Entrevista/ “As universidades são peças-chave na criação de ambientes que estimulem a inovação e atraiam empreendedores”

Bernardo Saraiva, cofundador e diretor da World Talents

“Portugal beneficia de um ecossistema universitário robusto, que estimula a colaboração entre a academia, start-ups e empresas e que promove a inovação em áreas estratégicas como inteligência artificial, energias renováveis e biotecnologia”, revela Bernardo Saraiva, cofundador e diretor da World Talents.

Fundada em 2021 e atualmente com sede em Portugal, World Talents promove iniciativas de mobilidade de talento no ecossistema universitário. Já estabeleceu parcerias com instituições como o ISCTE, a Universidade de Coimbra, a Universidade do Algarve e o Politécnico de Setúbal.

Através do seu programa Global Talent Portugal, atraiu até ao momento cerca de 80 empreendedores e empresas para o nosso país, com um investimento total de aproximadamente 2,8 milhões de euros. Este programa, que atua como um elo entre empreendedores, investidores e universidades, tem como objetivo estabelecer Portugal como destino de excelência para talentos globais, promovendo a transferência de conhecimento e a integração de empresas no ecossistema local.

“Ajudamos os empreendedores a navegar o ecossistema português com maior facilidade. Oferecemos orientação personalizada sobre a legislação e incentivos disponíveis, além de criar ligações com universidades, incubadoras e parques tecnológicos que disponibilizam infraestrutura, conhecimento e redes de mentoria”, explica Bernardo Saraiva, cofundador e diretor da World Talents.

Como e quando surgiu a ideia de criar a World Talents?

A World Talents foi fundada em 2021, tendo como missão construir um ecossistema global de transferência de talento e conhecimento. A nossa visão era clara: criar oportunidades económicas que tivessem um impacto positivo na sociedade e oferecer soluções mais rápidas e simplificadas para empreendedores que desejassem expandir a sua pegada em outros países.

A nossa equipa trouxe para este projeto mais de uma década de experiência em serviços de migração de investimento, tendo apoiado centenas de indivíduos de elevado património líquido a estabelecerem-se e investirem em novos mercados. No entanto, identificámos a necessidade de ir além da mobilidade de capital financeiro e a focarmo-nos igualmente no capital humano, o verdadeiro motor de inovação e progresso.

Formalizámos programas de mobilidade de talento que conectam universidades, centros de investigação e o ecossistema empreendedor, permitindo que os empreendedores do futuro encontrem o suporte necessário para prosperar num mundo cada vez mais interligado.

“Os países e organizações procuram profissionais inovadores e empreendedores fundamentais para fortalecer a competitividade e fomentar a inovação”.

Quais as tendências que mais têm verificado ao nível da mobilidade de talentos?

A mobilidade de talentos tem-se concentrado na atração de capital humano qualificado, um recurso cada vez mais valorizado e essencial para enfrentar a transformação económica impulsionada por tecnologias como a inteligência artificial e pelos desafios do ecossistema empreendedor. Os países e organizações procuram profissionais inovadores e empreendedores fundamentais para fortalecer a competitividade e fomentar a inovação.

Entre as tendências mais promissoras destaca-se a crescente colaboração entre universidades e start-ups em investigação e desenvolvimento (I&D). Estas parcerias geram soluções tecnológicas que respondem a desafios reais da indústria, com áreas como inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis a liderar. Além disso, os hubs de inovação nos campus universitários promovem a troca de ideias e uma cultura de inovação contínua, aproximando estudantes, investigadores e empreendedores num ambiente colaborativo. Com esta abordagem, todas as partes envolvidas no processo de mobilidade beneficiam diretamente, contribuindo para a construção de ecossistemas sustentáveis de desenvolvimento e inovação.

Nos últimos anos, Portugal tem-se destacado como um destino cada vez mais atrativo para empreendedores globais. O que acha que tem contribuído para este cenário?

Portugal tem vindo a afirmar-se como um destino privilegiado para empreendedores globais devido a uma combinação única de fatores. A localização estratégica do país, com acesso facilitado ao mercado europeu e ligações com países de língua portuguesa, é bastante atrativo. Além disso, o ambiente acolhedor, a excelente qualidade de vida e os custos operacionais competitivos tornam-no particularmente atrativo para quem procura um equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida.

Outro ponto de destaque são as políticas governamentais que incentivam a inovação e o empreendedorismo. Programas de apoio a start-ups, como aceleração e incubação, e um sistema fiscal competitivo, incluindo benefícios fiscais para residentes não habituais, têm atraído um número crescente de empreendedores e empresas internacionais.

Portugal beneficia de um ecossistema universitário robusto, que estimula a colaboração entre a academia, start-ups e empresas, e que promove a inovação em áreas estratégicas como inteligência artificial, energias renováveis e biotecnologia. Esta sinergia entre talento local e internacional, aliada a um ambiente estável e inovador, posiciona Portugal como um dos hubs tecnológicos mais dinâmicos da Europa.

“Mais recentemente, o dinamismo crescente do ecossistema universitário e de start-ups tem captado a atenção de empreendedores que veem em Portugal uma oportunidade para escalar os seus projetos  (…)”.

E o que torna Portugal um destino atrativo para empreendedores e empresas globais que estão a considerar alternativas aos EUA?

O país destaca-se por um conjunto de fatores socioeconómicos altamente competitivos. Além da qualidade de vida, que é frequentemente apontada como um dos seus fatores mais atrativos, Portugal é reconhecido pela hospitalidade que facilita a integração de empreendedores internacionais. O sistema fiscal competitivo é também um ponto chave. Mais recentemente, o dinamismo crescente do ecossistema universitário e de start-ups tem captado a atenção de empreendedores que veem em Portugal uma oportunidade para escalar os seus projetos e aceder ao mercado europeu de forma mais eficiente.

Quais os maiores desafios que os empreendedores enfrentam ao tentar estabelecer-se em Portugal e como a World Talents os pode ajudar?

Os empreendedores enfrentam desafios como a adaptação ao sistema burocrático, a compreensão da legislação local e a dificuldade em aceder a redes de contatos relevantes e apoios específicos para o desenvolvimento dos seus projetos. A obtenção de vistos, a procura de financiamento e a inserção em ecossistemas empresariais também são barreiras significativas, especialmente para quem vem de realidades empresariais distintas.

A World Talents atua como uma ponte neste processo, ajudando os empreendedores a navegar o ecossistema português com maior facilidade. Oferecemos orientação personalizada sobre a legislação e incentivos disponíveis, além de criar ligações com universidades, incubadoras e parques tecnológicos que disponibilizam infraestrutura, conhecimento e redes de mentoria. Através de parcerias estratégicas, promovemos um suporte integrado que reduz barreiras, agiliza processos e cria condições favoráveis para que os empreendedores possam focar-se no crescimento sustentável dos seus negócios.

Como é que a World Talents apoia a mobilidade de talento entre ecossistemas de start-ups locais e universidades em Portugal? Que iniciativas têm organizado?

A World Talents encontra-se na linha da frente desta transformação, ao promover e facilitar parcerias entre universidades e empreendedores através do nosso programa, Global Talent Portugal. Ao conectar start-ups com professores, estudantes e investigadores, ajudamos a fortalecer a interação e a criar novas oportunidades para projetos colaborativos. A nossa abordagem inclui a identificação de áreas de interesse mútuo, a criação de eventos de networking e a promoção de programas de aceleração que respondem tanto às necessidades das universidades como dos empreendedores, permitindo que ambos cresçam e se beneficiem desta colaboração.

Temos parcerias formalizadas com instituições como a Universidade de Coimbra, a Universidade de Évora, a Universidade do Algarve, o Sines Tecnopolo, o UAlg Tec Campus, o Algarve Evolution (UAlg Tec Campus), o ISTEC e o Politécnico de Setúbal, além de outras em processo de formalização.

“(…) incorporar disciplinas focadas em empreendedorismo e inovação nos currículos pode preparar estudantes para desafios reais, estimulando uma visão mais criativa e orientada para soluções práticas”.

O que podem as universidades fazer para integrar melhor os empreendedores no seu ecossistema? E as empresas?

As universidades são peças-chave na criação de ambientes que estimulem a inovação e atraiam empreendedores. Para integrar melhor esses profissionais, podem implementar iniciativas como laboratórios colaborativos e programas de aceleração adaptados a diferentes setores, garantindo acesso a ferramentas práticas e apoio técnico. A organização de fóruns, competições de start-ups e encontros entre academia e indústria também contribui para fortalecer conexões estratégicas e a troca de ideias.

Além disso, incorporar disciplinas focadas em empreendedorismo e inovação nos currículos pode preparar estudantes para desafios reais, estimulando uma visão mais criativa e orientada para soluções práticas. A World Talents atua nesse contexto, fomentando parcerias entre universidades e empreendedores, facilitando projetos conjuntos que impulsionam a transferência de conhecimento e a criação de novas oportunidades económicas.

As empresas podem desempenhar um papel complementar ao criar parcerias de longo prazo com instituições de ensino, financiar projetos de investigação aplicada, e promover programas que conectem start-ups e jovens talentos aos seus ecossistemas. Investimentos em hubs de inovação e iniciativas de codesenvolvimento ajudam a criar um ciclo sustentável de colaboração entre empresas, universidades e empreendedores.

“Aberto a uma nova era de mobilidade de talento, Portugal tem a oportunidade de atrair e reter algumas das mentes mais brilhantes, capazes de impulsionar a sua inovação e competitividade”.

Quais as maiores oportunidades que Portugal pode aproveitar para se tornar um centro de inovação global?

Aberto a uma nova era de mobilidade de talento, Portugal tem a oportunidade de atrair e reter algumas das mentes mais brilhantes, capazes de impulsionar a sua inovação e competitividade. Com um foco crescente em tecnologias emergentes, como inteligência artificial, biotecnologia e energias renováveis, o país pode afirmar-se como líder em setores de alta tecnologia, promovendo um ecossistema mais integrado entre empresas, start-ups e instituições académicas.

Para alcançar este objetivo, é essencial simplificar os processos burocráticos, tornando mais ágil a integração de empreendedores e empresas. Além disso, o aumento dos incentivos fiscais para pesquisa e desenvolvimento, o fortalecimento de programas de mentoria e financiamento e a expansão de parcerias internacionais com universidades e parques tecnológicos são passos cruciais para atrair inovação e fomentar a transferência de conhecimento.

Que iniciativas têm previstas até ao final do ano?

Até ao final do ano, vamos expandir a nossa rede de parcerias com universidades e instituições relevantes, reforçando os processos colaborativos entre a academia e o ecossistema empreendedor ainda mais. Recentemente, anunciámos parcerias com a Universidade de Évora e o ISTEC, e estamos a trabalhar para estabelecer novas colaborações estratégicas que resultarão em projetos de pesquisa e inovação, bem como capital alocado a start-ups.

Projetos para o futuro da World Talents?

A World Talents pretende continuar a expandir a sua presença em diversos mercados, replicando o sucesso de iniciativas como o Global Talent Portugal. Um dos focos principais para o futuro será promover a mobilidade de talento como um motor fundamental para a inovação e o crescimento económico, inclusivo e sustentável. Ao estabelecer parcerias mais fortes com universidades, governos e entidades privadas, iremos construir ecossistemas que capacitem empreendedores, empresas e profissionais.

 

Comentários

Artigos Relacionados

Ricardo Tomé, diretor-coordenador da Media Capital Digital
Ricardo Lima Neves, IT Service Management na Altice