Espanha: lucro do melhor business angel ronda os 1,5M€ por ano

No último ano, Eneko Knörr ganhou cerca de 1,5 milhões e a venda de três start-ups deu-lhe uma rentabilidade de 2200% sobre o seu investimento inicial em apenas um ano. Conheça a história daquele que é considerado o melhor business angel espanhol.

Em Espanha, cada vez há mais dinheiro para financiar start-ups. Quer seja com dinheiro nacional ou estrangeiro, casos como os da Ontruck, Carto, Wallapop e Hawkers demostram que os empreendedores espanhóis têm cada vez mais possibilidades de se financiarem com os grandes fundos de investimento. Mas, à margem dos grandes capitais, há uma figura que, embora progressivamente se vá tornando minoritária, ainda resiste a desaparecer. Trata-se dos business angels que trazem pouco dinheiro (geralmente entre 5.000 e 50.000 euros) para as ‘start-ups’ na sua fase inicial, com a esperança de que algum dia as suas ações se multipliquem exponencialmente.

É o caso de Eneko Knörr, o empreendedor que em 2007 vendeu a Hostalia à Acens e que, atualmente, dirige a Ludei e a Ideateca. Mas, à margem da sua atividade empreendedora, investe de maneira pontual em start-ups espanholas.

O interessante é que, apesar de não investir de maneira profissional e de injetar quantidades muito baixas de dinheiro, está a ganhar a fama de melhor business angel espanhol: nos últimos doze meses, Eneko Knörr vendeu três start-ups, o que lhe gerou um lucro de 1,5 milhões de euros. O El Confidencial partilhou a história de como um pequeno investidor espanhol conseguiu uma rentabilidade de 2200% sobre o seu investimento inicial em apenas um ano.

Ticketbis: “Multipliquei por 40 o meu investimento”

Em maio de 2016, o website espanhol de revenda de entradas Ticketbis foi vendido à eBay por 165 milhões de euros, o que representou um dos grandes feitos do empreendedorismo tecnológico espanhol da história recente.

Entre os seus primeiros investidores, estava Eneko Knörr, mas o certo é que a história é muito surpreendente do que seria de esperar. Tudo começou quando conheceu um dos fundadores, Jon Uriarte, em 2009: “Apareceu-me com um Power Point no qual me explicava o projeto. Embora não tivesse ainda nascido oficialmente e estivessem à procura de financiamento para arrancar, já estavam a valorizar a sua empresa num milhão de euros”.

“Jon era uma pessoa sem experiência empreendedora, vinha do setor da banca de investimento, eram dois CEOs, um Power Point de um milhão de euros… Pensei: ‘Isto não vai a lado nenhum’. No entanto, fiz-lhe algumas perguntas sobre negócios da internet e não tinha sequer ideia. Disse-me que era um negócio multimilionário no qual quase nada estava nada a ser feito, mas o projeto não cumpria nenhum dos meus requisitos, assim decidi não investir”, reconhece Knörr.

No entanto, a ideia não lhe saía da cabeça: “É certo que o setor era muito interessante e havia potencial. Poucas semanas depois, tornámo-nos a ver e disse-me que já tinha equipa, que tinha roubado uma pessoa à concorrência, que o produto já estava a avançar… e que já tinham conseguido alguns investidores”.

“Aconteceu-me o que acontece a todos os investidores”, afirma: “Não queremos ser o único doido que investe, mas o facto de haver mais pessoas convenceu-me, assim disse-lhe que sim ia investir”.

Mas havia um problema: “Jon respondeu-me que a valorização da ‘start-up’ já não era de um milhão, mas de dois. Em apenas 2-3 semanas tinham-na valorizado no dobro. Poderia ter metido o meu dinheiro antes e não fiz caso, mas, de qualquer modo, decidi investir com a valorização de dois milhões”.

Em qualquer caso, continuava a não ter grande confiança: “Houve mais rondas de financiamento a partir dessa, mas eu decidi não tornar a investir. Estava com a minha start-up nos Estados Unidos e não tinha tempo, assim continuei como acionista, mas sem concorrer às novas rondas. Além disso, não pensava que ela viesse a ser um sucesso, precisamente”.

Com o tempo, a Ticketbis foi crescendo empresarialmente e começou a receber dinheiro de grandes fundos de investimento. Eneko Knörr recebeu a grande notícia na primavera de 2016: “Escreveram-me para me dizer que havia uma oferta confirmada. Um ou dois meses depois, venderam a empresa e eu multipliquei o meu investimento por 40”.

Habitíssimo: “Multipliquei o investido por 22”

A história da Habitíssimo não se parece, nem de longe, com a da Ticketbis: “Conheci-os em 2009, no Campus de Empreendedores da Seedrocket. Jordi [Ber, o fundador] levava um simples Power Point, mas dava-me muita confiança: tinha experiência como empreendedor no grupo Intercom e parecia convicto do que queria fazer”.

No final convenceu-nos a todos: “Alguns dos business angels da Seedrocket investiam pouco, 2.000 euros por cabeça, mas tinha boas perspetivas. Mais tarde chegaria uma ronda na qual entrou o Cabiedes [um dos fundos de investimento inicial mais destacados de Espanha] e aí tornei a investir, mas na terceira ronda de financiamento já não meti dinheiro”.

Knörr confidenciou que “a Habitíssimo passou as passas do Algarve no princípio. Estavam a lutar com o modelo de marketplace, mas não sabiam como rentabilizá-lo. No final encontraram a tecla, mas passaram uma época muito difícil”.

Com o tempo, a Habitíssimo foi crescendo e apareceram-lhe pretendentes, mas foi um processo difícil: “A venda foi complicada. Em finais de 2016 estiveram a ponto de vender a empresa, estava já negociado, mas no último momento foi abaixo, e isso foi uma paulada enorme para os empreendedores”. No entanto, no final houve sorte: poucos meses depois, a HomeServe comprou 70% da Habitíssimo por cerca de 20 milhões de euros e Eneko Knörr multiplicou por 22 o investimento que tinha feito.

Petcoach: “Nem me recordava deles”

Se as duas primeiras histórias já atraíam a atenção, a terceira faz estoirar a cabeça a qualquer um: “Há muitos anos conheci um empreendedor espanhol que tinha fundado uma start-up chamada Notorious, que era uma aplicação dentro do setor da moda. No princípio não fiz muito caso deles, mas quando entraram na aceleradora Techstars de Nova Iorque decidi investir algum dinheiro”.

Em qualquer caso, continuava sem confiar muito na start-up e parece que não lhe faltavam razões: “Iam-me contando alguma coisa, mas muito pouco. É o que costuma acontecer quando uma empresa vai mal: o empreendedor não tem vontade de te contar nada, se não estiver a ter bons resultados. Não soube nada deles até que me contaram que se iam fundir com outra empresa chamada Petcoach. Não tinham nada a ver, porque a Petcoach era de veterinários e a Notorious de moda, mas pelo menos fiquei contente por continuarem ativos”.

A surpresa chegou-lhe há poucos meses: a Petcoach era vendida por cerca de 10 milhões de dólares (8,9 milhões de euros) à americana Petco. Fruto da operação, Knörr multiplicou por cinco o seu investimento: “É uma venda menor, mas das que mais surpresa me provocou, porque não a esperava. É como se um dia recebesses a herança de um tio-avô de Sevilha que não sabias sequer que existia. É a história mais engraçada das três vendas que fiz este ano”.

1,5 milhões e 2200% de lucro

Eneko Knörr multiplicou por 40 o seu investimento na Ticketbis, por 22 o da Habitíssimo e por 5 o da Petcoach.

O business angel alega questões de confidencialidade assumida para não nos dar números mais concretos, mas, segundo o El Confidencial, em apenas um ano e com a venda destas três start-ups, Eneko Knörr obteve um lucro à volta dos 1,5 milhões de euros e gerou 2200% do dinheiro investido nestas três empresas. Tudo isso tendo em conta que este business angel não é investidor profissional, já que tem as suas próprias empresas e, em momentos pontuais, investe o seu próprio dinheiro a níveis muito baixos em comparação com os grandes investidores ou fundos que atualmente existem em Espanha.

Esta experiência permitiu-lhe uma conclusão clara: “Muitas vezes, nós investidores não temos nenhuma ideia, isto é uma questão de sorte, não há nenhum padrão claro. Todos temos alguns critérios, mas contei-te três histórias que não têm absolutamente nada que ver, são casos totalmente diferentes, não temos nenhuma varinha mágica. Agora só estou convencido de uma coisa: há que estar muito próximo dos empreendedores para não perderes nada, porque agora sim há muito financiamento para start-ups em Espanha, não como há seis anos, e agora são os empreendedores que estão a poder escolher os seus investidores”.

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