Opinião
Como as consultas virtuais estão a transformar o diagnóstico médico e as oportunidades que englobam
A revolução da telemedicina representa uma das transformações mais significativas no campo da saúde nas últimas décadas, configurando-se como uma oportunidade estratégica para os líderes do setor.
Com o advento da pandemia de COVID-19, a necessidade de garantir a continuidade dos cuidados de saúde à distância tornou-se prioritária, e a telemedicina emergiu como uma solução indispensável. Neste período pós-pandémico, os resultados de ensaios clínicos e estudos científicos começam a fornecer dados concretos, permitindo traçar estratégias fundamentadas para as empresas do setor.
Durante o primeiro ano da pandemia, o uso da telemedicina registou um aumento de 154%, marcando o início de uma nova era na prestação de cuidados de saúde que vai muito além de uma resposta temporária à crise. Atualmente, estima-se que um em cada cinco consultas médicas é uma consulta remota. Este crescimento exponencial é impulsionado pela conveniência, redução de custos e a capacidade de alcançar pacientes em regiões remotas, contribuindo para a descentralização do modelo tradicional que era da consulta presencial de proximidade.
No entanto, a transição para o digital apresenta desafios, especialmente no que concerne à realização de exames físicos, uma componente essencial para um diagnóstico clínico preciso. E, onde há desafios para alguns, existem oportunidades para os empreendedores. A falta de contacto físico é apontada por 43% dos médicos como um fator que compromete a qualidade do diagnóstico, conforme reportado recentemente na revista The Lancet. Esta perceção, contudo, está a evoluir com o aparecimento de novas tecnologias que permitem a realização de exames complexos de forma remota com uma precisão crescente.
A inovação neste campo inclui o desenvolvimento de dispositivos médicos portáteis, como otoscópios digitais e estetoscópios conectados a smartphones, os quais estão a criar um nicho de mercado em expansão com especial foco para os doentes em acompanhamento domiciliário. Ainda, do ponto de vista da colheita de informação pelo clínico, vários guias têm sido desenvolvidos. Por exemplo, ao nível do exame neurológico, este pode ser realizado remotamente por perceção da atitude e a posição da pessoa atendida. Funções cognitivas em geral, memória, linguagem, sinais de atrofia muscular, movimentos involuntários ou anormais, podem ser facilmente avaliados por câmara.
Outra oportunidade é a necessidade de formação contínua dos profissionais de saúde, fator compreendido agora como crítico para o sucesso da telemedicina. A literatura mostra que 67% dos médicos consideram que não receberam formação adequada para utilizar eficazmente as ferramentas de telemedicina, o que representa uma oportunidade significativa para o desenvolvimento de programas de formação especializados. Empresas e instituições de ensino que ofereçam formação em telemedicina podem preencher esta lacuna, proporcionando cursos certificados que ensinem as melhores práticas e o uso adequado das tecnologias emergentes, capacitando os médicos (e não só) a utilizarem estas ferramentas de forma eficiente e segura.
Contudo, para que a telemedicina atinja todo o seu potencial, é essencial superar as barreiras tecnológicas existentes. A conectividade continua a ser um dos maiores desafios, especialmente em áreas rurais. A expansão da infraestrutura de rede por parte de empresas de tecnologia e telecomunicações é crucial para garantir que todos os pacientes possam beneficiar igualmente dos avanços na telemedicina. Além disso, a interoperabilidade entre diferentes sistemas de saúde e plataformas digitais deve ser aprimorada para assegurar que os dados dos pacientes possam ser facilmente partilhados e acedidos pelos profissionais de saúde, independentemente da sua localização.
A revolução da telemedicina está a transformar o diagnóstico médico e a prestação de cuidados de saúde de uma forma que seria impensável há apenas alguns anos. Apesar dos desafios significativos, as oportunidades para inovação e crescimento são substanciais. À medida que as tecnologias evoluem e os profissionais de saúde se adaptam, o futuro da telemedicina promete não só melhorar o acesso aos cuidados de saúde, mas também redefinir a experiência do paciente e a prática médica no século XXI, e esta oportunidade está pronta para ser conquistada.
*Docente universitário, Doutorado em Bioengenharia e aluno de Medicina
Tiago Cunha Reis, Ph.D., é doutorado em Sistemas de Bioengenharia pelo programa MIT-Portugal, tendo desenvolvido o seu doutoramento no Hammond Lab (MIT, EUA). Com foco nas necessidades de translação médica, o então engenheiro é agora aluno de Medicina. Reconhecido por sua paixão pela humanização da tecnologia em saúde e por melhorar ferramentas de diagnóstico e prognóstico, Tiago Cunha Reis possui um amplo histórico de prémios, publicações e nomeações internacionais em sociedades científicas europeias. Fomentador de conhecimento aplicado, fundou uma start-up focada em sensores e inteligência artificial, a qual expandiu internacionalmente antes de ser adquirida no final de 2022.