Entrevista/ “A sustentabilidade é um critério com crescente importância na concessão de crédito”

Bárbara Costa Pinto, diretora executiva de Sustentabilidade do BPI

“As PME podem ter interesse em divulgar informação de sustentabilidade (…) para beneficiar de vantagens competitivas na relação com clientes e entidades financiadoras”, explica Bárbara Costa Pinto, nova diretora executiva de sustentabilidade do BPI, em entrevista ao Link to Leaders.

Com um percurso de quase 30 ano no BPI, Bárbara Costa Pinto assumiu, no início de fevereiro, o cargo de diretora executiva de sustentabilidade do BPI. Espera contribuir para que o Banco cumpra os compromissos assumidos no Plano Diretor de Sustentabilidade 2022-2024 e vai dar continuidade à “jornada verde” que a instituição tem traçada.

Bárbara Costa Pinto fala dos desafios que os princípios de sustentabilidade ESG representam para a atividade da banca e lembra ainda que, no plano interno, “é indispensável que trabalhemos de forma próxima, colaborativa e eficaz com todos os stakeholders, incluindo colaboradores, clientes, fornecedores e acionista e que façamos juntos este caminho” [da sustentabilidade].

Quais são as suas principais metas para o cargo que acaba de assumir?
Como diretora de Sustentabilidade do BPI destacaria como meta, antes de mais, o cumprimento irrepreensível pelo BPI (em permanente alinhamento e proximidade com o nosso acionista Caixabank) das crescentes e complexas obrigações regulatórias e de supervisão. Para tal, o acesso e disponibilidade de dados de sustentabilidade com a abrangência e a qualidade necessárias afiguram-se essenciais e estamos a trabalhar afincadamente nesse sentido.

Em simultâneo, e dado que a gestão da sustentabilidade é extremamente abrangente, englobando, tanto os impactos (positivos e negativos) do banco na sociedade e ambiente, como a forma como os fatores ESG geram riscos e oportunidades para o próprio banco, é indispensável que trabalhemos de forma próxima, colaborativa e eficaz com todos os stakeholders, incluindo colaboradores, clientes, fornecedores e acionista e que façamos juntos este caminho. Os exemplos daquilo que estamos a fazer, e dos planos que temos para o futuro, são inúmeros e incluem, a título exemplificativo, o investimento permanente no bem-estar e desenvolvimento dos nossos colaboradores, o apoio aos clientes com produtos financeiros ESG adequados à suas necessidades e o trabalho desenvolvido em conjunto pelo BPI e pela Fundação La Caixa junto dos grupos mais vulneráveis da nossa sociedade.

As metas do BPI em matéria de sustentabilidade são muitas e ambiciosas. Estamos no último ano do Plano Diretor de Sustentabilidade 2022-2024 com a maioria das metas definidas já ultrapassadas ou muito próximas de cumprir. Iniciámos já os trabalhos de preparação do novo Plano 2025-27 com ambição redobrada. A melhor resposta que posso dar é o lema do nosso acionista para a estratégia do Grupo em termos de Sustentabilidade: “Muito foi feito, muito há para fazer”.

Nos dias de hoje, qual o impacto desta área na atividade do banco?
Em 2023, o BPI gerou um volume de negócios sustentável de cerca de 1,9 mil milhões de euros. No âmbito das empresas, o Banco contratou 580 milhões de euros em operações de financiamento de projetos “verdes” ou ligadas a objetivos verdes, a que se juntam mais 29 milhões de euros em linhas de financiamento de apoio à transição sustentável, eficiência energética e reabilitação urbana. Na área da intermediação, o Depósito a Prazo BPI + Ambiente e os Fundos Artigo 8.º e 9.º geraram um volume de 855 milhões de euros. Por fim, áreas como o financiamento à eficiência energética no mercado de habitação ou à construção de habitação social, registaram um volume de negócios de 427 milhões de euros.

Quais os pilares do Plano Diretor de Sustentabilidade do BPI para este ano?
O Plano Diretor de Sustentabilidade 2022-2024 encontra-se em vigor até ao final deste ano, pelo que se mantêm os objetivos gerais:  apoio à transição sustentável nas empresas e na sociedade; liderar nas melhores práticas de governação; e liderar em termos de impacto social e de promoção da inclusão social. Em 2023, demos um impulso significativo na execução do Plano antecipando em um ano algumas metas: no negócio sustentável superámos o objetivo de 4 mil milhões de euros; no impacto social, em conjunto com a Fundação “la Caixa”, já apoiámos mais de 200 mil pessoas; e na igualdade de género superámos a meta de 42% de mulheres em posições de chefia.

“A nível interno será importante criar cada vez mais uma cultura de sustentabilidade em todas as áreas do banco (…)”.

Globalmente, quais os principais desafios que os princípios de sustentabilidade ESG representam para os bancos?
Um dos grandes desafios prende-se com a recolha de dados ESG das empresas, seja no contexto da taxonomia seja no contexto do Reporte de Sustentabilidade. Outro desafio importante é a adaptação aos novos requisitos regulamentares, de grande complexidade e, muitas vezes, ambiguidade. A nível interno será importante criar cada vez mais uma cultura de sustentabilidade em todas as áreas do banco e continuar a promover a sustentabilidade em toda a cadeia de valor incluindo clientes e fornecedores.

Na sua opinião, o setor bancário nacional está a saber adaptar-se a estas exigências da sociedade contemporânea? O que falta fazer?
Sim, sem dúvida. No nosso caso, o conceito de banca responsável faz parte da nossa identidade desde sempre. É evidente que a regulação tem vindo a procurar que os bancos estejam na linha da frente da transformação sustentável das economias, pelo seu papel, no financiamento, pelo que temos vindo a adaptar a nossa oferta e processos internos para dar resposta a esse desafio. Tendo em vista o cumprimento de deveres regulatórios é de esperar que o BPI, assim como os restantes bancos, comece a solicitar informação às empresas tanto no contexto da taxonomia ambiental como no contexto do relatório de sustentabilidade.  A sustentabilidade é um critério com crescente importância na concessão de crédito e o BPI tem já ofertas com condições específicas para acompanhar a transição dos nossos clientes.

Como é que o Banco passa estes princípios para os seus clientes empresariais, por exemplo?
Além do apoio da rede comercial e do lançamento de produtos “verdes” que estimulem a procura, também temos desenvolvido iniciativas de consciencialização e partilha de conhecimento. É o caso do Acelerador de Sustentabilidade, um projeto que visa ajudar as empresas a atingirem os seus objetivos em matéria de sustentabilidade, com apoio na definição de estratégias e acesso a apoios públicos e soluções de financiamento. Por outro lado, estamos também a apoiar, em conjunto com a Fundação “la Caixa”, o Nova SBE VOICE Leadership, um programa de gestão vocacionado para PME, com um enfoque claro na sustentabilidade.

“(…) as PME podem ter interesse em divulgar informação de sustentabilidade (…) para beneficiar de vantagens competitivas na relação com clientes e entidades financiadoras”.

Que tendências antevê nesta jornada da “banca verde”?
É um processo que se vai aprofundar cada vez mais pela necessidade de dar uma resposta às alterações climáticas e à necessidade de transição energética e descarbonização. As grandes empresas estão mais avançadas neste processo, já que dispõem de um marco regulatório claro e dos recursos necessários. No entanto, embora ainda estejam isentas do cumprimento de obrigações imediatas, as PME poderão vir a ter também obrigações (eventualmente mais simplificadas) no futuro. Além disso, as PME podem ter interesse em divulgar informação de sustentabilidade, incluindo quanto ao alinhamento com a taxonomia, para beneficiar de vantagens competitivas na relação com clientes e entidades financiadoras.

Qual o cunho pessoal que gostaria de imprimir à sustentabilidade do BPI?
Tenho a sorte de contar com um percurso pessoal de quase 30 anos no Banco, em diversas áreas. Esta experiência profissional variada e enriquecedora,permite-me ter hoje um bom conhecimento, não só do funcionamento do Banco, como da atividade desenvolvida e das necessidades dos nossos clientes. Tal será extremamente útil para comunicar eficazmente e para estabelecer as pontes que permitam desenvolver cada vez mais uma cultura de sustentabilidade em todas as áreas do banco e nas relações com os clientes.

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