclusive asiático e América Latina.
Que conselhos deixa aos jovens empreendedores portugueses, mas também aos empresários?
Aos jovens empreendedores portugueses, o meu conselho é que estudem com muito cuidado as oportunidades que o mundo de hoje oferece e que pensem fora da caixa, com inovação e criatividade, pois as oportunidades existem aqui e são muitas. E não se esqueçam que a informação será o grande e único produto daqui para a frente. É preciso estudar, ser competente.
Aos empresários, o meu conselho é que pensem muito na forma como servir melhor os clientes e trabalhar melhor com os fornecedores; não se acomodem e lembrem-se que o futuro passará cada vez mais pela prestação de serviços com qualidade e que as oportunidades estão onde menos esperamos e nem sempre as vemos. Há um ditado português que gosto muito e é do século XVIII que diz “andando na égua e perguntando por ela”. Muitas oportunidades estão debaixo do nosso nariz.
Respostas rápidas:
O maior risco: A acomodação.
O maior erro: Ter medo de errar. Só não erra, quem não faz!
A melhor ideia: É aquela em que você não ousou acreditar.
A maior lição: Humildade, no sentido etimológico de humus (terra). Nunca tirar os pés do chão.
A maior conquista: Servir.