Opinião
A economia digital em Portugal: quando a tecnologia se torna infraestrutura nacional
A economia digital portuguesa entrou numa fase de consolidação e maturidade, deixando de ser apenas um setor emergente para se afirmar como uma infraestrutura económica transversal, capaz de impulsionar competitividade, inovação, produtividade e receita pública.
Esta é uma das conclusões do “Estudo do Impacto da Economia Digital em Portugal, 2025 — desenvolvido pela GoingNext, em parceria com a Porto Business School e a ACEPI — que mapeia, com rigor metodológico e evidência empírica, o estado da digitalização em Portugal, o seu impacto económico e social e os desafios estruturais ainda existentes, no qual tive o prazer de colaborar na definição da metodologia, estrutura analítica e interpretação dos resultados.
A análise evidencia uma economia digital em crescimento robusto, suportada por uma infraestrutura de elevada qualidade — Portugal possui uma das maiores coberturas de fibra ótica da Europa e quase universalização do acesso à internet — mas ainda limitada por assimetrias territoriais, setoriais e de qualificação do talento. O país encontra-se digitalmente conectado, porém nem sempre digitalmente transformado.
Os dados revelam que a digitalização já representa um impacto económico significativo: 213 mil milhões de euros em produção, 90 mil milhões em valor acrescentado bruto e cerca de 3 milhões de empregos, equivalentes a 39% da produção nacional, 13% do VAB e 23% do emprego. O digital contribui ainda com 30 mil milhões de euros em receita fiscal, assumindo-se como um dos principais pilares de sustentabilidade das contas públicas.
O estudo distingue dois contributos complementares: o setor “pure digital”, composto por atividades tecnológicas nucleares, com 40 mil milhões de euros de produção e 500 mil empregos, e os setores “digital enabled”, que integram tecnologias digitais nos seus processos, responsáveis pela maior parte do impacto — 173 mil milhões de euros de produção e 2,5 milhões de empregos. Esta leitura demonstra que o valor económico do digital é amplamente difusor, mais do que concentrado.
De forma particularmente relevante, estima-se que 35% do impacto total representa novo valor económico, traduzindo ganhos reais de produtividade e inovação, enquanto 51% resulta da substituição de processos tradicionais por modelos digitais mais eficientes. Em termos líquidos, a digitalização permitiu aumentar 13% do VAB, 19% do emprego, 13% das remunerações e 18% da receita fiscal, resultados que evidenciam o digital como verdadeiro multiplicador económico e social.
Contudo, o estudo também alerta para barreiras críticas: desigualdades territoriais persistentes, baixa adoção de tecnologias de alto valor acrescido — como cloud, IA e automação inteligente — e défice de competências digitais avançadas, especialmente em talento especializado. A maturidade digital está instalada, mas o salto para a economia do conhecimento permanece dependente do capital humano, da inovação empresarial e da determinação política.
A conclusão é inequívoca: Portugal tem todas as condições para transformar maturidade digital em liderança económica, desde que se mantenha um compromisso consistente com políticas públicas eficientes, investimento privado contínuo e uma visão estratégica de longo prazo. O futuro não será apenas mais digital — será mais produtivo, inclusivo e competitivo se soubermos converter tecnologia em valor.








