As 10 grandes invenções tecnológicas de 2019, segundo Bill Gates

Uma vacina para o cancro, carne sem carne animal e capturadores de dióxido de carbono. Conheça aquelas que, para Bill Gates, são as dez grandes invenções tecnológicas de 2019.
Desde 2001 que o MIT Technology Review faz uma previsão anual de quais serão as tecnologias que vão potenciar a inovação e dar que falar. Este ano, pela primeira vez desde que esta lista arrancou, não é a equipa editorial da publicação que define as dez grandes invenções tecnológicas, mas sim um curador externo – neste caso, Bill Gates.
No artigo, o cofundador da Microsoft explica que não queria apenas tecnologias que fossem dar que falar na imprensa, mas também invenções que capturassem o momento que vivemos na história da tecnologia.
Se no ano passado os destaques foram para inovações tecnológicas de impacto maior no tecido empresarial – como a impressão 3D de metal e a acessibilidade da inteligência artificial – este ano os destaques vão para causas ambientais e sociais – não fosse Bill Gates o curador.
De hambúrgueres que não são feitos de carne a vacinas para o cancro, a edição de 2019 tem invenções de vários ramos da ciência, ora confira:
Destreza robótica
Apesar de todo o mediatismo à volta da possibilidade das máquinas tomarem conta do mercado de trabalho, os robots industriais ainda têm dificuldade em realizar tarefas que são fáceis para a maioria de nós.
“Por exemplo, pegar num copo e levá-lo à mesa é fácil para nós, mas para as máquinas é muito complicado”, referiu Jim Stolze, fundador da Aigency e líder da SingularityU Holanda, numa recente entrevista ao Link to Leaders.
Um robot de uma linha de montagem pode fazer a mesma tarefa repetidamente com alta precisão, mas basta movermos uma peça uns centímetros para que a máquina não saiba o que fazer.
Contudo, esta realidade está prestes a mudar. Um pouco por todo o mundo começam a surgir projetos de máquinas que conseguem correr, saltar e agarrar com a mais alta precisão. A Dactyl é um desses casos. A equipa de São Francisco dotou um humanoide de várias câmaras e luzes que permitem que o robot corra uma simulação antes de tentar agarrar num determinado objeto – isto só é possível através de um complexo sistema que combina vários tipos de tecnologias.
Outro exemplo surpreendente é uma invenção de 2017 da Boston Dynamics – que apesar de não ter a destreza para segurar num copo, consegue passar por cima de obstáculos e fazer mortais.
View this post on Instagram
Nova onda de energia nuclear
Novas invenções nos reatores de fusão e fissão estão a aproximar-se. As atualizações a este tipo de tecnologia podem tornar esta fonte de energia mais segura e barata. Uma nova geração de reatores de fissão, a utilização de pequenos reatores modulares e até mesmo o desenvolvimento de reatores de fusão, são invenções que podem estar mais perto do que pensamos, segundo Gates.
A esperança do cofundador da Microsoft está especialmente nos pequenos reatores modulares que conseguem gerar dez vezes mais energia do que os que estão atualmente em funcionamento. Além disso, esta nova invenção é tida como mais segura e benéfica ambiental e financeiramente.
Prever bebés prematuros
Estatísticas apontam para que um em cada dez bebés nasçam prematuros, um problema que pode levar a que os recém-nascidos desenvolvam dificuldades respiratórias e cardíacas.
Tendo isto em consideração, é importante descobrir quais as grávidas que vão ter bebés prematuros, porque, desta forma, os médicos podem ser alertados e preparar as condições para aumentar a probabilidade de sobrevivência dos recém-nascidos.
Já há testes para descobrir isto, mas que, até há pouco tempo, incluíam processos invasivos. Felizmente para todas as mães, o bioengenheiro de Stanford, Stephen Quake, descobriu uma forma de fazer este teste com uma simples análise ao sangue.
Segundo o cientista, a tecnologia por trás do teste é rápida, fácil e o procedimento vai custar menos de dez dólares. Quake e a sua equipa lançaram a start-up Akna Dx para começarem a comercializar a invenção.
Sonda intestinal do tamanho de um comprimido

Fotografia de: Bruce Peterson
Uma pequena sonda do tamanho de um comprimido que é passível de ser utilizada sem anestesia – mesmo em crianças ou bebés. Esta é outra das invenções de 2019 destacadas por Bill Gates. Guillermo Tearney, patologista e engenheiro no Massachusetts General Hospital, em Boston, está a desenvolver uma sonda capaz de inspecionar os intestinos e até recolher tecido para biopsias.
A ideia é combater a enteropatia ambiental, uma das doenças mais caras de tratar e que se destaca pelos intestinos inflamados e pela dificuldade em absorver nutrientes. É comum nos países mais pobres e uma das razões para as pessoas terem problemas de desenvolvimento e nunca atingirem uma altura normal. Outro dos problemas é que ninguém sabe qual é a causa desta doença.
O benefício mais importante desta pequena sonda – que contém “microscópios miniatura” e que está presa por um fio – é o facto de ser facilmente utilizável num primeiro encontro com um médico, ao contrário das endoscopias que precisam de um procedimento mais demorado e de maior preparação.
A tecnologia poderá também ser utilizada para outros fins, como para o diagnóstico prévio de cancro no esófago.
Vacinas personalizáveis para combater o cancro
Bill Gates é um ávido defensor das vacinas. O filantropo diz acreditar que os cientistas estão perto de começar a comercializar a primeira vacina personalizada contra o cancro. A ideia é incentivar as defesas naturais do corpo a destruir as células cancerígenas ao identificar mutações em cada tumor.
Ao contrário da quimioterapia, esta solução não causa tantos danos às células vivas, o que significa que o sistema imunitário está mais forte e mais alerta para atacar quaisquer células cancerígenas depois do tratamento inicial.
Esta solução envolveu mais de quinze anos de trabalho. Em 2008, cinco anos depois de ter começado o Human Genome Project, foi publicada a primeira sequência de uma célula de um tumor cancerígeno. Pouco tempo depois, os cientistas começaram a comparar as sequências das células malignas e das saudáveis – o que revelou que as células cancerígenas têm milhares de mutações específicas, muitas delas únicas a cada tumor.
Posteriormente, a BioNTech – uma start-up alemã – mostrou que é possível dotar o sistema imunitário das pessoas com defesas contra o cancro ao reproduzir cópias destas células e inseri-las no corpo através de vacinas.
Atualmente, as duas empresas estão a desenvolver novas técnicas de fabrico para produzir milhares de vacinas personalizadas de uma forma rápida e barata. Apesar de parecer uma luz ao fundo do túnel, o método de produção pode dificultar o processo. Isto porque é necessário fazer uma biopsia ao tumor do paciente, sequenciá-lo, analisar o seu ADN, levar essa informação para o local de produção da vacina, produzir e só depois levar a vacina de volta ao hospital e administrá-la. A rapidez de todo este processo é fundamental.
Um hambúrguer que parece de carne – mas que não tem carne
São cada vez mais conhecidos os danos que a produção em massa de carnes vermelhas causa no ambiente. As Nações Unidas esperam que, até 2050, a população mundial passe dos sete mil milhões atuais para 9,8 mil milhões. Por esta altura, o consumo de carne vai aumentar 70% quando comparado com 2005.
Portanto, é fundamental criar soluções diferentes. Uma das respostas vem da Impossible Foods, empresa que criou um hambúrguer que parece de carne – e que supostamente sabe a carne -, mas que é feito de hemoglobina de soja, uma proteína que contém hemo, a mesma molécula que transporta oxigénio no nosso sangue e que o torna vermelho.
Quando comparado a um hambúrguer normal, soluções como o Impossible Burguer preveem uma produção 90% menos penosa para o ambiente.
Saliente-se que Bill Gates é um dos investidores da Impossible Foods.
Capturador de dióxido de carbono
As Nações Unidas acreditam que para pararmos o aumento das temperaturas precisamos de retirar um bilião de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera ainda durante o século XXI.
Mas isto pode ser feito? Felizmente, David Keith, um cientista de Harvard, descobriu que é possível fazê-lo por cerca de 90 euros a tonelada com uma técnica chamada captura direta de ar (direct air capture).
Mais surpreendente ainda é o facto de Keith saber o que fazer com o dióxido de carbono capturado. A start-up Carbon Engineering, cofundada pelo cientista de Harvard e investida por Bill Gates, planeia expandir a sua produção de combustíveis sintéticos através da utilização de dióxido de carbono como um dos principais ingredientes.
Um eletrocardiograma no pulso
É cada vez mais fácil monitorizar a nossa saúde através de dispositivos do dia a dia, como relógios ou bandas. Contudo, a maioria dos smart watches disponíveis no mercado não estão equipados com tecnologia para fazer medições precisas de problemas de coração – a maioria destes aparelhos só mede as pulsações, os passos e a distância percorrida.
Ao contrário de um eletrocardiograma, que tem 12 sensores, os smart watches só têm um sensor. O aparelho utilizado pelos médicos é fundamental para prever ataques cardíacos ou AVCs, mas as pessoas nem sempre conseguem fazer o teste a tempo de prever estes problemas.
No entanto, começam a surgir wearables que tentam ter a mesma precisão de um eletrocardiograma. Uma banda criada pela AliveCor (start-up de Silicon Valley), consegue detetar fibrilação auricular, um dos sintomas comuns para acidentes vasculares cerebrais e coágulos de sangue.
Saneamento sem canalização
Se o saneamento eficiente é um dado adquirido para o mundo desenvolvido, não o é para 2,3 mil milhões de pessoas. A falta de bons sistemas de canalização causa a propagação de bactérias, vírus e parasitas que podem causar cólera e diarreia – uma em cada nove crianças morre desta doença.
Sistemas de saneamento eficientes energeticamente podem operar sem canalização e tratar o lixo no local. Este foi um dos desafios criados em 2011 por Bill Gates: “como é que podemos reinventar as casas de banho para que não precisem de canalização?”
A ideia era ajudar as sociedades em risco e, desde então, surgiram algumas soluções nesta área. Sanitas com depósitos de minhocas e contentores que aquecem os detritos e os transformam em adubo são apenas duas das inovações.
Ao que parece ainda não surgiu nenhuma solução escalável e suficientemente boa para resolver o problema, mas todos os anos surgem novas ideias – e 2019 pode ser o ano em que isso acontece.
Assistentes virtuais mais inteligentes
Siri, Alexa, Google Assistant, Bixby, Cortana. É muito provável que esteja familiarizado com pelo menos um destes assistentes virtuais. Na visão de Bill Gates, estas tecnologias falharam redondamente naquilo que lhes era pedido: facilitar a vida dos humanos.
Apesar de serem capazes de realizar microtarefas, como ligar um alarme, mudar a música ou baixar o volume, todas estas indicações têm de ser dadas com base num conjunto de comandos específicos – estes assistentes não nos entendem como nós nos entendemos uns aos outros, o que acontece independentemente da linguagem que utilizamos.
No entanto, começam a surgir novos, mais capazes de responder às nossas necessidades. Exemplo disso é o Google Duplex e o AliMe (o assistente da Alibaba). Gates acredita que esta nova onda vai finalmente revolucionar a área dos assistentes virtuais.