Entrevista/ “Investir não é só para quem tem muito dinheiro”

Bárbara Barroso, especialista em finanças pessoais

Sempre quis investir o dinheiro que tem guardado, mas não sabe como, quando e onde? Bárbara Barroso, criadora do podcast “MoneyBar”, apresenta no seu novo livro um plano com as estratégias e as ferramentas de que precisa para atingir a liberdade financeira. Ao Link To Leaders, a autora fala deste plano, mas também de poupanças e investimentos, e da “maior aula de finanças pessoais” que está a preparar para abril.

É especialista em finanças pessoais, educadora e consultora financeira, palestrante internacional há mais de 15 anos e fundadora da MoneyLab, um laboratório de literacia e educação financeira.

Bárbara Barroso lançou ontem o seu mais recente livro “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si”, um guia onde revela o seu próprio método em sete passos para multiplicar o dinheiro. Porque como diz, “ter o dinheiro parado significa ficar mais pobre a cada dia que passa”.

E prepara-se para organizar “a maior aula de finanças pessoais alguma vez realizada em Portugal, através do programa Investidor em Ação”, que vai decorrer no dia 30 de abril de 2022, na Sala Tejo (junto ao Altice Arena).

Qual a mensagem que quer partilhar através do seu mais recente livro “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si”?
No livro há várias mensagens importantes que pretendo passar de forma a ajudar as pessoas a assumirem as rédeas da sua vida financeira. Em primeiro lugar é importante que se perceba que, por cada dia que passa em que não investe o seu dinheiro, significa que está a empobrecer. Por isso, é fundamental que comece a investir o quanto antes. Outra mensagem relevante é que investir não é só para quem tem muito dinheiro, mas se quer aumentar o seu património terá certamente de investir. Acrescentaria também que a consistência não deve ser subestimada e devemos perceber que a nossa relação com o dinheiro é fundamental para progredirmos nas nossas metas financeiras.

O que precisamos para atingir a tão desejada liberdade financeira?
Precisamos, acima de tudo, entender qual a nossa identidade financeira, quem nós somos na relação com o dinheiro, definir objetivos concretos e um plano, e acima de tudo implementá-lo. No livro “Ponha o seu dinheiro a trabalhar para si” partilho exatamente uma metodologia que usei na minha própria vida, e de pessoas que acompanho, para conseguirem criar um sistema em que lhes permita viver dos seus rendimentos e, assim, ter mais liberdade para fazerem o que mais desejam.

“Por cada dia que passa em que não investimos o nosso dinheiro há um “agente corrosivo” das poupanças, como lhe costumo chamar, que vai “comendo” o valor do dinheiro. Falo da inflação”.

A Bárbara defende que ter o dinheiro parado significa ficar mais pobre a cada dia que passa. Porquê?
Por cada dia que passa em que não investimos o nosso dinheiro há um “agente corrosivo” das poupanças, como lhe costumo chamar, que vai “comendo” o valor do dinheiro. Falo da inflação. É importante que se entenda que este não é um conceito económico longínquo e que, de facto, a inflação significa que o nosso dinheiro vai valendo cada vez menos ao longo do tempo, e que se queremos mitigar esse efeito de perda de valor temos mesmo de investir. Cai assim por terra a ideia de que o dinheiro está bem é debaixo do colchão.

Dicas que devemos seguir para multiplicar o dinheiro?
O nosso primeiro grande objetivo, em termos de investimento, deve ser constituir um fundo de emergência. Isto significa ter uma quantidade de dinheiro (idealmente 6 a 12 meses do custo das nossas despesas) para imprevistos. Assim, garantimos que situações como a avaria de um carro, uma situação de baixa ou mesmo uma transição de carreira não tenham um efeito nefasto nas finanças pessoais. Depois de constituído esse patamar de segurança já podemos começar a pensar nos restantes objetivos, seja comprar uma casa, preparar a reforma, ou qualquer outro objetivo. Uma das dicas fundamentais é adquirir o hábito de poupar todos os meses e investir de forma consistente. Os juros compostos, dos quais falo no livro, farão a sua magia ao longo do tempo.

Quais as ações que devemos ter em carteira?
Depende do perfil de risco de cada pessoa, do horizonte temporal de investimento e da sua estratégia. Para algumas pessoas, e para alguns horizontes temporais, pode até nem fazer sentido ter ações. Quando olhamos para mais de 100 anos de dados, efetivamente, as ações continuam a ser a classe de ativos que apresenta melhores remunerações, mas há que compreender que o que serve para uma pessoa, pode não servir para outra.

“Nem sempre o desafio está em conseguir financiamento, está em tudo o resto. Daí que estarmos próximos de pessoas empreendedoras seja crucial”.

No seu mais recente livro diz que “fazer um planeamento financeiro ao longo da vida significa ajustar as metas e os objetivos aos momentos e diferentes ciclos de vida”. Que conselhos dá a um jovem empreendedor que acaba de lançar um projeto e procura investimento?
Que não tenha medo de falhar, nem de errar, porque é dos erros que nasce a inovação e as maiores aprendizagens. Que não desista dos seus projetos e procure rodear-se de pessoas inspiradoras. Acredito que ter um mentor é também um ótimo fator de aceleração e procurar também modelar pessoas que já tiveram sucesso na área, onde se está a lançar. Existem atualmente várias oportunidades entre fundos de capital de risco, ‘business angels’, incubadoras, entre outros, vocacionados para financiar bons projetos. Mas nem sempre o desafio está em conseguir financiamento, está em tudo o resto. Daí que estarmos próximos de pessoas empreendedoras seja crucial.

Como caracteriza a relação dos portugueses com o dinheiro? O que mudou com a pandemia?
O dinheiro continua a ser um tema tabu em Portugal. É algo que está muito enraizado na nossa cultura e que para se alterar é necessário apostar-se na educação financeira nas escolas, de forma a que as novas gerações não perpetuem a opacidade relativamente a este tema. Em termos de relação com o dinheiro não houve grandes alterações com a pandemia. O comportamento foi semelhante ao das restantes crises, ou seja, quem conseguiu manter os seus trabalhos reduziu o consumo e aumentou a taxa de poupança. É normal que com o regresso à normalidade aumente o consumo e reduza a taxa de poupança. Era importante que as pessoas não aforrassem apenas, mas investissem.

Como avalia o atual estado da literacia financeira em Portugal?
Os números não estão a nosso favor. Um estudo recente, levado a cabo pelo Banco Central Europeu (BCE) colocou Portugal em último lugar na Zona Euro, em termos de literacia financeira. Isto demonstra que ainda há um longo caminho que temos de percorrer.

O que é que ainda falta fazer para dotar as pessoas de um maior conhecimento sobre finanças pessoais?
Acima de tudo começar pelas escolas. É fundamental que se ensine desde tenra idade a lidar com dinheiro. Chegamos à idade adulta sem a mínima noção das bases de uma boa gestão financeira e todos precisamos de usar dinheiro nas nossas vidas.

Que balanço faz dos 8 anos do MoneyLab?
O balanço é extremamente positivo. O MoneyLab é um laboratório de literacia e educação financeira que nasceu com o objetivo de capacitar as pessoas a tomarem melhores decisões relativamente à sua vida financeira. Ao longo destes oito anos desenvolvemos vários projetos, programas e formações que nos permitiram impactar, positivamente, a vida de milhares de pessoas e isso é fantástico. Saber que o nosso trabalho transforma vidas deixa-nos muito orgulhosos e convictos de que estamos no caminho certo. Acreditamos ser possível fazer diferente e fazer a diferença. E esperamos continuar a contribuir para mais e melhor literacia financeira, em Portugal e em português.

Quando se começou a interessar pela área financeira? Foi amor à primeira vista?
Comecei a interessar-me pela área financeira na faculdade. Lembro-me de ler todos os dias o Diário Económico porque era distribuído gratuitamente na universidade. Não entendi metade do que estava escrito, mas depois ia procurar em livros, já que a Internet ainda não era o que é hoje. Tinha conversas com o meu pai sobre bolsa, assistia a seminários e procurava sempre saber mais. Foi um amor à primeira vista, mas que é crescente e ainda hoje me apaixono todos os dias por esta área.

“Trata-se de um programa de imersão presencial que vai reunir conceituados especialistas do setor financeiro e é destinado a todas as pessoas que querem começar a aprender a investir ou a melhorar os seus investimentos”.

Que projetos podemos esperar da Bárbara para o futuro?
Neste momento estamos a preparar a maior aula de finanças pessoais alguma vez realizada em Portugal, através do programa “Investidor em Ação”, que vai decorrer no dia 30 de abril de 2022, na Sala Tejo (junto ao Altice Arena). Trata-se de um programa de imersão presencial que vai reunir conceituados especialistas do setor financeiro e é destinado a todas as pessoas que querem começar a aprender a investir ou a melhorar os seus investimentos. Quem quiser participar, pode encontrar os bilhetes no site criado para o efeito.

Respostas rápidas:
O maior risco: Um investimento internacional.
O maior erro: Escutar quem não devia.
A maior lição: Queira o bem, faça o bem que o resto vem.
A maior conquista: A liberdade financeira que tem dentro de si várias liberdades. Poder fazer o que se quer, quando se quer e com quem queremos é uma das melhores conquistas.

Comentários

Artigos Relacionados