Entrevista/ “A investigação académica ainda não é totalmente aproveitada pela comunidade empresarial”

“Queremos continuar a empoderar milhares de alunos e a apoiar e desenvolver start-ups para garantir que têm maior potencial de sucesso”. Este é o propósito que o Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute (HEI) quer continuar a prosseguir dois anos depois da sua criação, explica Euclides Major, diretor executivo.
Empenhado em reduzir a lacuna ainda existente entre a investigação académica e a comunidade empresarial, através da partilha de conhecimento baseado em aprendizagens e oferecendo ferramentas úteis para os novos empreendedores, o Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute (HEI) tem sido nos últimos dois anos, celebrados no início de abril, motor para um conjunto de iniciativas direcionadas para vários intervenientes do ecossistema e que já lhe permitiram impactar, só no último ano, mais de 1500 alunos e cerca de 500 start-ups. Euclides Major, diretor executivo do HEI, explica ao Link to Leaders como tem sido o percurso do Instituto, o papel que a academia e a investigação podem ter no setor empresarial e o contributo que o HEI pode dar para o crescimento da economia nacional.
No imediato, o Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute mantém a sua aposta no ecossistema “aproximando talento às start-ups e promovendo o desenvolvimento de negócios inovadores” e confirma o seu interesse e abertura ao m umercado brasileiro, onde iniciou uma parceria com o Insper, mais exatamente com o Hub de Inovação e Empreendorismo Paulo Cunha.
O HEI apresentou-se ao mercado com o objetivo de querer ser o “centro líder em empreendedorismo na Europa”. Dois anos depois, está onde queria?
O objetivo de fazer do Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute um centro líder mantém-se vivo e é um objetivo de médio longo prazo, para o qual trabalhamos e investimos. Desde o seu lançamento oficial, consolidámos um conjunto de iniciativas direcionadas aos vários intervenientes do ecossistema, que nos permitiram impactar, só no último ano, mais de 1500 alunos e cerca de 500 start-ups.
Continuamos, por isso, com a mesma ambição e acreditamos que a qualidade do trabalho desenvolvido tem sido notório e já demonstra resultados – é exemplo disso a recente nomeação atribuída pelo Eduniversal Ranking, que coloca o stream de inovação e empreendedorismo do Mestrado de Gestão em 6.º lugar no Top 50 mundial – à frente de escolas internacionalmente reconhecidas.
“(…) o empreendedorismo é uma escola de competências que não serve apenas aqueles que têm ideias e querem desenvolver os seus próprios negócios (…)”.
Quais os pilares base da vossa atuação?
A missão do Nova SBE Haddad Entrepreneurship Institute é promover um mindset empreendedor junto dos nossos alunos enquanto contribui para o desenvolvimento e crescimento do ecossistema. Para isto, atuamos em três principais pilares. O primeiro, a que chamamos “Education & Capacity Building”, é dedicado ao desenvolvimento de competências e à promoção do mindset empreendedor nos alunos. Consideramos que o empreendedorismo é uma escola de competências que não serve apenas aqueles que têm ideias e querem desenvolver os seus próprios negócios, mas também todos os outros que perseguem outras carreiras, como a consultoria, a gestão industrial, ou em grandes empresas, nas quais lhes vai ser exigido serem criativos, saberem observar problemas e pensar em soluções, serem resilientes, terem capacidade de execução e trabalhar em equipa.
No segundo, “Acceleration & Incubation”, fornecemos redes e recursos para que as start-ups prosperem por meio de programas de incubação, aceleração e inovação aberta. O facto de pertencermos a uma business school com um ambiente tão rico e dinâmico, e com proximidade a alunos de excelência torna a nossa comunidade muito atrativa para os empreendedores. Temos atualmente duas comunidades em incubação virtual, uma delas dedicada à esfera web3, com mais de 160 start-ups ligadas ao instituto.
Por último, em “Research & Thought Leadership”, promovemos a ligação entre o empreendedorismo e a investigação científica, fazendo pontes entre académicos, comunidade científica, practitioners e policy makers. Queremos converter a prática em aprendizagem e transferir esse conhecimento para o ecossistema empreendedor, colaborando no seu crescimento e desenvolvimento. É exemplo disso o whitepaper lançado no passado dia 10 de abril, na celebração do 2.º aniversário do Instituto, intitulado “The power of learning in high-growth firms”, que analisa e traduz formas de aprendizagem neste tipo de empresas.
Quais os projetos mais significativos realizados ao longo deste período?
No pilar Education & Capacity Building temos o Startup Summer Experience, um programa de cinco semanas no qual os alunos têm uma experiência prática ao resolver desafios de negócios de start-ups – com isto contribuímos não só para que os alunos tenham uma experiência “de trabalho” numa start-up, mas também ajudamos as start-ups com menos recursos a desenvolverem alguma área concreta que precisam. O programa está aberto a alunos de todas as áreas dentro da Nova SBE e inclui formação, atividades de construção de equipa e networking. A ainda o nosso programa de mentoria, oferecido tanto a alunos empreendedores como a start-ups já no mercado, que também tem tido impacto positivo na comunidade. Ao longo de três meses, profissionais com experiência e especialistas oferecem o seu tempo para prestar mentoria e orientação aos mentorados em torno de desafios concretos. O programa oferece, ainda, uma jornada desenhada pelo instituto, com momentos de encontro e de aprendizagem para todos.
No pilar Acceleration & Incubation, em 2023, realizámos, em conjunto com o Nova SBE Innovation Ecosystem, o Nova SBE Fintech accelerator, um programa de inovação aberta, que juntou empresas e parceiros corporate como a Jerónimo Martins ou a Sibs, com start-ups da área fintech para desenvolver pilotos que trouxessem inovação aos negócios. E também lançámos uma nova comunidade virtual em parceria com a GSR, dedicada à esfera do Web3. A Web3 Creators Collective não só pretende incubar projetos na área do crypto, blockchain e web3, como oferece um programa com ferramentas e recursos para acelerar esses negócios.
E na área de Research & Tought Leadership?
Juntámo-nos a outras sete business schools europeias e lançámos o European Scaleup Institute, dedicado ao estudo e desenvolvimento de scaleups na Europa. A primeira conferência foi realizada na Nova SBE, em junho de 2023, na qual também lançámos o primeiro relatório conjunto “Cracking the Growth Code: Traits and Strategies of High-Growth Firms in Europe”
O HEI junta estudantes empreendedores, dá-lhes ferramentas, mentoria, prepara-os para os desafios do futuro… e o mercado faz a sua parte?
Acreditamos que sim. Prova disso é a comunidade super ativa que temos que, desde a sua constituição, já levantou mais de 100 milhões de euros e já criou mais de 900 postos de trabalho. Isto é um reflexo claro de que há resultados e há crescimento.
O que ainda se impõe fazer para estreitar ainda mais a relação/colaboração entre os mundos académico e empresarial?
A Nova SBE claramente tem sido pioneira nesta aproximação, como é evidente na relação existente com vários parceiros corporate do mercado português, sendo que o Instituto contribui para esta aproximação na criação e implementação de programas de inovação aberta, como é exemplo o Check-in Tourism Innovation Program on Campus, que em março viu terminada com sucesso a sua terceira edição, na qual juntou 14 start-ups de todo o mundo e 17 PME’s portuguesas na colaboração e desenvolvimento de um total de 21 pilotos, trazendo inovação ao mercado do turismo.
Acreditamos ainda que a nível nacional é fundamental incorporar mais doutorados nos seus quadros e equipas de investigação, para haver uma maior ligação do mundo empresarial à investigação científica.
“Reconhecemos que a investigação académica ainda não é totalmente aproveitada pela comunidade empresarial (…)”
Qual o papel da academia na evolução tecnológica de um país, na inovação e no crescimento económico?
Acreditamos no papel fundamental da academia. Por ocasião do nosso segundo aniversário, decidimos centrar o nosso evento no tema do “crescimento”. Não só no contexto do mindset, ao promover o “growth mindset”, que se relaciona com o pensamento empreendedor, mas também no crescimento do nosso instituto e no impacto que tem no ecossistema e no desenvolvimento económico do país.
Reconhecemos que a investigação académica ainda não é totalmente aproveitada pela comunidade empresarial, mas estamos empenhados em reduzir essa lacuna, partilhando conhecimento baseado em aprendizagens e oferecendo ferramentas úteis para os novos empreendedores.
As empresas em Portugal estão a saber aproveitar os talentos que saem das universidades para desenvolver o ecossistema empreendedor nacional?
Embora algumas empresas em Portugal reconheçam o valor dos talentos que saem das universidades e os integrem nos seus processos de desenvolvimento, ainda há espaço para melhorias. O nosso programa Startup Summer Experience é um exemplo de como tentamos colaborar com o ecossistema aproximando talento às start-ups e promovendo o desenvolvimento de negócios inovadores.
Qual o papel que a Haddad Foundation tem desempenhado no percurso do HEI?
A Fundação Haddad tem sido um excelente parceiro e promotor do nosso trabalho – dá-nos um enorme apoio e está muito alinhada com o nosso propósito, permitindo-nos todas as condições para desenvolver a nossa atividade de forma bastante independente e autónoma.
“(…) iniciámos uma colaboração com o Insper (…) confirmando o nosso interesse e abertura ao mercado brasileiro”.
Este ano, como é que o HEI nos vai surpreender? Que iniciativas e eventos tem em agenda?
Além da comemoração do nosso recente aniversário, na qual reunimos académicos e empreendedores de renome, como o diretor executivo do The Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship, Paul Cheek, e Nuno Prego Ramos, presidente e CEO da CellmAbs, teremos o desenvolvimento do programa da Web3 Creators Collective ao longo do ano. Adicionalmente, iniciámos uma colaboração com o Insper, mais concretamente com o Hub de Inovação e Empreendorismo Paulo Cunha, confirmando o nosso interesse e abertura ao mercado brasileiro.
No final 2024, qual o impacto que o HEI gostaria de ter causado no ecossistema nacional e internacional?
Queremos continuar a empoderar milhares de alunos e a apoiar e desenvolver start-ups, para garantir que têm maior potencial de sucesso. Dar continuidade à nossa missão e continuar a ter impacto no ecossistema nacional e internacional é o nosso objetivo.