Entrevista/ “As start-ups de Lisboa estão a alcançar mais Global Market Reach”

O CEO da Startup Genome falou ao Link to Leaders do projeto que lidera, analisou globalmente o universo das start-ups e falou da forma como Portugal, e Lisboa em particular, está a conquistar Global Market Reach.
Como descreve a Startup Genome?
A Startup Genome aconselha os líderes de ministérios, agências e organizações de inovação sobre como acelerar o crescimento dos ecossistemas de start-ups através de políticas baseadas em evidências – isso significa concentrar os recursos escassos de um governo e comunidade nas acções que alcançarão o máximo impacto com base em lacunas específicas de recursos e fase de desenvolvimento. Para isso, construímos a maior plataforma de conhecimento do mundo – contando com mais de 300 parceiros em 28 países partilhando conhecimento e trabalhando para capturar a voz do empreendedor – fundadores de mais de 10.000 start-ups a responder ao nosso inquérito, anualmente – e dados de mais de milhões de empresas.
Quais são os seus objetivos?
Acelerar o desenvolvimento de ecossistema de inovação mais pequenos, por todo o mundo, para que se possam tornar o motor da criação de trabalho e crescimento económico e reduzir a actual concentração: 85% do valor de saída é produzido pelas cidades no top 10 localizadas em 4 países. Isto cria alguns vencedores e muitos perdedores nesses 4 países e está a levar a uma instabilidade política. Estamos a trabalhar para reduzir esta concentração atavés do conhecimento e de políticas e programas de inovação direccionadas.
Quais as conclusões principais do relatório 2017 do Ranking do Ecossistema da Startup Genome Ecosystem?
A um nível elevado, existem três conclusões chave que retiro do Relatório 2017 do Ranking do Ecossistema da Startup Genome: Primeiro, as startups continuam a ser fontes super positivas na sociedade, com empresas novas e jovens a criarem a maioria dos empregos e o sector da tecnologia a crescer duas vezes mais depressa que a economia global.
Segundo, a Conectividade Global – uma medida de relações internacionais entre empreendedores – é um aspecto chave do desempenho do ecossistema das start-up, com os ecossistemas de start-up conectados globalmente a criar mais escalas do que as com menos ligações. Nesse sentido, start-up focadas no global crescem duas vezes mais depressa do que as start-up focadas no nacional.
E terceiro, Apesar de todos os benefícios as startups criam para a sociedade, o valor criado é muito concentrado. 85% do valor que sai do sector de tecnologia está concentrado em apenas 10 cidades. 5 das cidades que reteam a maioria fatia deste valor, os top 5 ecossistemas com o desempenho mais elevado no ranking da Startup Genome eram: Silicon Valley, Nova Iorque, Londres, Pequim e Boston
Porque que motivo devemos, ativamente, acompanhar e medir as comunidades de start-ups? Compreender, acompanhar e medir o desempenho e as lacunas do Motivo de Sucesso do ecossistema das startups permite monitorizar o impacto de políticas passadas e programas para atingir o máximo de impacto com recursos escassos – conhecer todos os governos tem recursos limitados.
Está também relacionado com uma aprendizagem para desenvolver o conhecimento que falta sobre como criar um ecossistema de startup do nada. O que sabes é que não tem haver com os segredos do Silicon Valley – porque o seu segredo principal é que foi criado por tens of billions em investimento governamental durante várias décadas e levou à criação do sector tecnológico, algo que não pode ser replicado.
Na sua opinião, quais são os principais desafios da vida empreendedora e como os enfrentar?
Um desafio chave na jornada empreendedora é o sentimento de solidão – construir um negócio exige muito trabalho e, por vezes, pode parecer que ninguém entende o que estamos a passar. Uma forma importante de enfrentar é estabelecer uma ligação com a comunidade local – outros empreendedores, mentores e investidores – e aperceber-se que não está sozinho, existem outros com os quais pode aprender.
Como é que nasceu a inovação e como pode ser estruturada de forma a que seja bem-sucedida?
É boa questão e para a qual não existe apenas uma resposta, uma vez que inovadores diferentes e investigadores já deram resposta a esta questão de formas diferentes. Mas há uma coisa da qual podemos ter a certeza: a inovação requer fluxo e colisão. Fluxo de pessoas e ideias ao longo de diferentes esferas, com oportunidades para essas pessoas e ideias para colidir e gerar novas formas de ver o mundo. Com estes dois conceitos presentes, uma forma de ajudar o nascimento da inovação é promover comunidades empreendedoras dinâmicas, que atraem recursos nacional e globalmente; e misturar pessoas e experiências diversificadas dando-lhes a oportunidade de criarem novas inovações e empresas.
Que conselho dá aos Governos de todo o mundo de forma a acelerar o crescimento de ecossistemas empreendedores?
Aconselho os decisores políticos de todo o mundo a focarem-se num enquadramento de políticas baseadas em evidências: Primeiro, definam o seu foco. É muito fácil ter uma abordagem “kitchen sink”, tentar fazer muito ao mesmo tempo. Mas uma ação que faça sentido para um ecossistema ativo e maturo pode ser um completo desperdício de dinheiro para um ecossistema numa fase inicial. Concentrando-se nas questões certas no momento certo, por exemplo, usando Lifecycle do ecossistema da Startup Genome como guia, ajuda a concentrar a acção do governo para maximizar o impacto.
Segundo, use evidências baseadas em dados concretos para estabelecer clareza entre os seus stakeholders sobre que lacunas no ecossistema devem ser abordadas. É muito mais eficaz agir quando existe um consenso no ecossistema sobre as lacunas que têm que ser preenchidas.
Terceiro, todo o ecossistema tem forças singulares. Algumas têm sectores corporativos fortes, outras têm conhecimento profundo e tradição em indústrias específicas, e outras têm comunidades académicas prósperas. Alavancar as forças da sua comunidade vai permitir-lhe acelerar o seu crescimento.
Quatro, aja em alavancas muito específicas que já provaram a sua capacidade de resolver lacunas noutros ecossistemas que estavam na mesma fase que a sua.
E que conselho dá a empreendedores com problemas na estratégia de negócio?
Não tente resolvê-lo sozinho. Traga conhecimentos externos de pessoas que já se depararam com problemas semelhantes – incluindo investidores, empreendedores experientes, e a tua própria equipa.
As suas funções anteriores incluem ter sido COO da Eolica Power, CFO da ConnectAndSell, Inc., e CEO da Iscopia Software. Quais são as principais lições que pode partilhar com outras start-ups?
Forje relacionamentos com outros e partilhe favores, conhecimentos e experiências com eles, continuamente. Faça-o numa base local e global. Os relacionamentos são o tecido do conhecimento, especialmente no sector da tecnologia, e uma fonte bidirecional de apresentação entre clientes, investidores e outras apresentações valiosas. Ajudem e aprendam uns com os outros e todos ganham.
Onde devo localizar a minha start-up para ter a melhor hipótese de sucesso?
Esta é a questão central à qual a nossa classificação dá resposta. Então, se o sucesso for o seu único foco, o ranking Startup Genome mostra que os ecossistemas com melhores recursos para aumentar o desempenho de inicialização são Silicon Valley, Nova Iorque e Londres. No entanto, e não medimos nada disso, além de analisar essas métricas, como empreendedor, deve olhar para os ecossistemas que fazem mais sentido para você individualmente, incluindo a qualidade de vida e o custo de vida, e para sua start-up. Considere um ecossistema com pontos fortes no seu subsector ou vertical. Por exemplo, um ecossistema pode não ser o melhor no FinTech, mas pode ser ótimo em AgTech ou AI.
Como é o ecossistema empreendedor em Portugal?
Embora o ecossistema de start-ups tecnológica, em Portugal, esteja em relativa infância, Lisboa, atualmente, conta com mais de 15 incubadoras, 20 programas de aceleração e uma comunidade knockout de Business Angels e investidores em capital de risco. Lisboa já abriga cerca de 200 a 300 lojas de tecnologia e o ecossistema possui uma característica fundamental que a distingue da maioria dos ecossistemas em todo o mundo: é incrivelmente conectado globalmente. Empreendedores em Lisboa têm uma média de 10,1 ligações globais para empresários em ecossistemas superiores (em comparação com uma mediana global de 6,1 ligações). Impulsionadas por esta ligação global, as start-ups de Lisboa estão a alcançar mais Global Market Reach, com uma média de 20% dos clientes fora do continente (em comparação com uma mediana global de 13%). Os eventos globais que estão a ser organizados em Portugal, como a Web Summit contribuíram claramente para o Conhecimento Global dos empreendedores da região.
O que espera das start-ups do futuro?
O desenvolvimento chave que eu espero das start-ups do futuro é uma mudança para as indústrias do “mundo real” além de apenas a tecnologia da informação. As revoluções empresariais do passado e presente recentes foram construídas quase que inteiramente na base da internet e foram conduzidas pelo sector da tecnologia da informação e comunicações. No presente e no futuro, como o investidor Steve Case descreveu: as start-ups entrarão em sectores atualmente dominados por grandes empresas tradicionais – em áreas como agricultura, finanças, energia e educação.
Respostas rápidas
O maior risco: mudar-me para Toronto sem dinheiro para encontrar trabalho e aprender inglês, quando mal conseguia entender as perguntas durante as entrevistas de trabalho!
O maior erro: começar uma start-up num espaço onde apenas tinha sido cliente, e não me focar no networking com e aprender de muitos outros.
A melhor ideia: ouvir e aprender com outros mais do que favorecer o seu grande intelecto – já não estamos na universidade.
A lição mais importante: o equilíbrio leva a mais felicidade do que o sucesso e a vida diferida. É uma maratona – a longo prazo, ter uma boa vida, ser feliz e cuidar da felicidade dos outros faz de você um líder melhor – e amigo.
A maior conquista: compreender-me.