Entrevista/ “Acreditamos que o mercado de self-storage ainda está no seu início em Portugal”

Albano Costa Lobo, cofundador da Control Space

“Este negócio depende dos ciclos de vida das pessoas e das empresas. Acabamos sempre por precisar de guardar os nossos bens em algum lado”, explica o cofundador da Control Space, empresa portuguesa de soluções de armazenamento na modalidade de self-storage que, recentemente, fez uma joint venture com a Incus Capital.

Seja para responder às necessidades de pessoas a título pessoal, negócios de e-commerce ou mais tradicionais, os espaços de armazenamento da Control Space são 100% automatizados e sustentáveis, oferecendo um serviço digital e flexível, e online booking. O projeto nasceu há três anos, já está presente em Lisboa e Porto, com cerca de duas mil unidades de self-storage, e tem a ambição de continuar a crescer agora que acaba de firmar uma joint-venture com a consultora madrilena Incus Capital com o objetivo de desenvolver a plataforma, fazer novas aquisições de imóveis e suas respetivas reconversões, explicou Albano Costa Lobo. O cofundador da Control Space acredita que este setor de atividade ainda está no início em Portugal, quando comparado com outros mercados, apesar de já haver muitas empresas a recorrer a este tipo de solução de armazenamento.

A aposta da empresa passa pelo crescimento no mercado nacional, pela inovação tecnológica, pelo compromisso com as boas práticas de negócio e de sustentabilidade, bem como pela cada vez maior profissionalização da atividade.

De que forma, a joint venture da Colares Capital (detentora da Control Space) e a Incus Capital vai dinamizar a atividade da Control Space?

Esta joint venture vai dinamizar a atividade da Control Space na medida em que nos vai permitir ser líderes de mercado no setor do self-storage em Portugal. A nossa aposta está nas novas aquisições de imóveis e nas suas reconversões, porque queremos crescer no mercado nacional e estarmos mais presentes em diversas localidades do nosso país.

“Acreditamos que o mercado de self-storage ainda está no seu início em Portugal”

Recentemente anunciaram 50 milhões para o vosso plano de crescimento. O que é que está contemplado nesse plano?

O plano está focado na compra e desenvolvimento de novos armazéns, assim como num reforço da estrutura central, de forma a garantir uma expansão sustentável. Acreditamos que o mercado de self-storage ainda está no seu início em Portugal, pelo que com este investimento vamos também criar mais conhecimento sobre o setor.

Como surgiu esta ideia de criar uma empresa de self-storage?

A ideia da Control Space nasceu, antes de mais, da nossa experiência a viver noutros países, como tantos outros da nossa geração. Mudámos de casa e escritório várias vezes e não tínhamos onde guardar as nossas coisas, pelo que tivemos de recorrer ao self-storage. A empresa nasceu também fruto da nossa análise do mercado e da realidade da vida no nosso país.

Vimos pela primeira vez este negócio em Nova Iorque e acabei por seguir muito de perto o seu desenvolvimento em Londres. Depois, analisámos o negócio, visitámos espaços de self-storage, assistimos a conferências, envolvemo-nos com o setor e começámos a pensar como seria a Control Space – quisemos desde o dia 1 ser uma empresa focada no futuro e para isso qualidade, tecnologia e sustentabilidade tinham que ser a nossa grande diferença.

O nosso país não é diferente do resto do mundo e também aqui as pessoas precisam de mais espaço nas suas casas, seja porque têm de escolher casas mais pequenas porque estas estão realmente mais caras, porque os promotores imobiliários desenvolvem projetos sem espaços de arrecadação ou porque estão em teletrabalho. Famílias que crescem, e que têm de esvaziar um quarto para ter espaço para um bebé, pessoas que recebem uma herança, pessoas que decidem fazer um triatlo e não têm onde guardar todo o equipamento de treino. E, claro, também os negócios locais ou os de e-commerce, em que houve uma explosão, e requerem espaço para stock. No fundo, inúmeras situações que todos conhecemos dos nossos familiares, amigos, colegas e empresas.

“(…) é essencial na nossa área de negócio oferecer um serviço acessível e conveniente, e por isso mesmo estamos onde estão as pessoas e as empresa”.

Quantas unidades de armazenamento têm atualmente?

Neste momento, temos aproximadamente 2.000 unidades de self-storage, espalhadas pelos cinco armazéns que gerimos, com uma área bruta de cerca de 13.000m2. Os nossos armazéns estão situados no coração das cidades: três em Lisboa (Alcântara, Campo de Ourique e Alfragide), um na Zona Industrial do Porto, mesmo junto ao Norteshopping, e temos ainda um novo armazém em desenvolvimento na área da grande Lisboa. Acreditamos que é essencial na nossa área de negócio oferecer um serviço acessível e conveniente, e por isso mesmo estamos onde estão as pessoas e as empresas.

Qual a região do país mais dinâmica nesta matéria?

Lisboa e Porto têm atraído a maior fatia de investimento por parte do setor. Este negócio acaba por estar muito ligado à urbanização, pelo que as duas maiores cidades do país acabam por ser as localidades mais competitivas.

Quem são os vossos clientes? Pessoas ou empresas, quem procura mais os vossos serviços?
A maior parte da procura é, de facto, por parte de pessoas a título pessoal que precisam de espaço extra nas suas casas. Mas sentimos também que há cada vez mais empresas a procurar as nossas soluções. Por um lado, temos negócios de e-commerce que precisam de espaço para guardar o seu material e stock, por outro, negócios mais tradicionais que acabam por procurar exatamente os mesmos serviços.

Curiosamente, e apesar de falarmos de clientes muito diferentes, aquilo que podemos avaliar é que as necessidades de todos – pessoas a título pessoal, negócios de e-commerce e negócios mais tradicionais – são muito semelhantes e a nossa principal mais-valia prende-se com o facto de oferecermos um serviço conveniente (estamos onde estão as pessoas e as empresas) e flexível (oferecemos espaços entre 1m2 e 20m2 e o tempo de permanência mínimo é de apenas 4 semanas).

Assim, o espaço adapta-se às necessidades do cliente, que não paga espaço que não necessita. Para além disto, e porque oferecemos espaços de armazenamento 100% automatizados e dispomos de uma e-rental, em que o cliente pode tratar de todo o processo, desde a escolha da solução mais adequada para si, passando pelo pagamento e até pelo acesso ao armazém através da nossa app, há uma grande liberdade de ação quando se escolhe a nossa empresa.

Na sua opinião, quais os fatores que estão a dinamizar a atividade self-storage no mercado nacional?

Parece-me que há diversos fatores que estão a contribuir para o crescimento do setor de self-storage no nosso país. Por um lado, há evidentemente a questão da crise na habitação que tem empurrado muitas pessoas para casas de menores dimensões, e que tem exatamente a mesma influência nos negócios mais tradicionais. Depois, há tendências relacionadas com o teletrabalho, o crescimento de negócios locais e de e-commerce. Finalmente, este negócio depende dos ciclos de vida das pessoas e das empresas. Acabamos sempre por precisar de guardar os nossos bens em algum lado.

Três anos depois, o projeto está a corresponder ao que tinham previsto para 2024?

Ainda estamos longe do nosso objetivo, mas estamos a conseguir cumprir o nosso plano de negócios – o que normalmente é difícil. Estamos a conseguir criar awareness sobre a nossa empresa, e também sobre o setor. Não podemos deixar de falar, claro, da joint-venture que nos vai permitir acelerar os nossos planos de crescimento.

Portugal é o limite geográfico da vossa atuação ou já têm algum outro mercado no horizonte?

Neste momento, o nosso foco está em Portugal. O nosso país está ainda muito atrás da média europeia em termos de self-storage, para não falar de Inglaterra e Estados Unidos. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos têm 50.000 armazéns, enquanto na Europa o número está em 7.000.

“(…) tem sido uma preocupação nossa enquadrar melhor a atividade do setor no quadro legislativo e profissionalizá-la”.

Como carateriza este setor de atividade em Portugal? Competitivo?

O setor do armazenamento temporário em Portugal é dominado por grandes grupos internacionais e por pequenas empresas familiares, com grande implantação no mercado. É neste mercado bastante díspar que a Control Space se inclui, e tem sido uma preocupação nossa enquadrar melhor a atividade do setor no quadro legislativo e profissionalizá-la.

Tem sido igualmente um compromisso nosso trazer para o país as melhores práticas no âmbito do negócio do self-storage, com recurso a tecnologia de ponta e a um compromisso sério com a sustentabilidade, através da redução do consumo de eletricidade com a utilização de luzes LED acionadas por sensores, da produção de energia verde com painéis solares e da possibilidade dos clientes carregarem o seu carro elétrico enquanto fazem as suas mudanças.

Vamos, no futuro, plantar uma árvore por cada unidade que desenvolvamos. Estamos realmente comprometidos com os critérios de governança ambiental, social e corporativa (ESG) e também com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e acreditamos que podemos ter um impacto positivo nestas matérias e que devemos integrar estas preocupações no nosso modelo de negócio. Na verdade, esta é uma oportunidade para nos diferenciarmos e também para liderarmos usando as melhores práticas no mercado.

Qual o papel da tecnologia na vossa estratégia empresarial?

Assumimos desde o início um compromisso com a inovação tecnológica, e queremos integrar soluções cada vez mais de ponta nos nossos espaços. Procurámos aprender com as melhores práticas noutros países, tendo visitado mais de 50 unidades no mundo, mas especialmente nos Estados Unidos e Reino Unido. Oferecemos unidades 100% automatizadas e todo o nosso serviço é digital, para responder às necessidades individuais de cada cliente; somos os únicos em Portugal no setor a oferecer o serviço de online booking, em que o cliente consegue reservar, pagar, descarregar a aplicação e aceder à sua unidade totalmente online, com toda a flexibilidade, embora também o possa fazer com o acompanhamento dos nossos colaboradores, ao telefone e em loja. Estamos realmente interessados em oferecer um serviço de qualidade e à medida das necessidades de cada cliente.

Quais os principais desafios/entraves vividos nestes últimos três anos para conseguirem pôr o projeto em andamento? Burocracia, investimento?

Diria que a falta de conhecimento do setor por parte de entidades públicas e fornecedores tem sido um dos nossos maiores desafios. Temos feito um trabalho árduo para explicar melhor e dar a conhecer o self-storage, mas dado que o setor é jovem existe ainda falta de parâmetros, de boas práticas e de profissionalismo. Acreditamos que estamos a ajudar a institucionalizar, a aumentar o conhecimento sobre o self-storage e a dar relevância ao setor em Portugal.

Este projeto já é uma aposta vitoriosa ou ainda tem muito caminho para trilhar?

Diria que temos muito caminho para trilhar. Como comentei há pouco, Portugal por muito competitivo que seja ao dia de hoje, ainda tem um longo caminho para crescer neste setor. Queremos que sempre que alguém pense em armazenar, pense na Control Space – sabemos que para chegarmos a isso, ainda temos muito para trabalhar.

Onde quer ver a Control Space em 2025?

A abrir mais armazéns, a estar perto dos nossos clientes e a tentar contribuir para aumentar o conhecimento sobre o setor. Acreditamos que nos próximos anos podemos ser líderes e, para isso, 2025 vai ser mais um ano de trabalho para tentarmos atingir esse objetivo

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