Entrevista/ “Oferecemos uma solução que dá acesso a uma educação especializada a um preço baixo”
A Eddisrupt lançou uma nova plataforma online de ensino, com o objetivo de ajudar todas as pessoas afetadas profissionalmente pela pandemia a ingressar numa carreira como programador informático. Em entrevista ao Link To Leaders, Pedro Duarte, cofundador da start-up, fala do Mentorcamp e dos desafios do ensino atual.
A Eddisrupt surgiu em 2017 com um bootcamp de programação em regime presencial com duração de seis meses. Mas passados três anos, a pandemia mudou o seu modelo de negócio e levou a start-up a lançar um novo conceito de ensino, o MentorCamp, um percurso formativo em modelo Peer-to-Peer (de pessoas para pessoas), que junta mentorandos com mentores profissionais dentro de uma comunidade online.
O objetivo é permitir aos mentorandos uma aprendizagem ao seu ritmo, com o acompanhamento de mentores que têm o papel de transmitir fundamentos, ajudar a ultrapassar obstáculos e partilhar “insights” da sua experiência real no mercado de trabalho. Os mentores acompanham o percurso dos mentorandos através de sessões remotas e com o apoio de currículos testados.
Como surgiu a Eddisrupt?
A Eddisrupt surgiu em 2017 com o intuito de democratizar o ensino de novas tecnologias, nomeadamente de programação, oferecendo um percurso formativo a um preço acessível para a maioria, capaz de colocar novos programadores no mercado. A primeira versão da Eddisrupt foi um bootcamp de programação em regime presencial com duração definida de seis meses. A pandemia mudou o paradigma mundial. Provocou um impacto muito significativo no emprego e, ao mesmo tempo, levou à digitalização forçada da economia. Estes foram os dois fatores cruciais que levaram a Eddisrupt a ter a iniciativa de um novo projeto. Sentimos que tínhamos a obrigação de responder a este enorme desafio pelo valor que conseguimos acrescentar na sociedade.
Que balanço fazem destes quatro anos de atividade? O que mais destacam?
Começámos com o objetivo, a missão, de democratizar o ensino, eliminar as barreiras socioeconómicas que impediam as pessoas de aprender tecnologia e mudar as suas vidas para melhor. Os nossos bootcamps formaram mais de 60 pessoas e todas as que quiseram encontrar um emprego como developer acabaram por conseguir. Quisemos criar um projeto de impacto social que fizesse a diferença na vida das pessoas, isso é o que mais destacamos. Esse princípio manteve-se com a aposta numa nova plataforma 100% online, ainda mais acessível e com um potencial de impacto social ainda maior.
“Temos o objetivo de ajudar os milhares de pessoas afetadas profissionalmente pela pandemia a iniciar a sua reconversão profissional, para uma carreira de programador informático, ao mesmo tempo que ajudamos as empresas que necessitam de mão de obra qualificada para enfrentar o desafio da digitalização”.
De que plataforma se trata?
Decidimos reinventar-nos, lançámos uma nova plataforma com um conceito inovador de ensino de programação por mentoria online. Temos o objetivo de ajudar os milhares de pessoas afetadas profissionalmente pela pandemia a iniciar a sua reconversão profissional, para uma carreira de programador informático, ao mesmo tempo que ajudamos as empresas que necessitam de mão de obra qualificada para enfrentar o desafio da digitalização.
Em que é que consiste o MentorCamp e qual o vosso objetivo?
O Mentorcamp é um percurso formativo em modelo Peer-to-Peer (de pessoas para pessoas), um novo modelo de educação baseado em programas de mentoria à distância sustentados por currículos de e-learning. Junta mentorandos com mentores profissionais, dentro de uma comunidade online, permitindo aos participantes uma aprendizagem ao seu próprio ritmo.
Na prática, a Eddisrupt estabelece a ponte entre Mentores (programadores profissionais) e Mentorandos (que pretendem tornar-se programadores profissionais), quebrando o gap entre o ensino e o mercado num modelo de mentoria. A inscrição no Mentorcamp inclui o acesso a um percurso formativo sólido de mais de 900 horas de conteúdos didáticos, desafios e projetos que os mentorandos seguem ao próprio ritmo com o apoio de um Mentor e de uma comunidade online exclusiva. Contempla o pagamento de uma subscrição mensal com valor base de 47 euros, sem prazos de início e término e sem compromisso.
As ofertas existentes no mercado envolvem, por um lado, cursos de programação presenciais e os chamados bootcamps, com horário e duração definidos, que privilegiam a interação social e o acompanhamento de um formador, mas podem tornar-se limitativos. São geralmente muito seletivos na admissão, requerem deslocações, cumprimento de horários e um esforço contínuo para corresponder aos prazos impostos. Em média apresentam preços considerados muito elevados para a realidade nacional, principalmente para quem se encontra em dificuldades financeiras.
No sentido oposto da oferta, cursos online em vídeo sob demanda são flexíveis e escaláveis, conseguem chegar a mais pessoas com preços geralmente mais acessíveis, mas falham no compromisso, interação e apoio. Apresentam taxas de desistência muito significativas. A mentoria online pretende unir a interação e o apoio do ensino presencial online com a escalabilidade e acessibilidade dos cursos online em vídeo sob demanda, oferecendo um preço de inscrição acessível, até 30 vezes mais baixo do que um bootcamp.
Como tem sido a adesão à nova plataforma de ensino para aprender a programar?
Tivemos centenas de inscrições nos primeiros dias de atividade, sentimos que existe uma elevada procura pelo nosso produto/serviço. Os nossos clientes têm-nos encontrado por motor de busca e redes sociais. Queremos dar-nos a conhecer por intermédio dos media. Mais do que angariar clientes, temos um sentido de missão, uma palavra a dizer no combate à pandemia que queremos comunicar à sociedade.
“Selecionámos a vertente de Front-End Development numa das tecnologias com mais procura no mercado, ReactJS, mas assente num percurso formativo robusto de mais 900 horas que pretende explorar suficientemente bem as bases da ciência da computação”.
Quais os desafios que ainda se colocam à profissão de programador?
Ser programador, em primeira instância, é aprender conceitos da ciência de computação e linguagens que permitem a compreensão dos comandos pela máquina, por forma a executar um determinado programa. Estes conceitos, como a lógica, algoritmia, e arquitetura de um sistema são fatores comuns entre linguagens de programação, pelo que o programador terá a necessidade de compreender bem esta base se quiser ser um bom programador. Entre nós dizemos que se trata da diferença entre um programador e um “code monkey” (alguém que escreve sem compreender o que está realmente a acontecer). Sobre esta necessidade de compreender a base surge a necessidade de uma atualização e aprendizagem constantes sobre novas tecnologias e adaptação a novas linguagens de programação.
Pensamos que não se conseguirá ser muito bom em todas as vertentes e o mercado de trabalho muitas vezes “pede” por tecnologias e competências específicas dentro do mundo da programação e rapidamente se adapta a novas tendências e torna obsoletas tendências anteriores. Este muitas vezes é sentido como o maior desafio da carreira de um programador, que sente a necessidade de estar constantemente a atualizar-se, com receio de se tornar obsoleto. O que hoje é a tecnologia mais procurada, amanhã pode ser substituída por outra.
Sendo certo que para muitos isto pode ser um problema, a verdade é que com uma compreensão sólida das bases, esta aprendizagem constante torna-se uma tarefa natural e estimulante. Por isso, selecionámos a vertente de Front-End Development numa das tecnologias com mais procura no mercado, ReactJS, mas assente num percurso formativo robusto de mais 900 horas que pretende explorar suficientemente bem as bases da ciência da computação. Adicionalmente, sabemos que a experiência e acompanhamento transmitidos por um profissional da área fazem toda a diferença para alcançar o sucesso pretendido.
Qualquer pessoa pode hoje aprender a criar tecnologia e criar soluções para os problemas existentes na sociedade?
A resposta fácil seria que sim. Sem dúvida que qualquer pessoa com o gosto, a vontade, a perseverança e a motivação suficientes para aprender consegue de facto criar tecnologia e contribuir para resolver vários problemas da sociedade. Nós somos a prova disso mesmo, a nossa história per si é uma resposta à sua questão.
No entanto, se é verdade que qualquer pessoa consegue, também é verdade que não é um percurso fácil. O acesso à informação à distância de um clique e todas as soluções disponíveis online dão a sensação de que se consegue aprender facilmente comprando um curso online e aprendendo sozinho. Apesar de existirem várias soluções de elearning com conteúdos de qualidade e aparentemente organizados, é difícil manter a motivação e desbloquear obstáculos que surgem na aprendizagem. Por isso, é que os cursos online on demand apresentam uma taxa de desistência de 93%!!
Em alternativa, cursos e bootcamps que oferecem acompanhamento presencial são uma solução de qualidade elevada. No entanto, estas soluções apresentam em média custos muito elevados, permanecendo da mesma forma como um obstáculo à aprendizagem. O que a Eddisrupt pretende, a nossa missão, é precisamente responder à sua pergunta da forma mais afirmativa possível, dando o mote e construindo os alicerces do futuro do ensino, numa solução que oferece currículos de elearning de elevada qualidade, guiados por profissionais da área (Mentores) por videochamada, a um preço acessível à maioria.
“Um dos maiores problemas que detetámos no formato tradicional é a fraca relação com o mercado de trabalho. Outro é a acessibilidade e o preço do ensino de qualidade. E, por fim, o “one size fits all” que obriga os estudantes a aprenderem uma enorme quantidade de conteúdos irrelevantes, mesmo no ensino superior”.
Qual acha que será o formato educativo do futuro?
O mundo está em processo de digitalização acelerado e irreversível. A pandemia só veio reforçar esta tendência. As pessoas, apesar de distantes, com a digitalização vão estar mais conectadas do que nunca. Já pensou que se a pandemia tivesse surgido há meros cinco anos atrás, o mundo como o conhecemos hoje teria desabado? Podemos dizer que a tecnologia salvou literalmente as nossas vidas.
Na educação não foi diferente, com as instituições de ensino a adaptarem-se ao online. É verdade que esta situação apresenta problemas, mas acreditamos que estes são derivados da adaptação forçada de um modelo de ensino tradicional, totalmente presencial e generalista – excesso de alunos por turma, professores e alunos impreparados, conteúdos programáticos excessivos e desajustados ao perfil e motivação dos alunos.
Um dos maiores problemas que detetámos no formato tradicional é a fraca relação com o mercado de trabalho. Outro é a acessibilidade e o preço do ensino de qualidade. E, por fim, o “one size fits all” que obriga os estudantes a aprenderem uma enorme quantidade de conteúdos irrelevantes, mesmo no ensino superior. A Eddisrupt oferece uma solução que permite ter acesso a uma educação especializada e a um preço baixo e de boa qualidade, combinando mentoria e tecnologia de e-learning.
O que tem sido mais desafiante na atividade da Eddisrupt até agora?
Desenvolver um modelo de ensino (e de negócio) de baixo custo e escalável para o máximo de pessoas possível, que consiga eficazmente conjugar as componentes e-learning (assíncrona) e de mentoria (síncrona). Existem várias plataformas de elearning com cursos a preços acessíveis, por outro lado, existem formações de alta qualidade com presença de formador a preços muito elevados para a maioria das pessoas. Posicionamo-nos no meio destas duas realidades e essa disrupção tem sido bastante desafiante.
Faz parte da estratégia da start-up abrir capital a investidores?
Sim, estamos a fazer esforços para atrair investidores de capital de risco e a nossa abordagem ao mercado segue as boas práticas que permitem recolher e demonstrar os KPIs procurados pelo smart money.
É fácil ser-se empreendedor em Portugal?
Primeiro devemos começar por referir que ser empreendedor não é bem o mesmo que ser empresário. Nós distinguimos os dois de uma forma simples: o empresário gere um negócio, enquanto o empreendedor materializa uma visão. Em Portugal não é fácil ser nenhum dos dois, como não é em parte alguma. Envolve risco e incerteza e compreende um mindset ambicioso e capaz de lidar com diversas situações. Mas por experiência, a mentalidade e capacidade da equipa, a ideia de negócio e potencial de escalabilidade para o tamanho/procura do mercado são fatores determinantes para o sucesso de novas startups.
Sinceramente, é mais fácil ser-se empreendedor do que encontrar um empreendedor com a capacidade e o mindset necessários para o desafio. Isto porque ser-se empreendedor pode ser visto como uma visita ao site das finanças, abrir atividade e começar a operar. Aos olhos da sociedade isto também é empreendedorismo. Portugal é um país de muitas microempresas. Apesar dos benefícios que as microempresas trazem ao país, economicamente é desejável desenvolverem-se organizações maiores, mais escaláveis, com potencial e vontade de internacionalização. Isto é o que a Europa procura e promove com os novos programas do Horizonte Europa.
Mas comparativamente com os EUA estamos muito distantes e o motivo mais evidente é que os EUA partilham praticamente as mesmas condições socioeconómicas entre estados e o ecossistema empresarial é de facto muito propício. Na Europa temos diversos países com “quadros” muito díspares. Já pensou na facilidade que era uma empresa ser Europeia, poder operar noutro país europeu sem ter de se adaptar a todo o ecossistema desse país?
Está visível que é difícil atingirmos o nível seguinte e o que mais compromete este crescimento é o ecossistema que se desenvolve em determinado sítio. Por isso é que hoje em dia se fala tanto em construir-se o nosso “Silicon Valley”, um ecossistema que de facto proporciona as condições e facilita o desenvolvimento e o sucesso. As tech start-ups estão a iniciar esse movimento com seriedade. Um novo ecossistema de inovação, disruptivo e com os olhos postos no futuro.
“A Eddisrupt neste momento tem um Mentorcamp em software development, mas o potencial desta solução vai permitir-nos expandir para muitas outras áreas de conhecimento especializado, como o design, marketing, finanças, entre outros”.
Projetos para o futuro da Eddisrupt? Que novidades pode revelar?
A Eddisrupt neste momento tem um Mentorcamp em software development, mas o potencial desta solução vai permitir-nos expandir para muitas outras áreas de conhecimento especializado, como o design, marketing, finanças, entre outros. Somos um marketplace sustentado em currículos elearning guiados por profissionais, um conceito que nos permite originar diversos currículos em diferentes áreas e atrair profissionais dessas áreas para virem prestar mentoria. Já pensou no valor que é receber mentoria de um profissional que trabalha numa empresa de topo da área onde quer trabalhar?
Respostas rápidas:
O maior risco: Apostar num modelo de negócio inovador cujo sucesso depende da sua escalabilidade.
O maior erro: Devemos interrogar-nos sempre se o que estamos a fazer pode ser 10 vezes melhor e não o fizemos
A maior lição: Por vezes não se pode querer agradar a todos os tipos de clientes ao mesmo tempo
A maior conquista: Termos recebido centenas de inscrições nos primeiros dias de atividade.