Opinião

De Estagiário a CEO: reflexões de uma jornada

Tiago Rodrigues, CEO da AEDL, Auto-Estradas do Douro Litoral

25 anos após o meu estágio de início de carreira, quis o destino que ascendesse à posição de CEO. Aqui chegado, partilho algumas breves reflexões sobre a minha jornada, incluindo a importância de manter o foco e a determinação, ou o que considero ser o verdadeiro “ás de trunfo” numa carreira, ou como usar botões de punho ou cozer botões não nos torna pessoas diferentes.

Diz-se que o tempo voa, e voa mesmo, quase que não damos por ele a passar. Ontem tínhamos pouco mais de 20 anos de idade, hoje quase 50. Há pouco mais de 25 anos iniciava a minha carreira profissional, num estágio no departamento financeiro de um conhecido (à data) grupo internacional de supermercados.

Era (mais) jovem, recém-formado e inexperiente. Trazia comigo o conhecimento teórico que havia aprendido nos bancos da escola. Mais importante do que isso, trazia também uma vontade férrea de aprender, uma crença inabalável nas minhas capacidades e uma consciência ainda maior das minhas limitações e fraquezas.

O estágio foi curto, mas enriquecedor quanto baste. Várias etapas se seguiram, a maioria em funções financeiras, com passagem por oito empresas, em quatro países e três continentes.

Foi uma jornada e tanto, com muitas horas de trabalho – demasiadas por vezes, com altos e baixos, sucessos e insucessos, momentos inesquecíveis e outros que prefiro não me lembrar.

Quis o destino, seguramente acompanhado de muito trabalho, e com algum mérito e sorte à mistura, que cerca de 25 anos volvidos desde aquele estágio ascendesse à posição de CEO da empresa onde me encontro à data em que escrevo este texto.

Aqui chegado, partilho cinco breves e simples reflexões sobre esta minha jornada.

  1. Usar botões de punho ou cozer botões não nos torna pessoas diferentes

A primeira, e porventura a mais importante, é que CEO, Estagiário ou qualquer outro cargo numa qualquer organização, são apenas funções ou posições numa estrutura hierárquica e não mais do que isso. Cargos não definem, em circunstância alguma, quem somos. Poderão, quiçá, ser reveladores da ambição e percurso profissional de cada um, de um conjunto de competências ou habilidades, de um maior ou menor acerto nas opções de carreira, ou, porque não, da sorte, ou falta dela, de ter estado no lugar certo à hora certa, mas nenhum cargo ou nível hierárquico nos qualifica enquanto pessoas.

  1. Foco e determinação, o melhor antídoto para a aleatoriedade do trajeto profissional

Nunca delineei um plano de carreira, nem tracei objetivos concretos para a mesma, no sentido de estabelecer ou projetar antecipadamente patamares hierárquicos ou financeiros que ambicionava atingir. A minha estratégia – consciente, diga-se, assentou sempre em dar o melhor que podia e sabia, deixando a minha carreira fluir de forma natural, focando-me com afinco no eficaz aproveitamento das várias oportunidades que foram surgindo, por menos óbvias ou mais difíceis que pudessem parecer. Creio, por isso, que foco e determinação são o melhor antídoto para a aleatoriedade natural do trajeto profissional.

  1. O verdadeiro “ás de trunfo” associado à saída da “zona de conforto”

Ao longo da minha carreira, optei, em múltiplas ocasiões, por sair da minha “zona de conforto”, algo que contribuiu de forma decisiva para o meu crescimento profissional (e pessoal). Com isso aprendi e desenvolvi novas competências, conheci gente, práticas e culturas diferentes, diversifiquei e sofistiquei a minha experiência e, não menos importante, testei a minha resiliência. Quando nos predispomos a enfrentar o desconhecido e os desafios que daí, invariavelmente, resultam, estaremos sempre mais próximos – recorrendo a uma terminologia desportiva – de nos podermos tornar “craques” em alguma coisa. Este é um outro ensinamento que levo desta jornada: o nosso verdadeiro “ás de trunfo” passa por nos tornarmos bons, verdadeiramente bons, em alguma coisa, idealmente em algo que seja escasso, e isso estará, a meu ver, mais próximo de acontecer quanto maior a amplitude e complexidade dos desafios a que nos sujeitamos.

  1. A ética profissional compensa sempre

A minha quarta reflexão é que a ética profissional compensa sempre. Sempre! Seja por via do eventual reconhecimento e correspondente reflexo num trajeto profissional hierarquicamente ascendente, ou, à falta disso, pela maravilhosa sensação de leveza que uma consciência tranquila permite desfrutar. A ética deve constituir um princípio basilar e inegociável na nossa carreira (e vida), sendo que devemos repensar o nosso rumo se ou quando formos constrangidos ou impedidos de nos mantermos fiéis a esse princípio.

  1. CEO: privilégio ou responsabilidade?

Entendo que chegar ao topo da hierarquia de uma organização possa ser considerado um privilégio, mas constitui, antes disso, uma responsabilidade. Responsabilidade de, pelo exemplo, e não perdendo de vista a missão e as circunstâncias de cada organização, zelarmos pelas pessoas que, direta ou indiretamente, impactamos no dia a dia. Porque a dinâmica corporativa e empresarial é feita de e para pessoas. Dos colaboradores que, sem prejuízo do brio profissional que lhes deve ser exigido, devem sentir-se valorizados e respeitados para que possam encontrar no trabalho mais uma alavanca de realização e felicidade para as suas vidas. Ou dos clientes que precisam e confiam nos nossos produtos ou serviços. Mas também dos parceiros e do ecossistema que nos rodeia, em relação aos quais devemos atuar de forma responsável e sustentável.

Ontem Estagiário, hoje CEO, amanhã o que a vida me trouxer.

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Tiago Rodrigues

Tiago Rodrigues

Tiago Rodrigues conta com mais de quinze anos em funções de gestão e administração em empresas de energia, infraestrutura, turismo e imobiliário e oito anos como consultor, com experiência de vida, profissional e académica em Portugal, Brasil, Reino Unido e EUA. Concluiu um programa de liderança em Harvard, uma pós-graduação em finanças, uma licenciatura em economia e um bacharelato em contabilidade e administração. Foi palestrante em dezenas de eventos de negócios na Europa e em programas de universidades portuguesas. Gosta... Ler Mais..

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