Opinião
A inovação na lógica do cisne negro
A expressão “Cisne Negro” faz parte do vocabulário do mundo das finanças e é utilizada por todos os profissionais que atuam na área da gestão de riscos.
Nassim Taleb, ex-gestor de hedge funds em Wall Street e autor do livro “O Cisne Negro – O Impacto do Altamente Improvável” carateriza um “Cisne Negro” como um acontecimento com três características altamente improváveis: imprevisibilidade, resultados impactantes e, após sua ocorrência, inventamos um meio de torná-lo menos aleatório e mais explicável. Para isso, necessitamos para nosso conforto psicológico que os acontecimentos façam sentido. A falácia narrativa explica essa tendência de formarmos uma narrativa para explicar um evento passado, de tal forma que esse evento quando analisado de uma forma retrospetiva era previsível e óbvio.
Nesta tentativa de simplificação da realidade, as tecnologias dão-nos a esperança e simultaneamente a ilusão que podermos ter controle sobre os acontecimentos por nós próprios ou por intermédio de opiniões/comentários de terceiros.
Um enviesamento cognitivo muito estudado em psicologia e economia comportamental é a chamada “ilusão de controle” que se manifesta no consumo de informação porque acreditamos que, com mais informação, temos mais controle sobre aquilo que vai acontecer.
Além do marketing, atuam no mercado um conjunto de intervenientes na área da consultoria, informações financeiras, análises políticas e económicas que reforçam a ilusão de controle. Parece fazer sentido quando um gestor antes de tomar uma decisão munir-se da maior quantidade de informação fornecida pelo “mercado”.
Na ótica de Taleb, os seres humanos limitam-se a aprender conteúdos específicos em vez de adquirir conhecimento em diversas áreas do conhecimento. Concentramo-nos no que já sabemos e evitamos cada vez mais o desconhecido, por isso, não valorizamos quem pensa “fora da caixa” ou quem tem uma perspetiva diferente da simplificação.
O sucesso empresarial depende, em grande medida, da capacidade de inovação, Portugal ocupa atualmente a 19ª posição no ranking europeu de inovação. Muito mais do que inovar, a principal preocupação deve ser, de fato, criar uma cultura voltada para a inovação. As escolas, as universidades em particular e o país devem ser agentes ativos na implementação de uma cultura disruptiva que favoreça uma cultura inovadora. Os empresários e a gestão das empresas devem ser catalisadores da inovação e da criatividade dos colaboradores de modo a evitar a simplificação e uma visão do “basicamente”.
Toda a informação disponível é do passado ou, na melhor das hipóteses, do presente atual. Estamos ligados em rede com informações do passado. Não existem informações do futuro.
Prever um “cisne negro” é uma contradição, se um acontecimento não pode ser previsto, não constitui um “Cisne Negro”. Por isso, de acordo com Taleb, o risco de uma pandemia global não era uma coisa “inimaginável”. O acontecimento Covid-19 foi um “Cisne Negro” não pela pandemia em si, mas pela reação dos governos quando decretaram o confinamento com as consequências económicas que conhecemos.
Tudo o que temos são conjeturas e, claro, nossas próprias expectativas. A predisposição pessoal em primeiro lugar para uma cultura de inovação ajuda a diminuir a distorção da realidade e a desvalorizar “narrativas” que potencializam a ilusão de controle e “conforto” com consequências mais tarde ao nível da qualidade das decisões tomadas em contexto empresarial e em contexto nacional.
*Instituto Superior de Gestão