Entrevista/ “As relações dentro das empresas e as relações com os clientes melhoram se forem bem-humoradas”
Luís Afonso lançou juntamente com a Bridgewhat um livro de cartoons humorísticos sobre crescimento empresarial. Em entrevista ao Link To Leaders, o escritor e cartoonista fala deste projeto que considera desafiante e de como o humor pode ajudar no dia a dia das empresas.
Para quem o nome Luis Afonso não lhe diz nada, possivelmente já leu alguns dos seus cartoons, visto que se trata de um dos mais importantes nomes dentro do género em Portugal. Quem nunca se deparou com o humor de “Barba e Cabelo” n’A Bola, ou o “Bartoon” que ocupa o topo da última página o jornal no Público ou ainda “A Mosca” que é transmitida na RTP/Antena1?
O escritor e cartoonista foi convidado recentemente pela Bridgewhat, plataforma digital de Growth-as-a-Service, para lançar o livro “Os Cartoons Bridgewit 1”, que tem como objetivo ser um manual para empresários e empreendedores aumentarem as vendas e fazerem crescer a sua empresa com boa disposição.
Através do retrato humorístico de situações comuns no dia a dia das empresas, Luís Afonso refere que a obra utiliza o tom satírico para alertar para a importância do crescimento empresarial e das alternativas que existem para alcançá-lo.
“O maior desafio deste projeto foi mesmo perceber o meio empresarial, uma vez que sou um “outsider””, admitiu ao Link To Leaders, afirmando que “às vezes as empresas não sabem é dosear bem as situações em que devem usar o humor, ou seja, podem até ter humor a mais”.
O que o levou a juntar-se à Ana Paula Reis e ao Paulo Morgado para lançar o livro ‘Os Cartoons Bridgewit 1’?
O Paulo Morgado e a Ana Paula Reis convidaram-me para desenvolver com eles um cartoon semanal sobre as alavancas de crescimento da Bridgewhat. Sou totalmente ignorante nesta área, mas o que eles sabem dá de sobra para os três. O desafio de fazer algo diferente atraiu-me desde o início para o projeto. Eu tenho quatro rubricas diárias na imprensa e na TV. Tenho “o Mosca” na RTP e na Antena1. Colaboro com os jornais A Bola, com a rubrica ‘Barba e Cabelo’, o Público, com a rubrica ‘Bartoon’, e o Jornal de Negócios, com a rubrica ‘SA’. Isto tudo com o meu traço e com a minha forma de ver as coisas. Logo, abraçar um projeto diferente, criar personagens diferentes e abordar temas diferentes agradou-me.
Qual o objetivo do livro?
É levar as empresas a questionarem-se, ao reverem-se em situações caricaturadas no livro. No fundo, que consigam rir-se delas próprias. Se as ajudar a melhorar, melhor. A obra surge com o propósito de mostrar aos empresários e empreendedores como aumentar as suas vendas e potenciar o crescimento da sua empresa. Tudo isto com humor.
“O livro “Os Cartoons Bridgewit 1″ surge da compilação de dezenas de cartoons criados por mim para a rubrica semanal ‘Bridgewit’, disponível na página de LinkedIn da marca Bridgewhat”.
Qual a principal mensagem que querem passar?
Não há uma mensagem principal, mas sim 20 mensagens, tantas quantas as alavancas da Bridgewhat. O livro surge da compilação de dezenas de cartoons criados por mim para a rubrica semanal Bridgewit, disponível na página de LinkedIn da plataforma. Através do retrato humorístico de situações comuns no dia a dia das empresas que desencadeiam o fraco crescimento ou baixos resultados de vendas destas organizações, a obra utiliza o tom satírico para alertar para a importância do crescimento empresarial e das várias alternativas que existem para alcançá-lo de modo ambicioso.
Além do conteúdo humorístico, o próprio título é um jogo de palavras que combina o nome Bridgewhat com a palavra “wit”, em inglês, que representa sagacidade ou humor inteligente.
Que tipo de situações do dia a dia das empresas que o livro retrata?
Situações que o Paulo Morgado e a Ana Paula Reis têm diagnosticado, através da sua longa experiência na área, e que impedem as empresas de crescer.
Qual a que lhe despertou maior curiosidade e que o surpreendeu?
Aquelas situações em que eu enquanto cliente as percebo por as ter vivido, por as ter observado e que me levaram a pensar que não fui tratado da melhor forma, mas que desconhecia o aspeto técnico em si que levava os funcionários a falhar. E a Ana Paula e o Paulo nas alavancas de crescimento especificam os aspetos em que as empresas falham e no que podem melhorar para crescer. As relações com os clientes são as mais frequentes.
Qual a situação que o livro retrata que mais se reviu?
As dos call centers, sem dúvida. A situação de estar à espera, aquela em que começa a crescer o cabelo, a barba do cliente dá a ideia caricaturada de estar a envelhecer pelo tempo que está à espera, enquanto se ouve música. Também há uma situação de escolher a música de espera. Achei piada!
Quais os maiores desafios que encontrou para ilustrar as situações do dia a dia das empresas?
O maior desafio foi mesmo perceber o meio empresarial, uma vez que sou um “outsider”. Há duas situações paralelas. Já vivi uma situação muito parecida a esta quando em 2003 comecei a colaborar com o Jornal de Negócios e não estava nada virado para economia, pelo que tive de começar a estar atento ao meio empresarial. Neste caso comecei a olhar com mais atenção para as empresas, mais concretamente para o seu funcionamento. Vou a um restaurante e dou por mim já a reparar em certos aspetos da falha, avalio a relação com o cliente… Isto por um lado. Por outro lado, o convívio com o Paulo e a Ana Paula Reis, e as conversas e a partilha da sua experiência de criar empresas, levam a que eu aprenda também e tenha outra visão.
Qual o cartoon mais desafiante?
Sem dúvida o primeiro, quando se tinha de “pôr de pé” esta ideia e a folha ainda estava em branco. E também pelo facto de ter criado um traço diferente do meu, novas personagens. Deu-me bastante gozo!
De que forma podem as empresas usar o humor para melhorar o seu dia a dia, a sua relação com os colaboradores, a sua cultura empresarial?
As relações dentro das empresas e as relações com os clientes melhoram se forem bem-humoradas, desde logo porque se quebra o gelo. Este é o tipo de gelo que convém quebrar, mas infelizmente são os glaciares que estão a derreter.
“Às vezes há uma necessidade de meter o humor em tudo não só nas empresas, mas também na sociedade em si. É obvio que as empresas vão também pelo mesmo caminho”.
As empresas portuguesas estão abertas a iniciativas como estas relacionadas com o humor? Estão recetivas a usar o humor para otimizar os seus processos internos?
Espero que sim. Em relação ao humor em si, como a macroeconomia e microeconomia, no humor também podemos falar de microhumor e macrohumor. Às vezes há uma necessidade de meter o humor em tudo não só nas empresas, mas também na sociedade em si. É obvio que as empresas vão também pelo mesmo caminho. Às vezes as empresas não sabem é dosear bem as situações em que devem usar o humor, ou seja, podem até ter humor a mais. As coisas devem ser feitas com mais naturalidade. Devem usar o humor para criar empatia. Mas é difícil dizer se as empresas estão ou não preparadas. E isso é transversal à sociedade.
Qual a empresa portuguesa que mais humor precisa? E a que menos precisa?
É difícil responder a isso, pois, como já disse, sou alguém fora do meio e não conheço, de todo, o mundo das empresas por dentro. Mas posso dizer, por exemplo, que a UNICRE, onde foi efetuada a apresentação deste livro e onde passei umas horas, deu-me a ideia de ser uma empresa bem-humorada e com excelente ambiente.
Qual a empresa que gostaria de ilustrar o seu dia a dia?
A EDP, por exemplo, porque é uma empresa apetecível.
O que podemos esperar das próximas edições do livro?
A ideia é dar continuidade ao projeto e lançar mais compilações de cartoons. Se mantivermos o ritmo, daqui a dois anos poderemos pensar em editar um segundo livro.
Que caricatura gostava de ter feito e ainda não teve oportunidade?
Não sei. Eu até acho que já fiz mais coisas do que imaginei quando comecei nesta vida. Não sou um caricaturista gráfico no sentido clássico, até porque me falta jeito para isso, sou mais de caricaturar situações. Gosto de explorar as contradições e os paradoxos da sociedade.
Há pessoas incaricaturáveis?
A caricatura clássica não é a minha área. Falando da caricatura noutro sentido, eu diria que, quanto mais uma pessoa se expõe, mais facilmente é caricaturada. Se se expuser demasiado, torna-se ela própria uma caricatura. O Presidente Marcelo é o melhor exemplo disso. Já uma pessoa que não se exponha, sem dúvida que é difícil de caricaturar.
“Quero continuar a escrever! Mas também quero fazer coisas que não estejam ligadas à escrita ou ilustração”.
O que ainda falta fazer ao Luís?
Este ano lancei dois livros de ficção, “A Morte de A a Z” e o “Chefe”, este último que vai ser lançado este mês. Tenho vários cartoons. Fiz um filme também que foi selecionado para um festival nos Estados Unidos, em 2019, e que só foi apresentado em Portugal este ano por causa da pandemia. É o “Everestalefe”, um documentário. A história gira à volta da personagem principal que tem o sonho, desde pequeno, de escalar a Serra de Ficalho, no concelho de Serpa, com 523 metros de altura, e fixar a bandeira de Portugal no Talefe, o ponto mais alto da serra.
Não tenho metas, mas espero que ainda me falte fazer muita coisa. Mas de uma coisa tenho a certeza a certeza: quero continuar a fazer coisas diferentes. Quero continuar a escrever! Mas também quero fazer coisas que não estejam ligadas à escrita ou ilustração.
Respostas rápidas:
O maior risco: Estar vivo. Mas é um risco provisório.
O maior erro: Perder tempo.
A maior lição: A foto do ponto azul tirada pela sonda Voyager. Ao olhar para ela, aprende-se a relativizar.
A maior conquista: Ter acordado hoje (uma questão a rever amanhã).








