Opinião
Antecipar-se ao vírus e às estirpes

Parece ser uma atitude inteligente. Neste século XXI já tivemos diversos ataques, roubando muitas vidas. E a melhor defesa é jogar com uma faca de dois gumes.
Saber donde provêm os vírus e tentar estirpá-los na sua origem. E/ou investigando sobre as variedades mais recentes para idealizar as próximas evoluções, com as possíveis vacinas ou tratamentos. Ter algo estudado e pensado, para que o novo vírus não nos apanhe “de surpresa”.
Parece importante que uma entidade supranacional com autoridade tome iniciativas a bem de toda a população do globo, mantendo-se distante dos caprichos dos dirigentes que queiram impor o seu pensar. Mesmo que um país tenha contribuído com mais dinheiro, aquela Entidade deve estar ao serviço da humanidade, não de um ou de outro país.
Antes, pensávamos que quem investia para desenvolver o saber, ao estar mais avançado sobre os outros, receberia uma justa compensação: como acontece com os produtos farmacêuticos; quem descobre as novas moléculas, tem um adicional de receitas pela sua antecipação. Vende um produto que é comprado pela novidade e pelos efeitos curativos.
As doenças e males do tipo viral, contagiosas, já não são locais, difundindo-se rapidamente em todo o mundo. As comunicações aéreas, quase instantâneas, acabam com as barreiras de proteção, ao levar pessoas infetadas e o vírus para todos os cantos do mundo. Nenhum país se pode considerar hoje uma “ilha”.
Até há algum tempo, havia males localizados. E tratando-se de algo que só acontecia nos países pobres, os Laboratórios de Investigação não investiam, pois não teriam retorno. Criaram-se fármacos para quase todo o tipo de doenças. Mas era muito penoso ver que não havia nenhum programa de Investigação sobre as doenças dos países do terceiro mundo, pobres. E muitos países fizeram-se ricos precisamente à custa desses países pobres, dominados e explorados.
Há um mal, a oncocercose (cegueira do rio), frequente em países da África e América Latina, junto das quedas de água. As moscas do local ao picarem deixam uma microfilaria que se multiplica debaixo da pele humana e se espalha pelo corpo provocando uma terrível comichão. Muitas pessoas sentiam-se desesperadas a ponto de tentarem acabar com a vida…. As microfilárias iam-se movimentando debaixo da pele e muitas delas iam instalar-se na vista provocando a cegueira.
Por certa casualidade se descobriu um produto usado no tratamento dos cavalos, que, elaborado, resultou bem em seres humanos. Era a Ivermectina da qual bastava tomar um comprimido por ano, deixando as microfilárias bloqueadas. Como o ciclo de vida delas é de 12 anos, o tratamento tem de se continuar por esse período.
O laboratório que investigou não teve ninguém para custear a investigação, nem a produção do medicamento, pelo que tomou a seu cargo, criando uma eficaz rede de distribuição gratuita, baseada nas ONGs e “charities”. E o mal foi dominado rapidamente. O laboratório em causa é o Merck Sharp and Dohme, que assim contribuiu para o bem estar de milhões de pobres, quase abandonados!
Ironia do destino: o laboratório acabou por ganhar muito com as vendas do produto para os cavalos. É caso para dizer que um cavalo do rico vale mais do que um pobre… um comentário: talvez tenha animais de estimação. Neste tempo do Covid poderia dar a quantia que gasta com eles a alguma Instituição que dá alimento aos pobres. Se já faz, como parece natural, então dê 5 vezes e ficará feliz!
Se até há pouco os países ricos podiam ignorar os pobres, hoje qualquer doença viral contagiosa depressa se espalha, sem escolher ricos ou pobres. Isso ficou claro com as epidemias dos últimos 20 anos (ébola, SARS, N1H1, etc.), que os ricos já não podem dormir descansados, porque o surto é longe. Nada detem o vírus de chegar num instante ao coração da Europa ou dos EUA. O Covid-19 mostrou-o sem margem para dúvidas e de modo assustador: não há males localizados! Há uma “nova solidariedade” criada pelo vírus!
Daí a necessidade de uma estratégia global para se aprender e se defender dos vírus. Toda a antecipação é vantagem, com estudos e investigação feita sobre os vírus já aparecidos, conhecendo o seu genoma e as evoluções possíveis, para os paralisar ou minimizar os seus efeitos. Conhecer as possíveis variantes dá senhorio sobre a situação, acrescentando novos conhecimentos à medida que vão aparecendo. Dizia o sábio Espanhol que o “caminho se faz a caminhar”.
A Entidade supranacional pode ser a WHO-World Health Organization, que deve conseguir fundos de todos os países, com ênfase nos mais ricos. Não deve ser a WHO a fazer as Investigações, mas atribuí-las a três ou quatro Instituições, já com provas dadas. As empresas farmacêuticas dispõem de cientistas e centros de R&D para estudar e criar defesas contra os males que afetam a saúde. Elas devem ter uma compensação para tais investigações, deixando que os resultados se traduzam em fármacos ou vacinas, em cuja produção, os que investiram devem poder recuperar parte dos gastos.
Convenço-me que qualquer organismo supranacional só deve administrar os fundos. Mas nunca meter-se em R&D; quem trabalha nesses organismos deslumbra-se com a posição, com o ambiente de luxo, acabando por se burocratizar, esquecendo a razão de existir do organismo.
A WHO deve ter especialistas a acompanhar cada uma das doenças com probablidade de se transformar em epidémica. Especialistas bem preparados, inteirando-se das investigações em curso nos variados laboratórios apoiados. Eles devem levar o saber para o campo de ação, onde a doença aparece. O corpo de especialistas deve ser amplo para acorrer ao problema emergente, tentando debelá-lo e treinando Agentes de saúde local, para continuarem a aplicação dos protocolos médicos entretanto definidos.
Quando pouco ou nada se estudou nem se prepararam os especialistas, cada novo problema de saúde aparece de modo angustiante, aterrorizando toda a população.
*Professor da AESE-Business School, do IIM Rohtak (Índia) e autor do livro “O Despertar da Índia”