Entrevista/ “As pessoas devem ter o dinheiro a trabalhar para elas”
“É importante ganhar dinheiro com o trabalho, mas é importante que o dinheiro que se ganhou seja poupado e que depois passe a trabalhar para nós”. A afirmação é de José Maria Rego, cofundador e CEO da Raize, uma plataforma de investimento e financiamento que se assume como uma ferramenta de dinamização da economia portuguesa.
Fazer uma plataforma que fosse uma verdadeira ferramenta da economia, em que diferentes agentes e investidores pudessem ligar-se para financiar a economia, foi a motivação dos três amigos José Maria Rego, Afonso Eça e António Marques quando criaram a Raize, “uma plataforma feita de pessoas e empresas que querem investir no futuro”, como dizem os seus responsáveis. Em 2021, e apesar da crise provocada pela pandemia, a empresa de financiamento colaborativo conseguiu pela primeira vez ter resultados líquidos positivos.
José Maria Rego, cofundador e CEO da Raize, explicou em entrevista ao Link To Leaders de que forma a sua plataforma é uma “infraestrutura da economia portuguesa”, abordou a evolução do financiamento colaborativo em Portugal e como a literacia financeira dos portugueses está a mudar para melhor.
A Raize começou o ano a anunciar bons resultados …
Sim, exatamente. Os resultados são alusivos a 2021 que foi um ótimo ano para a empresa. Apesar de um início de ano complicado para todos, de muita incerteza – foi quando começou o processo de vacinação – é preciso lembrar que, de facto, houve uma enorme recuperação a partir do segundo trimestre. Conseguimos fazer com que o ano passado fosse o nosso melhor ano.
Fizemos muito trabalho em 2020 e 2021, de investimento em tecnologia, a escalar mais a nossa operação, lançámos novos produtos, melhorámos aqueles que tínhamos e fizemos novas parcerias com bancos que foram muito importantes nos ajudar a crescer mais… E de facto conseguimos. No momento em que as economias começaram a recuperar com força, nós viemos por aí acima com grande força. E isso culminou com os resultados bastante positivos que tivemos. Esta trajetória de crescimento acelerado em que entrámos abre muitas oportunidades à empresa.
Então 2021 foi o vosso primeiro ano de lucro é isso?
Sim, como um todo, com uma base consolidada, foi o primeiro em que apresentámos resultados líquidos positivos.
“Estamos numa trajetória de crescimento acelerado que começa agora e esperamos que dure durante muito mais tempo”.
O que é que nos outros cinco anos de vida da Raize não vos deu a possibilidade de chegar a estes valores antes? Alguma razão em particular ou simplesmente circunstancial?
Fizemos muito trabalho em 2020/2021 para começar as competências de motivação de escalabilidade da empresa o que nos permitiu fazer este este ponto viragem. Nos primeiros anos da nossa atividade investimos bastante no lançamento da empresa, na aquisição dos primeiros clientes, no crescimento da comunidade, na consolidação de todos os nossos serviços.
Aproveitamos estes anos para fazer alguns investimentos que no ano passado vieram a vencer, a dar os seus frutos. Quando a economia virou nós conseguimos aproveitar. Estamos numa trajetória de crescimento acelerado que começa agora e esperamos que dure durante muito mais tempo.
Essa perspetiva de crescimento vai manter-se em 2022 tendo em atenção o cenário que vivemos atualmente?
Estamos naturalmente mais cautelosos com as nossas expetativas em relação a este ano, porque o quadro geopolítico é muito complexo. Ou seja, à data de hoje, e não havendo um agravamento maior na situação do conflito Rússia/Ucrânia, acho que podemos estar relativamente otimistas de que pode ser um ano que ainda vai ser positivo.
“(…) importante é as empresas saberem que podem e que têm na Raize uma plataforma de financiamento que podem usar em paralelo como usam o seu banco (…)”.
Podemos dizer que os períodos económicos mais problemáticos, como têm sido estes últimos dois anos com a pandemia, são positivos para uma área de atividade como a vossa?
A procura surge quando há momentos de maior aperto, sem dúvida. Mas também surge em momentos em que há crescimento e quando há vontade de investir. As duas dinâmicas são importantes. Mas acho que o mais importante é as empresas saberem que podem e que têm na Raize uma plataforma de financiamento que podem usar em paralelo como usam o seu banco, como usam eventualmente outras soluções de financiamento. Não é muito comum na economia portuguesa, mas é uma plataforma que está disponível para as empresas de forma bastante rápida e que às vezes consegue capitalizar as empresas para os seus projetos.
A Raize tem duas valências, o financiamento tesouraria e investimento, por um lado, e por outro financiamento de start-ups. Qual tem sido a área mais procurada?
O serviço de financiamento de tesouraria e investimento é o produto que mais tem mais procura. É o que abrange o maior universo de empresas portuguesas. A linha de start-ups também é bastante procurada, cada vez mais, por empresas de tecnologia, por novos modelos de negócio, e vamos fazendo um trabalho muito interessante.
Referiu que há novidades ao nível das parcerias com bancos. Quais são neste momento os vossos parceiros nesta área?
Temos hoje algumas parcerias com bancos na área do investimento e da distribuição. O Banco Best, por exemplo, disponibiliza aos seus clientes a possibilidade de investirem na Raize diretamente através do homebanking. É uma parceria bastante inovadora que lançamos no ano passado.
Temos também bancos que investem diretamente através da Raize, lado a lado com os investidores. Portanto, são investidores institucionais. Há cada vez mais procura por parte destes agentes no serviço da Raize, porque de facto o que disponibilizamos aos investidores é considerado por muitos uma das melhores proteções contra a inflação. É um produto de renda fixa, com uma rentabilidade bastante atrativa face àquilo que acontece com outra tipologia de produtos com uma semelhança de risco/retorno. Há uma corrida dos investidores institucionais nesta fase para encontrar plataformas como a nossa para investir. Portanto, existe uma grande procura de grandes bancos, de fundos de pensões, para precisamente conseguirem encontrar refúgio para a inflação. Procuram aqui refúgios, porque precisam de aplicar o capital.
Quantas empresas já foram analisadas pela Raize ao longo destes anos?
Nesta fase, mais de 25 mil empresas já foram analisadas.
“Costumo dizer que a Raize financia todas as empresas, não importa o setor e a dimensão”.
Algumas áreas em particular?
Somos um espelho da economia e falamos para todos os setores. Costumo dizer que a Raize financia todas as empresas, não importa o setor e a dimensão. Mesmo os setores que no passado eram vistos como tipicamente arriscados como a construção ou os transportes. Temos bastante historial a investir nestes setores que são importantes na nossa economia. Contudo, e mais recentemente, temos vindo a introduzir alguns aspetos no nosso modelo de apreciação que restringem alguns dos setores que são menos amigos da sustentabilidade.
Então há critérios de elegibilidade, é isso?
Já tínhamos critérios de elegibilidade e no ano passado introduzimos os chamados critérios ESG. Para garantir que os investimentos que são feitos estão alinhados com princípios de ESG, sobretudo, princípios sociais, de desenvolvimento, de convergência social. O que acaba por ser um número grande destas empresas, porque muitas são micro e pequenas empresas, são unidades de emprego, unidades familiares e, portanto, é importante a Raize atuar como uma base de suporte para estes negócios. São bons negócios, muitos deles, pequenos, mas bons.
Já falámos do número de empresas. E quanto ao montante que já passou pela plataforma? Quanto já investiram?
Mais de 60 milhões em empresas portuguesas e esse valor vai acelerar durante este ano.
Tem algum número de investimento em perspetiva?
Esse valor está a ser afetado por aquilo que é a incerteza relativamente à Ucrânia e à Rússia. Ainda está a ser afinado durante este primeiro trimestre, mas esperamos um crescimento face aquilo que foram os valores do ano passado.
Só têm clientes portugueses?
Temos a primeiramente clientes que operam em Portugal, quer sejam investidores ou empresas, mas podem ser estrangeiros. Mas o foco da operação tem que ser Portugal. Já temos vários planos de expansão que estão a ser trabalhados em modo de parcerias estratégicas, ou com outras plataformas ou com outros bancos.
Para algum mercado em particular?
Temos o mercado europeu, que vai ser, de certa forma, aberto com o novo regulamento do crowdfunding e que vai ficar mais disponível para internacionalização por parte da Raize. Mas também temos o mercado africano, que acho que é um mercado que pode, nesta nova vaga de crescimento económico, ser muito interessante para nós.
Privilegiamos o modelo de parceria, de joint-venture, sobretudo em projetos de internacionalização. Olhamos para vários exemplos na internacionalização de empresas portuguesas em que o modelo de joint-venture foi aplicado com sucesso. É um modelo que procuramos replicar. Achamos que é a forma de conseguir fazer uma execução com maior agilidade, custos mais reduzidos e sobretudo um risco execução mais mitigado.
Este projeto de expansão internacional é para implementar ainda este ano?
Está a ser trabalhado. Dependendo da evolução dos trabalhos e da forma como as dinâmicas empresariais forem decorrendo, espero ter novidades ainda em breve.
“(…) a ideia é continuar a passar a mensagem aos investidores de que a Raize é um bom refúgio contra a inflação, para proteger o seu capital (…)”.
E que outros planos têm para os próximos meses em termos de oferta?
Temos várias novas parcerias com bancos que estão a ser trabalhadas para o mercado a nacional, serviços que vão ajudar a trazer muito mais financiamento para a economia. Ou seja, estamos a trabalhar com bancos que hoje não têm uma oferta de crédito para empresas e que com a Raize vão passar a ter. Isso pode vir a ter um impacto muito significativo no panorama de financiamento da economia portuguesa.
E estamos a trabalhar em novos desenvolvimentos de produto para os investidores. Um dos meus objetivos para este ano, em relação aos investidores, é reforçar ainda mais a proposta de valor da Raize, quer seja através de novos produtos quer seja de uma redução do nível de comissões.
As rentabilidades são para manter. O nosso track record é muito bom, constante, estável, rentável e, portanto, esse é para manter. E a ideia é continuar a passar a mensagem aos investidores de que a Raize é um bom refúgio contra a inflação, para proteger o seu capital, com pouca volatilidade, mas com uma rentabilidade que é atrativa e que não só preserva o capital, como faz avançar o capital.
Além do mais, é um investimento que tem um impacto social muito grande, porque literalmente o capital que as pessoas investem através da Raize vai ajudar as empresas do nosso país a fazerem investimentos, a contratarem pessoas, a gerirem melhores as diferentes circunstâncias dos negócios. Acho que há um ciclo virtuoso muito forte na dinâmica de investimento da Raize.
Qual é o papel que uma plataforma como a vossa pode assumir na economia portuguesa?
Acho que tem várias funções, desde financiar as empresas portuguesas, o que é essencial. As empresas têm de ser financiadas para poderem funcionar. E são as empresas que dão emprego. Quando olhamos para estatísticas de emprego, cerca de 40% do emprego em Portugal é precisamente em PME, e, portanto, é preciso financiar estas empresas. É isso que também vai financiar o tecido social e familiar da nossa economia.
O outro aspeto é, obviamente, ajudar as pessoas a manterem, ou a aumentarem, o seu poder de compra, porque a inflação tem como efeito negativo destruir ou reduzir o poder de compra das famílias. E nós queremos ajudar as famílias a manter e a aumentar esse poder de compra. Mas para isso é preciso investir. É preciso investir com rentabilidade, com estabilidade e regras. A Raize é, sem dúvida, uma das melhores opções para as pessoas nesta altura.
Qual foi o financiamento mais emblemático da Raize nestes últimos anos?
Somos um dos principais investidores da Academia do Código, que é uma academia que opera escolas de formação de programadores informáticos e que está a fazer um percurso extraordinário, com um crescimento muito interessante. Esse é, sem dúvida, um dos investimentos mais marcantes que fizemos nos últimos anos.
Se eu fosse um investidor, que argumentos usaria para me convencer a usar a vossa plataforma e a envolver-me nos vossos projetos?
Várias coisas. Numa primeira linha, a rentabilidade e a segurança de aplicar o capital com a Raize. Temos um track record muito bom e, nos últimos anos, com rentabilidades anuais acima de 5%, o que é o necessário para conseguir não perder poder de compra e vencer a inflação.
Um segundo argumento seria o impacto social com que estaria a investir. Há poucos investimentos como a Raize em Portugal, onde o capital que a pessoa investe vai de facto para ajudar o ecossistema de crescimento do próprio país, o que acaba por beneficiar quem investe. Todos beneficiamos quando o PIB cresce.
E apontaria também para a estabilidade. Os investimentos em mercados financeiros estão muito voláteis nesta fase. Não é claro que os mercados subam no próximo um a dois anos e, portanto, acaba por ser uma forma das pessoas terem o capital a render com estabilidade.
Quando olhamos para as rentabilidades acumuladas da Raize nos últimos anos, verificamos uma rentabilidade acumulada de mais de 50%. Isto mostra que vai-se ganhando bem, com segurança, com estabilidade, e acho que isso, no atual enquadramento de mercado, é tudo aquilo que um investidor pode querer. Sobretudo, um investidor que não quer estar diariamente a fazer negociação na Bolsa..
Então podemos dizer que a Raize é uma boa alternativa à Bolsa?
No atual enquadramento é uma ótima alternativa, é complementar aos investimentos. É sem dúvida uma classe de ativos que deve, a meu ver, ganhar um peso maior nos próximos tempos, porque complementa e traz estabilidade ao portefólio de um investidor. Acho que isso é uma mais-valia grande.
Como analisa a evolução do financiamento colaborativo em Portugal nos últimos anos? A mentalidade dos portugueses já mudou nesta área?
Fez-se uma evolução positiva. Estabeleceu-se em Portugal como alternativa, como uma forma de investimento e uma forma de financiamento da economia. Teve um período mais incerto, como tiveram muitas outras formas de investimento, na altura da Covid, mas de resto, acho que teve uma evolução bastante positiva.
E mais positiva vai ter agora com um novo enquadramento europeu que vai permitir que a Raize se expanda internacionalmente, e que os investidores portugueses também consigam ter acesso a mais opções e consigam investir em mais empresas. Por isso, estou bastante otimista em relação ao futuro.
“É importante ganhar dinheiro com o trabalho, mas é importante que o dinheiro que se ganhou com o trabalho seja poupado e que depois passe a trabalhar para nós”.
E a mentalidade dos portugueses? São conhecidos por não gostarem de correr muitos riscos em termos financeiros…
Acho que tem havido um esforço por parte sociedade civil e com o acesso a mais informação tem havido uma evolução da literacia financeira dos portugueses. Por consequência, isso tem um efeito de explicar melhor o conceito de risco e de retorno a um investidor. Portanto, o investidor fica mais confortável em tomar risco quando sabe e quando reconhece o retorno.
Continuamos a ser um país que tem uma base de depósitos muito grande, o que obviamente não é um bom investimento, não é um bom sítio onde guardar o dinheiro. Porque de facto o dinheiro em depósitos não rende, não valoriza.
Um dos aspetos que que tento transmitir mais e mais é que as pessoas devem ter o dinheiro a trabalhar para elas. Isso é algo que está a tornar-se cada vez mais presente na consciência dos portugueses, dos investidores portugueses, mas tem de se fazer mais trabalho nesse sentido.
É importante ganhar dinheiro com o trabalho, mas é importante que o dinheiro que se ganhou seja poupado e que ele depois passe a trabalhar para nós. Porque isso sim, é a fórmula do sucesso, chegarmos a um certo ponto da nossa vida e dizer assim: “olha, afinal já posso trabalhar menos porque consegui poupar e o dinheiro que poupei está investido, e os ganhos do investimento servem para pagar a minha vida e para me suportar confortavelmente”.
Acho que foi feito bastante nesse sentido, no sentido de consciencializar as pessoas para essa necessidade. Mas temos de continuar a fazer mais. É um aspeto de evolução financeira importante e que tem impactos tão positivos na vida das pessoas que acho que a tendência vai ser cada vez mais pessoas perceberem esta dinâmica. Não chega só trabalhar, também têm de investir porque o dinheiro que vou investir depois vai-me permitir no futuro deixar de trabalhar.
“O investimento ou financiamento não são por si só o sucesso. Receber financiamento não é ter sucesso. Receber financiamento é receber responsabilidade”.
Uma plataforma como a vossa pode ser uma “boia de salvação” para muitos projetos que de outra forma não saíriam da gaveta?
Não colocaria as coisas nesses termos. O investimento ou financiamento não são, por si só, o sucesso. Receber financiamento não é ter sucesso. Receber financiamento é receber responsabilidade. Nós analisamos de forma detalhada todas as empresas em que investimos. Procuramos empresas, projetos, pessoas em quem possamos colocar responsabilidade, em forma do nosso investimento. Uma empresa que ainda não tenha demonstrado capacidade de receber essa responsabilidade, não é uma empresa onde nós estejamos confortáveis para investir.
As empresas têm sempre que merecer esta responsabilidade. Tem sempre que mostrar que são capazes de honrar os seus compromissos e de conseguir fazer o investimento e obter o retorno. Até porque de outra forma não existe o ciclo virtuoso do investimento, ou seja, o investimento ajuda a crescer, é devolvido e volta a ser reinvestido. Se ele vai e é perdido quebra-se o ciclo, não pode ser reinvestido. Isso não dá, não é sustentável.
Voltando ao vosso início. Como é que projeto Raize apareceu?
Nasceu numa fase em que Portugal estava com grandes deficiências ao nível do setor bancário, do setor de financiamento da economia. Tinha havido uma paragem muito profunda da economia em 2012, e o projeto parece em finais de 2014 e é lançado ao público no início de 2015, precisamente para colmatar um pouco estas deficiências que tinham sido identificadas no financiamento da economia. A Raize veio procurar ajudar a crescer, a digitalizar e a financiar.
Tentámos fazer uma plataforma à luz das melhores plataformas a nível internacional, uma plataforma que fosse uma verdadeira ferramenta da economia. A Raize é uma infraestrutura da economia portuguesa, em que diferentes agentes e investidores podem ligar-se para financiar a economia.
Quem foram os mentores da Raize além do José?
Os três fundadores da empresa somos eu, o António Marques e o Afonso Eça. Somos amigos e decidimos fazer a empresa. Somos da área financeira e tecnológica.
Que desafios tem enfrentado no seu caminho de empreendedor?
O caminho de construção de uma empresa é um caminho de construção de uma organização que interage com muita gente. Queremos sempre fazer coisas que as pessoas gostem e estejam de acordo, mas por vezes isso nem sempre é possível. Tem de se tomar algumas decisões estratégicas, lançar novos produtos ou descontinuar outros, ou um investimento de forma diferente que acaba por não ser inteiramente consensual com o ecossistema e isso é um desafio. E, sobretudo, num país pequeno como Portugal em que parece que é tudo mais amplificado. Diria que aprender a viver com decisões não consensuais foi um deles.
Acho que a Covid foi um desafio grande para as empresas. Obrigou a uma quebra forte no crescimento. Portugal é um país relativamente pequeno e muitas vezes é difícil resistir a esses choques. Acho que isso foi um momento de grande desafio para a Raize e para muitas outros.
Há alguma coisa que se tenha arrependido de ter feito neste percurso de empreendedor?
Não tenho arrependimentos. Quando olho para trás, se calhar digo “podia ter feito de forma diferente”. Se calhar se fosse hoje tinha olhado para o problema de uma maneira um bocadinho diferente”. Pode-se dizer que se calhar a Raize até apareceu um bocadinho cedo demais. 2015 e 2016 foram anos muito parados, sem grande atividade. E começamos verdadeiramente a trabalhar quase em 2017. Teria seguramente tentado encurtar este espaço, tentado tornar 2015 e 2016 mais eficazes. Foram anos em que não conseguimos, por várias razões sobretudo por questões regulatórias, avançar tão depressa como queríamos. Hoje em dia teria ferramentas diferentes, teríamos outro tipo de mecanismos para tentar potenciar o crescimento nessa altura.
O mercado das plataformas de financiamento em Portugal é muito concorrencial?
O mercado em si é competitivo, mas faz parte. Há várias plataformas, mas nós concorremos diretamente com os bancos no financiamento das empresas e esse é um mercado do mais competitivo que existe. E, portanto, todos os dias temos que provar às empresas que somos bons.
É um mercado onde estamos a ombrear diretamente com grandes empresas e isso ainda é mais desafiante, mas também mais interessante. Mas temos áreas de crescimento bem definidas, que nos vão permitir crescer nos próximos tempos. Uma delas é precisamente trabalhar diretamente com os bancos para os ajudar também a fazerem mais e melhor financiamento à economia. É uma das áreas em estou pessoalmente mais entusiasmado.








