Opinião
A importância da rede!

O ecossistema empreendedor de Silicon Valley na Califórnia, Estados Unidos, é apontado por muitos empreendedores, agentes e estudiosos do empreendedorismo como um dos melhores do mundo (e até o “melhor” do mundo).
E são muitos os atores que explicam o êxito deste ecossistema empreendedor que começou no início do século XX – desde as muitas opções de financiamento milionário de start-ups (personificadas na banca, business angels ou sociedades de capital de risco) ou a reduzida carga fiscal para novos negócios; passando pelas incubadoras e aceleradoras de vanguarda ou pela abundância de capital humano altamente qualificado; até à aposta em alianças com o tecido empresarial existente ou em atividades de I&D e inovação (patente nas sólidas parcerias com universidades para formação, produção e comercialização das invenções e novos produtos/serviços).
E são muitos os negócios da “giga tech economy”[1] criados ou sediados em Silicon Valley, como a Google, o Facebook ou a Hewlett-Packard, apenas para citar alguns.
Inspirados por este “bom-exemplo” e fruto de uma aposta tanto governamental como de privados, começaram a surgir ecossistemas empreendedores vibrantes e muito bem-sucedidos um pouco por todo o mundo: como Berlim, Amesterdão, São Paulo ou Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra ou Braga, para citar exemplos portugueses. Mais recentemente, há um ecossistema empreendedor que se tem vindo a destacar pelos bons-resultados gerados: o ecossistema empreendedor de Telavive (há quem considere mesmo que este já ultrapassou Silicon Valley). Perante esta realidade, vale pena questionar: O que é que torna o ecossistema empreendedor de Telavive tão competitivo?
Naturalmente, são muitas as razões apontadas para explicar este fenómeno, mas vale a pena recordar o livro Start-up Nation: The Story of Israel’s Economic Miracle, publicado em 2009. Neste livro, os autores Dan Senor e Saul Singer avançam com a ideia de que é o ecossistema empreendedor de Telavive que é um dos grandes responsáveis pelo crescimento da economia de Israel (embora esta relação seja obviamente biunívoca).
E para explicar o desenvolvimento deste tão bem-sucedido ecossistema, estes autores prosseguem com a ideia da rede, ou melhor, da densidade da rede que une os atores que fazem parte do ecossistema (tal como enunciei em cima). Mais do que “fazerem parte” do ecossistema empreendedor, há uma aposta sólida no estabelecimento de parcerias e alianças entre os business angels, as aceleradoras de novos negócios, o capital humano altamente qualificado ou as universidades, com vista ao crescimento dos negócios, dos empreendedores e de todo o ecossistema. Em termos práticos, o investimento é dirigido – não para os negócios ou para os empreendedores individualmente – mas sim para a rede que une estes atores, que fomenta a comunicação e as parcerias entre os empreendedores e os novos negócios e transforma o ecossistema.
Esta conclusão já é apontada por muitos autores e estudiosos do empreendedorismo como uma das estratégias para potenciar a criação de negócios sustentáveis. No entanto, a prática continua a mostrar que muitos dos investimentos, “calls”, formações e concursos se dirigem persistentemente para os negócios e os empreendedores individualmente, e não para a rede que lhes deveria servir de suporte e alimentá-los.
O investimento no reforço da rede de comunicação e cooperação entre os elementos do ecossistema deve constituir, por isto, um vetor-fundamental da aposta num empreendedorismo mais eficaz!
*Coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCSP – Universidade de Lisbo
[1] Economia composta pelas grandes corporações tecnológicas – conhecidas como os “gigantes tecnológicos”