Opinião

Artista indiana Shalini Passi: “Os artistas precisam de se motivar uns aos outros em vez de competirem”

Shalini Passi, fundadora da Shalini Passi Art Foundation

Shalini Passi, colecionadora de arte e filantropa de Nova Deli, sempre apoiou os artistas indianos contemporâneos. Foi considerada pela Forbes uma das 10 principais empresárias na Índia. Em 2018 criou a Shalini Passi Art Foundation, que procura dar voz aos artistas indianos emergentes, e a plataforma online MASH, de promoção de nomes ligados à arquitetura, arte, design, artesanato e moda. O Link To Leaders entrevistou-a.

O foco de Shalini Passi não se limita apenas ao campo das artes visuais. Ela procura encorajar novas linguagens entre as disciplinas artísticas e eliminar as distinções hierárquicas que existem entre arquitetura, arte, artesanato, design, fotografia e moda.

Na sua casa em Golf Links, na Índia, podemos encontrar uma mistura eclética de obras modernas e contemporâneas de Bharti Kher, Subodh Gupta, Jitish Kallat e Atul Dodiya; e objetos de arte e vídeo arte de ponta de Sonia Khurana e Rohini Devasher. Para defender a sua ideia de arte, Passi lançou a Shalini Passi Art Foundation, que procura promover uma nova linguagem estética dentro da vanguarda indiana, e o MASH (My Art Shalini), uma plataforma para descoberta de diferentes disciplinas que apresenta artigos e entrevistas com artistas emergentes.

Ao Link To Leaders, Passi fala de como descobriu a artista que há dentro de si, do que é preciso para promover um maior apoio aos artistas emergentes e ajudar a moldar o futuro do mundo da arte, e dos seus projetos na Índia, incluindo o seu envolvimento na educação das crianças pobres em Nova Deli.

Quando e como descobriu a artista que há dentro de si?
Venho de uma família com inclinação artística. Dado que a minha família está no ramo da construção e o meu tio é arquiteto, tive a oportunidade de ver a criação de perto. Desde muito jovem fui apresentada à arte e tive a oportunidade de visitar vários museus em todo o mundo, o que me ajudou ainda mais a aprimorar os meus conhecimentos.

Para si, a arte traz sentido à vida. Como é que a arte mudou a sua visão do mundo?
Acredito que a vida é curta demais para se expressar, por isso a arte existe. A arte ajuda a articular e a expressar o conhecimento tácito que não pode ser expresso por palavras. A arte agrega valor à vida. A arte proporcionou-me múltiplas perspetivas de olhar para o mundo. Ensinou-me a compreender, a fazer introspeções e a manifestar o meu entendimento da realidade como um pintor transforma os seus pensamentos numa tela bidimensional. A arte expandiu e aprimorou o meu conhecimento esotérico e motivou-me a partilhar o que sei.

“Os artistas precisam de se motivar uns aos outros em vez de competirem. O artista numa criança precisa de ser reconhecido e encorajado ainda mais”.

O que é preciso acontecer na Índia para haver um maior apoio aos artistas emergentes e ajudar a moldar o futuro do mundo da arte?
Colaboração e mais colaboração! Os artistas precisam de se motivar uns aos outros em vez de competirem. O artista numa criança precisa de ser reconhecido e encorajado ainda mais. Pais, colegas, amigos, educadores artísticos, visionários artísticos, institutos… todos desempenham um papel fundamental neste processo. Mais do que tudo, um trabalho em equipa de praticantes de arte, artistas, fundações, galerias, educadores de arte e institutos moldará o futuro do mundo da arte. Este sim é esforço coletivo para a melhoria do mundo da arte.

Pode falar-nos da missão da Shalini Passi Art Foundation de promover o surgimento de uma nova linguagem estética para as artes?
A Shalini Passi Art Foundation esforça-se para criar um novo paradigma para a expressão artística na Índia, apoiando, educando e encorajando as novas práticas experimentais no campo das artes – incluindo arte, artesanato, design, arquitetura, moda e joias – que se inspiram nas ricas tradições culturais da Índia para criar uma estética contemporânea para a Índia. A fundação oferece uma plataforma intelectual muito necessária dentro do ecossistema das artes, o que acelera o surgimento de uma nova linguagem estética para o país.

Esteve envolvida na educação de crianças pobres em Deli, proporcionando oportunidades para que aprendessem sobre artes e ofícios. Por que acha que aprender arte desde tenra idade é tão importante?
A arte é um meio poderoso através da qual uma pessoa pode entender-se melhor e ajudar a melhorar o nosso ambiente imediato. A arte é uma ferramenta pedagógica que, quando utilizada de forma eficiente, pode contribuir para a melhoria do nosso ambiente sociocultural e político. A mente de uma criança é uma argila por natureza, que toma a forma moldada. É importante reconhecer o artista numa criança; alimentá-lo e incentivá-lo ainda mais. Isso não só ajudará a fortalecer a imaginação desde tenra idade, mas também enriquecerá o crescimento pessoal.

Como gostaria de ver o desenvolvimento do mundo da arte indiana nos próximos anos?
Acho que a presença digital das galerias de arte indianas nas feiras de arte internacionais é um bom progresso. Eu também gostaria que artistas indianos fossem vistos em vários museus em todo o mundo. Mais documentação da arte contemporânea indiana, bem como da arte tradicional, é muito importante. O foco precisa de ser mudado para diferentes meios de arte e não apenas para a pintura ou a escultura. O videoarte e a performance artística devem ser promovidas como em outros países. A nossa organização MASH acredita nisto. Recentemente, lançamos uma série de podcasts sobre História da Arte.

“O conceito de roupa unissexo é uma afirmação que muita gente está a recorrer hoje em dia e acredito que é um passo rumo ao progresso”.

De que forma acha que a moda contribui para o empoderamento na sociedade?
Qualquer coisa que veste tem o poder de expressar a forma como se está a sentir. Também expressa o seu humor, a sua personalidade. A moda tem uma linguagem própria. Cada desenho ou roupa que uma pessoa usa, expressa algo sobre si. É também o seu gosto pessoal, é de onde você é. A moda é extremamente poderosa, especialmente nestes tempos. Além disso, o conceito de roupa unissexo é uma afirmação que muita gente está a recorrer hoje em dia e acredito que é um passo rumo ao progresso.

Como é sua dia a dia nestes tempos de pandemia?
A minha rotina atual é quase a mesma de antes da pandemia. Tentei seguir a maioria dos protocolos, exceto para socializar aos fins de semana. Isso não está a acontecer. Foi substituído pelos cursos online. Na Índia, podemos viajar. Aproveitando essa oportunidade, tenho feito voos curtos e explorado o meu próprio país em profundidade.

Que conselho daria a um empresário que gostaria de embarcar num projeto semelhante ao seu?
Aconselho os jovens empresários a seguirem o seu coração e a esforçarem-se ao máximo. Muita pesquisa  acaba num novo empreendimento. A cada passo à frente, encontramos desafios. Alguns desafios levam ao fracasso. Mas cada erro/falhanço é um passo de aprendizagem e é uma oportunidade que abre ainda mais novas oportunidades. É uma jornada. Eventualmente, a vida é sobre essa jornada e não sobre chegar a um destino ou ter um objetivo.

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