Opinião

Avaliar não é vender: porque saber o valor do negócio é essencial mesmo sem estar no mercado

João Vaz Leite, partner da ValuingTools

Em Portugal, a avaliação de empresas continua a ser vista por muitos empresários como um passo ligado, inevitavelmente, à venda. É como se conhecer o valor de um negócio fosse apenas relevante quando se decide passá-lo para outras mãos.

No entanto, em mercados mais maduros — dos Estados Unidos à Alemanha — a avaliação periódica é encarada como uma ferramenta estratégica, essencial para decisões de gestão, planeamento de investimentos e proteção do património.

O mito da avaliação “apenas para vender”
A experiência mostra que este é um mito que pode sair caro. A avaliação é um instrumento de gestão, não um ato de despedida. Serve para:

  1. Monitorizar a evolução do negócio – Entender se as decisões tomadas estão a gerar valor ou a destruí-lo.
  2. Suportar decisões de investimento e financiamento – Bancos e investidores atribuem maior credibilidade a negócios com avaliações atualizadas.
  3. Gerir sucessões e partilhas – Evita conflitos e incertezas, dando uma base objetiva para decisões familiares e societárias.
  4. Negociar parcerias estratégicas – Uma posição de força começa por saber o valor real daquilo que se detém.

Práticas internacionais: o que podemos aprender
Nos Estados Unidos, é comum que empresas — mesmo de pequena e média dimensão — atualizem o seu valor avaliado anualmente. Este exercício está integrado na rotina de reporte e serve de base para revisões estratégicas. No Reino Unido, muitas empresas recorrem a avaliações trimestrais ou semestrais, sobretudo quando atuam em setores voláteis.

Na Alemanha, a avaliação periódica é um pilar da Unternehmenssteuerung (gestão empresarial), sendo exigida por muitos conselhos de administração antes de grandes decisões. Esta cultura cria empresários mais preparados e negócios mais resilientes.

Benefícios de uma avaliação recorrente
Uma avaliação não é um número isolado; é um diagnóstico. Envolve analisar desempenho financeiro, posicionamento no mercado, riscos e oportunidades. Ao repetir este processo de forma periódica, o empresário consegue:

  • Antecipar problemas antes de se tornarem críticos.
  • Identificar áreas com maior potencial de valorização.
  • Agir de forma proativa em vez de reativa.

Avaliar é cuidar
Sempre defendi que avaliar é cuidar do negócio. Os nossos serviços de avaliação periódica permitem que o empresário mantenha sempre atualizada a radiografia do seu património empresarial, com base em metodologias reconhecidas e comparáveis às melhores práticas internacionais.

E há um fator que não pode ser ignorado: quando chega o momento de vender, quem já tem um histórico de avaliações regulares está sempre um passo à frente. Tem dados, argumentos e credibilidade para negociar melhor — sem surpresas nem improvisos.

No entanto, avaliar não é vender. É gerir com conhecimento, preparar com antecedência e proteger com inteligência. Num mundo empresarial cada vez mais competitivo, saber o valor do negócio não é luxo nem formalidade — é uma necessidade estratégica.

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