Entrevista/ “Aprendi a desapegar-me dos resultados, a seguir o fluxo e a aceitar tudo como uma lição”

Marcia Narine Weldon esteve em Portugal, no palco do Building The Future, onde discursou sobre o estado da lei nos negócios e o poder das empresas de tecnologia. O Link To Leaders falou com a advogada e CEO da Illuminating Wisdom, empresa de coaching, consultoria e formação, sobre liderança, questões legais e os seus projetos para o futuro.
“Tenho a sorte de fazer o que amo e de amar o que faço, enquanto sou paga para isso”, começou por dizer no início da entrevista. Marcia Narine Weldon é advogada e fundadora da Illuminating Wisdom, empresa de coaching executivo, consultoria e formação que usa ferramentas baseadas em evidências e na neurociência para transformar vidas e negócios.
Weldon, que é também diretora do Programa de Competências Transaccionais da Faculdade de Direito da Universidade de Miami, defende que “precisamos de entender que as pessoas comunicam e entendem de maneira diferente. Se compreende o estilo de comunicação de alguém, é melhor comunicar da maneira que essa pessoa deseja e não da maneira que você deseja. A regra de ouro diz tratar e comunicar com os outros da maneira que queremos ser tratados. A regra de platina diz tratar e comunicar com eles da maneira que eles querem ser tratados”.
A responsável prepara-se para lançar em março um podcast sobre “lições de vida, meios de subsistência e direito” e, no futuro, o Illuminating Wisdom Institute, que disponibilizará um espaço físico para conferências, retiros de bem-estar e outros eventos.
Quem é Márcia Narine Weldon?
Considero-me uma multi-apaixonada, multi-hifenizada. Primeiro, sou uma mãe orgulhosa de um artista. Em termos de carreira, exerço advocacia há 30 anos, formo líderes e empreendedores em todo o mundo há mais de 25 anos, leciono direito a estudantes de negócios e a estudantes universitário desde 2011. Tenho a sorte de fazer o que amo e de amar o que faço, enquanto sou paga para isso.
Quais as questões legais que os donos de pequenas empresas devem fazer a si próprios?
Independentemente de onde esteja, deve saber quais os contratos, licenças e seguros que precisa para proteger o seu negócio, funcionários, propriedade intelectual, produtos e serviços específicos. Pode precisar de licenças e permissões diferentes, dependendo de onde estiver a operar. E se estiver a comercializar produtos ou serviços em diferentes jurisdições, pode ter que seguir leis das quais nunca ouviu falar, principalmente na área de privacidade de dados. As pequenas empresas e os empreendedores têm menos capacidade de suportar multas e penas por não cumprirem as regras e leis.
Pode partilhar três erros jurídicos a serem evitados por um jovem empreendedor?
Em primeiro lugar, a Internet é fantástica, mas obtenha aconselhamento jurídico de um advogado. Muitas pessoas confiam no YouTube University, no Google e no TikTok e gravitam em torno de vídeos ou blogs de pessoas com muitos seguidores ou “conteúdo” empolgante. Se essa pessoa não for um profissional jurídico, deve ter cuidado com os seus conselhos. E se conseguir um advogado, certifique-se de que lida com a sua especialidade. Nem todos os advogados empresariais são especialistas em propriedade intelectual. De certo que não procurará um dentista para uma cirurgia cardíaca ou vice-versa, por isso verifique se o advogado com quem trabalha entende de negócios, principalmente do tipo de problemas que os novos negócios enfrentam.
Em segundo lugar, proteja a sua propriedade intelectual com antecedência e saiba o que pode ser registado, protegido por direitos autorais e patenteado na sua jurisdição e como protegê-la globalmente. O seu IP pode ser o seu ativo mais importante. E proteja os dados dos seus funcionários e clientes. Os dados são o novo petróleo. Todas as empresas, especialmente as mais pequenas, serão vítimas de um ataque de hackers em algum momento. Certifique-se de ter protegido o seu bem mais valioso e de conhecer as regras que o regem.
Por fim, não recorte e cole formulários, contratos ou materiais de sites de outras empresas, mesmo que sejam muito grandes e conhecidas. As suas informações podem estar desatualizadas, incorretas e provavelmente incluir informações que não são relevantes para si ou excluir informações que são relevantes. Lembre-se, nenhum contrato é completamente neutro e você não conhece o histórico ou as motivações comerciais da pessoa que redigiu o contrato que está a copiar.
“Encorajo os líderes a conhecerem os seus próprios pontos fortes e talentos, e a concentrarem-se neles. E a rodearem-se de pessoas que tenham talentos e pontos fortes que os complementem”.
Cada líder apresenta conjunto único de experiências, pontos fortes e fracos. De que forma o talento e a personalidade influenciam o desempenho da liderança?
Quando formo líderes, colaboradores de alto potencial e empreendedores, começo com uma série de avaliações para entender a sua comunicação, os seus estilos de liderança, as suas motivações e os seus pontos fortes. A maioria dos líderes segue os estilos de liderança que já viu ou então vai para outro extremo. Poucos são os que se tornam em gestores realmente bons, pelo que frequentemente modelam um mau comportamento. Encorajo os líderes a conhecerem os seus próprios pontos fortes e talentos e a concentrarem-se neles. E a rodearem-se de pessoas que tenham talentos e pontos fortes que os complementem. Por outras palavras, a encontrarem pessoas talentosas naquilo que lhe falta.
Muitas vezes pedimos às pessoas que se concentrem em mudar as suas “fraquezas”. O problema é que a maioria das pessoas trabalha melhor quando se concentra nos seus pontos fortes. O grande empreendedor trabalhará nos pontos fracos, mas, se o seu trabalho exigir que use os seus pontos fracos todos os dias na maior parte do tempo, ele não será tão feliz e produtivo como se se tivesse focado nos pontos fortes. É como ter um jogador de futebol profissional a competir nas Olimpíadas como nadador profissional. Os grandes empreendedores provavelmente sair-se-ão melhor do que os outros, mas não atingirão todo o seu potencial.
Da mesma forma, precisamos de entender que as pessoas comunicam e entendem de maneira diferente. Se compreende o estilo de comunicação de alguém, é melhor comunicar da maneira que essa pessoa deseja e não da maneira que você deseja. A regra de ouro diz tratar e comunicar com os outros da maneira que queremos ser tratados. A regra de platina diz tratar e comunicar com eles da maneira que eles querem ser tratados. É uma competência que melhores líderes aprendem e, como resultado, têm equipas muito mais eficazes, comprometidas e produtivas.
O que faz exatamente a Illuminating Wisdom?
A Illuminating Wisdom é uma empresa de coaching, consultoria e formação. Os indivíduos e as empresas contratam-me para ajudá-los a “abraçarem” uma transformação pessoal e profissional duradoura e sustentável. Trabalho com grandes empreendedores em funções de alto stress que parecem ter tudo sob controlo por fora, mas por dentro estão sobrecarregados e stressados. Trabalho com eles de forma holística para que funcionem da melhor maneira quer em casa, quer no trabalho.
Também tenho trabalhado com empreendedores e diretores de organizações sem fins lucrativos. As empresas também me contratam para desenvolver formação sob medida, conduzir investigações e desenvolver programas de compliance. Como sou certificada em reiki, hipnoterapia, respiração e facilitação de meditação, muitos clientes contratam-me para ajudá-los na redução do stress. Graças ao Zoom, posso trabalhar com clientes em toda a parte do mundo.
Como uma organização determina quais os líderes que precisam de ter sessões de coach?
As empresas inteligentes veem o coaching como um investimento. Assim como as equipas desportivas profissionais têm treinadores para treinar os seus melhores atletas, as empresas contratam coaches para desenvolver colaboradores de alto potencial ou de alto desempenho em todos os níveis. O coaching não é apenas uma ótima ferramenta de desenvolvimento, é também uma excelente ferramenta de retenção.
“Se um coach não tem o seu próprio coach, isso significa que ele não está comprometido com o seu próprio desenvolvimento”.
O que é determinante ao selecionar um coach?
O mais importante é a forma. Você confia na pessoa? O coach tem experiência significativa no que precisa e testemunhos? O coach tem um coach? Se um coach não tem o seu próprio coach, isso significa que ele não está comprometido com o seu próprio desenvolvimento.
Quais os métodos de coaching que recomenda?
Algumas pessoas dão-se bem em grupo. Outros preferem o formato one-to-one. Acho que uma combinação de 1:1 (one-on-one) e grupo funciona muito bem para a maioria das pessoas porque elas podem usar a sessão de grupo como guia num espaço seguro para partilhar informações confidenciais.
Esteve em janeiro deste ano em Portugal para participar no Building The Future. Qual a principal mensagem que partilhou com a plateia?
Argumentei que as pessoas de tecnologia são as pessoas mais poderosas do mundo e com o seu poder vem uma grande responsabilidade. Depois de debater o estado da lei nos negócios e nos direitos humanos, usei a inteligência artificial, vigilância e os media social como exemplos da grande influência que as empresas de tecnologia têm e como as suas ferramentas podem ajudar, mas também prejudicar a humanidade.
Vamos olhar para o futuro: Quais são os seus planos para os próximos anos? O que ainda gostaria de fazer?
Gosto de ensinar estudantes de direito e negócio/administração a serem práticos, estratégicos e económicos, e pretendo continuar. Pretendo lançar cursos sobre questões jurídicas e de conformidade para pequenas empresas e empreendedores. Também estou a preparar cursos de coaching online, usando parte do conteúdo que tenho para clientes atuais. Lanço em março um podcast sobre lições de vida, meios de subsistência e direito, e pretendo realizar três retiros de bem-estar por ano. Eventualmente, pretendo abrir o Illuminating Wisdom Institute, que disponibilizará um espaço físico para conferências, retiros de bem-estar e outros eventos.
O que a preocupa mais agora?
Nada. Nas minhas práticas espirituais, aprendi a desapegar-me dos resultados, a seguir o fluxo e a aceitar tudo como uma lição.
“Se um coach não tem o seu próprio coach, isso significa que ele não está comprometido com o seu próprio desenvolvimento”.
Respostas rápidas:
O maior risco: a falta de um contrato social onde as pessoas acreditam num bem comum.
O grande erro: não correr riscos no início da minha vida.
A melhor ideia: gelado de coco.
A lição mais importante: a vida acontece através de si e por si e não para si.
A maior conquista: perdoar pessoas que eu achava imperdoáveis.