Opinião

A mudança e a liderança por dever

Teresa Damásio, administradora do Grupo Ensinus

Chegados quase ao mês setembro entramos na época do ano denominada por muitos como a “rentrée”. Este é um mês de azáfama principalmente, para quem tem filhos. Bem vemos esta realidade espelhada nas nossas escolas, muitos alunos ingressam pela primeira vez, outros mudam de ciclo… enfim, é uma fase de ajustar rotinas e horários.

Já para mim, setembro é o mês de começos e de mudanças. Gosto de começar o ano e reunir as minhas equipas de forma a partilhar objetivos e ideias que gostavam de ver implementadas no novo ano letivo. É crucial que possamos em conjunto encontrar algumas soluções para alguns desafios que possam estar a persistir no tempo, promovendo assim processos de melhorias contínuas nas nossas escolas. Quando se trabalha em educação em diferentes níveis de ensino e com projetos educativos tão distintos, como o ensino superior, o profissional e o científico-humanístico, devemos sistematicamente revê-los e melhorá-los em função das necessidades do mercado para que possamos ter um ensino mais competitivo e adaptado às exigências de um mundo em permanente mudança.

Antes de iniciarmos as nossas férias realizámos uma reunião geral com os dirigentes do Grupo Ensinus em que alertei para a importância de existirem dois fatores que para mim são cruciais nas pessoas com quem trabalho: sentido de compromisso com os valores da empresa e ser uma boa pessoa. Acredito que quando se é boa pessoa se chega longe, para mim é mais importante o “ser” do que o “ter”.

Muitos acham que para se estar em cargos de liderança tem de se fazer uma escolha binária entre ser um líder ou ser uma boa pessoa. Para mim, esta escolha é uma falácia. Para se ser um bom líder em primeiro lugar tem de se ser boa pessoa. Não existe outra forma de se ser um bom líder, tem de se ter a capacidade de humanizar as empresas e as equipas. Por isso, gosto de estar rodeada de líderes que são boas pessoas. Aliás, o ser humano não consegue dissociar o “eu profissional” do “eu pessoal”, não somos pessoas diferentes no trabalho e em casa. Não conseguimos esquizofrenicamente mudar quem somos, a nossa índole não se altera por mais que muitos tentem criar personas nos locais onde trabalham.

Quando estamos numa empresa a ocupar um cargo de relevo, assim como na nossa vida pessoal, temos valores morais e éticos que se revelam nas tomadas de decisão dentro das organizações. A ética deontológica de Kant diz-nos que só têm valor moral as ações que são realizadas por dever, ou seja, que cumprem o dever pelo simples respeito do dever. Têm uma obrigação moral e estas são ações realizadas por boas pessoas.

O Grupo Ensinus promove a mobilidade dentro da estrutura organizacional e muitos dos cargos diretivos atuais são ocupados por pessoas que iniciaram o seu percurso nas nossas escolas, como professores e administrativos, que através do seu trabalho e dos seus valores demonstraram ao longo do tempo o seu valor, sendo dada a oportunidade de abraçarem um novo desafio profissional dentro da empresa. Como referi, mudar é bom, embora ainda muitas pessoas tenham alguma resistência à mudança. Este processo deve ser gerido com algum cuidado. É importante mostrar aos colaboradores que tal como na nossa vida pessoal também o nosso emprego muda. Mudar traz mais motivação e, consequentemente, inovação, se o processo for bem gerido.

Ofereci aos líderes do Grupo Ensinus o livro de Dale Carnegie[1], um autor de que gosto muito e que fala sobre um dos maiores problemas do ser humano: a mudança! O autor fala-nos da “arte de lidar com a mudança”. Afinal, como Charles Kettering[2] dizia “O mundo detesta a mudança, contudo foi a única coisa que trouxe o progresso”. Mudar não é fácil, mas é essencial para promover o crescimento dentro das empresas. Os gestores excecionais procuram as razões dos problemas e trabalham para encontrar as soluções necessárias, que muitas vezes passam por mudar o status quo. Por isso, quando se gere uma mudança, segundo o autor do livro, é importante que o gestor consiga o envolvimento de todos os participantes e para isso é necessário que os gestores da mudança (1) façam promessas que saibam que podem cumprir; (2) evitem o exagero; (3) estabeleçam objetivos realistas; (4) digam sempre a verdade; (5) ajam de acordo com aquilo que dizem; (6) admitam os seus erros; (7) preparam-se antecipadamente para todos os cenários possíveis; (8) são entusiásticos e transmitem-no aos seus colaboradores; (9) são empáticos durante todo o processo; e (10) fazem um acompanhamento de toda a mudança ao lado das suas equipas (Carnegie, 2024).

Neste início de ano e de (re)começos é sempre bom que possamos mudar, de forma a tornarmo-nos mais competitivos, porque o mundo e a sociedade também estão sempre em mudança. As empresas que não mudam e não promovem a inovação dos seus ecossistemas vão acabar por desaparecer no tempo.

Segundo John Kennedy[3]: “A mudança é a lei da vida. Aqueles que só olham para o passado ou para o presente certamente irão deixar escapar o futuro”. Setembro é o início do futuro!

 

Bibliografia
Carnegie, D. (2024). A arte de lidar com pessoas com a mudança. Penguin Random House Grupo Editorial Unipessoal, Lda.
Hornstein, H. A. (2015). The integration of project management and organizational change management is now a necessity. International Journal of Project Management, 33(2), 291–298.

[1] Formador, escritor e orador norte-americano. Autor do best-seller “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”.
[2] Inventor e filósofo social americano.
[3] Político americano e presidente dos Estados Unidos de 1961 a 1963

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Teresa Damásio

Teresa Damásio

Teresa Damásio é Administradora do Grupo Ensinus desde julho de 2016, que faz parte do Grupo Lusófona, o maior grupo de ensino de língua portuguesa no mundo. É também Administradora do Real Colégio de Portugal e do Grupo ISLA. Presidente do Conselho de Administração da Universidade Lusófona da Guiné-Bissau e Membro do Conselho de Administração do ISUPE Ekuikui II, em Angola. Presentemente, integra a Direcção da AEEP. Foi fundadora da Internacionalização do Grupo Lusófona, passou pela Assembleia da República como... Ler Mais..

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