Ascensão dos programas de capacitação de empreendedores para o investimento

Todos os anos, há uma nova  “buzzword” no mundo do empreendedorismo, e chegou a hora do tema da capacitação dos empreendedores.

Este conceito particular surgiu com a ajuda de políticos mediáticos, governos e até de várias organizações internacionais que começaram a utilizá-lo cada veze mais frequentemente nos seus relatórios. Então, o que é a capacitação de empreendedores?

Quando os empreendedores têm um projeto ou serviço que abrange uma lacuna de mercado, uma nova equipa para o executar, tecnologia que funciona e têm todas as provas necessárias, referências e licenças, modelos de negócios e financeiros que fazem sentido, e a compreensão básica do vocabulário de investimento, bem como suas próprias necessidades e termos de investimento, chamamos-lhes empreendedores capacitados para o investimento (investment ready). O mesmo conceito também se aplica a investidores com capacidade económica, mas que não têm nenhuma experiência de investimento, ou têm investido em negócios “tradicionais”, tal como o imobiliário.

Os programas de capacitação para o investimento são como um génio na garrafa, todo o mundo fala sobre eles, mas muito poucos têm realmente beneficiado com isso. Como sugere o relatório da OCDE sobre programas de capacitação para o investimento, muitos falharam em aumentar o valor de investimentos em negócios inovadores em fase inicial, uma vez que se concentram em inputs genéricos e na capacidade de apresentação por parte do empreendedor, e não em diagnósticos críticos e componentes de suporte de negócios.

Para que um programa de capacitação para o investimento seja bem-sucedido, precisa de conter um leque de serviços de atividades diferentes e complexas, tanto on-line quanto offline, durante um longo período de tempo, com mecanismos de avaliação tanto no investimento como no lado da captação de financiamento (fundraising). Os formatos complexos de capacitação de empreendedores para o investimento requerem esforço e são caros de implementar, assim como atrair empreendedores experientes e especialistas em investimentos pode ser complicado.

Os formatos da velha guarda já não são interessantes para empreendedores e investidores, o mercado está pronto para programas mais inovadores e interativos, e, mais importante, para resultados de financiamento mais tangíveis e impressionantes traduzidos para números, especialmente na Europa. Por outro lado, os empreendedores estão recetivos a mais substância e conhecimento, que não pode ser fornecido por apenas qualquer entidade aleatória com marketing apelativo, sobre as quais eu já aqui escrevi.

Um dos exemplos mais bem-sucedidos dos programas de capacitação de empreendedores foi o InvestHorizon, financiado pela Comissão Europeia e implementado por uma série de entidades europeias relacionadas com o ecossistema europeu, o que resultou em mais de 120 milhões euros investidos em mais de 30 empresas, num período de apenas três anos.

Há uma clara tendência que está a emergir da parte de entidades públicas, que muitas vezes desperdiçam muito dinheiro em iniciativas sem retornos, para criar projetos mais sérios, empreendedores e investidores mais bem preparados. Seria interessante ter mecanismos de monitorização em vigor, bem como dados publicamente disponíveis sobre os resultados de diferentes programas de capacitação de empreendedores financiados pelos contribuintes de cada país ou   nível europeu. Ou pedir transparência é pedir muito?

* E diretora geral da Global Entrepreneurship Network em Portugal