Opinião
Porque não damos mais voz aos jovens?
Ouve-se dizer que “o futuro é dos jovens”, mas ao mesmo tempo que eles “não se interessam” e que “ainda são muito novos, não entendem”. Queremos que eles sejam altamente qualificados ainda antes de acabarem os estudos, com experiências e estágios, mas não lhes perguntamos o que acham do mundo e do futuro.
Afinal em que é que ficamos? Ficamos mais pobres, perdemos todos – em casa, nas empresas e acima de tudo na sociedade. Porque não lhes damos mais voz.
Se tomarmos atenção, são tantos os contextos em que, voluntaria ou involuntariamente, acabamos por descredibilizar (e “acusar” de falta de interesse) e de alguma forma infantilizar uma geração (15 aos 30 anos) que não só é altamente capaz, como é, e acima de tudo será, o motor da inovação, do progresso e do desenvolvimento futuro e sustentável das diferentes vertentes da nossa sociedade – económica, social, ambiental, etc.
Vemos essa “infantilização” e “descredibilização” primeiramente em casa e nos nossos ambientes sociais, quando muitas vezes se segmentam os grupos e as conversas entre os chamados “adultos” e os jovens, não promovendo com isso uma troca de perspetivas e formas de ver que beneficiam e fazem crescer tanto uns como outros.
Vemo-lo nas empresas quando raramente é pedida a opinião dos mais jovens, quando raramente são incluídos na discussão de ideias de futuro, quando frequentemente a sua capacidade de trazer transformação e novas formas de trabalhar (e tanto precisamos delas) é subvalorizada, e quando não entendemos que hoje aquilo que os move não é o mesmo que os movia há uns anos. E depois surpreendemo-nos que saiam, que não consigamos atrair e reter talento. Podíamos simplesmente ter perguntado, ter ouvido, ter dado voz.
E finalmente vemo-lo na sociedade e na participação ativa pública. Tanto se fala em sustentabilidade e em construir um país e uma sociedade melhor para as gerações vindouras, mas não são convocados para a criação de soluções aqueles que mais tempo viverão com as consequências dessas decisões. A título de exemplo, na Assembleia da República os jovens (-30 anos) representam apenas 4% do hemiciclo. Diz-se que eles “não têm interesse” e não participam (o que não é verdade), mas raramente se promove a sua presença ativa – e a sua opinião – nas diferentes plataformas de informação. Depois surpreendemo-nos que procurem uma vida melhor no estrangeiro, onde sejam aposta, onde sejam mais valorizados e possam construir um futuro melhor.
Mas se isto é tão evidente, porque é que isso ainda não mudou nas empresas e na sociedade?
Em primeiro lugar, não mudou porque continuamos a achar que os jovens se devem interessar da mesma forma que as gerações anteriores, participar através dos mesmos canais, trabalhar da mesma forma, interagir da mesma forma, mover pelas mesmas causas. E isso não só não podia ser mais errado e longínquo da realidade, como cria um distanciamento brutal entre gerações.
Não mudou porque não entendemos que é na simbiose e articulação da diversidade de perspetivas que atingimos o progresso e o crescimento, e acima de tudo que o mundo está a mudar a uma velocidade tão grande que, sem a participação das gerações jovens, rapidamente perdemos o comboio dessas mudanças.
E não mudou porque há o receio de mudar, porque temos receio de arriscar em pessoas novas e em novas formas de trabalhar, porque temos receio do risco e de errar, porque não queremos o que não conhecemos e não dominamos. E isso é o que trava a transformação das empresas e da sociedade – e muito em especial da sociedade e economia portuguesa, que sucessivamente se vai deixando ultrapassar pelo tempo, pelos pares e por uma perpetuação da falta de ambição e por uma crónica nivelação “por baixo”.
Então o que podemos fazer?
Podemos fazer tudo, porque neste caso tudo está ao alcance da vontade. Podemos começar em casa e nos contextos sociais, ao incluir os jovens nas discussões, ao tentar entender como pensam, o que querem e como veem o futuro. Podemos apostar neles nas empresas, trazê-los para as discussões e recolher as suas opiniões, perceber o que valorizam e o que procuram, podemos criar programas de mentoring bidirecionais e “boards” jovens. Podemos criar espaço público dedicado à opinião jovem, podemos eleger representantes jovens que participem na vida política, e acima de tudo podemos tratá-los como adultos capazes, com opinião válida e com uma importância absolutamente fulcral para o futuro. São apenas alguns exemplos.
“With a great power, comes a great responsibility” – é uma famosa frase do filme do Homem-Aranha, e que me acompanha tanto na vida pessoal como na profissional. Se calhar se dermos mais poder e mais voz aos jovens não vamos ter mais Homens-Aranhas, mas teremos seguramente mais Homens-Jovens e Mulheres-Jovens com a vontade de ter a responsabilidade e a accountability de participar e liderar a transformação, o crescimento sustentável e o desenvolvimento de uma teia empresarial mais forte e de um país com mais sustentabilidade económica e social.
É experimentar…








