Start-ups brasileiras que estão a inovar na tecnologia para agricultura

Exportador mundial de muitos produtos agrícolas, o mercado brasileiro está de olhos postos na inovação tecnológica aplicada ao setor.

Grande produtor agrícola mundial e líder no abastecimento de diferentes produtos, o Brasil regista números impressionantes no volume de exportações: representa mais de 50% da produção de sumo de laranja, 37% da produção global de café, e é responsável por 20% da produção mundial de açúcar, por exemplo.

As receitas originadas pela agricultura atingem uma média de 84,6 mil milhões de dólares (76,8 mil milhões de euros) por ano, e por isso não surpreende que estes valores façam com que o Brasil seja o berço de muitas  start-ups de tecnologia agrícola (agtech). O setor agrícola está alinhado com o mundo da tecnologia para recolher big data e transformar esses dados em conhecimento prático para a “agricultura de precisão”.  Eis alguns exemplos do que andam os empreendedores a fazer em prol desta sinergia entre a atividade agrícola e a tecnologia para tornar as explorações cada vez mais eficientes.

PROMIP
A PROMIP é uma start-up que já recebeu 6,2 milhões de dólares (5,6 milhões de euros) em financiamento para o desenvolvimento de “bioinsecticidas” – mais amigáveis para o meio ambiente do que os comuns inseticidas sintéticos – para prevenção de pragas a longo prazo. O uso de soluções biológicas juntamente com produtos químicos pode reduzir em 15% os custos de produção de uma exploração agrícola, considerando todos os problemas regulatórios e de segurança associados ao uso de produtos químicos.

A empresa produz e distribui em larga escala bioinsecticidas, incluindo insetos como vespas, abelhas sem ferrão e ácaros predadores que substituem a utilização de agroquímicos e sementes OGM (organismos geneticamente modificados ou transgénicos). As soluções mais criativas incluem parasitóides que protegem as culturas de soja, algodão, tomate ou cana-de-açúcar, por exemplo. Um parasitóide é um organismo que vive em estreita associação com o hospedeiro (a praga que afeta a cultura) e que, mais cedo ou mais tarde, o mata.

Bart Digital
A Bart Digital recebeu 692 mil dólares (628 mil euros) de financiamento para usar a tecnologia blockchain para resolver problemas relacionados com o crédito e financiamento agrícolas. Fornece a todas as partes interessadas no financiamento uma plataforma funcional, que já processou mais de 168 milhões de dólares (153 milhões de euros) em transações. A aprovação do negócio pode ser agilizada, colocando todas as necessidades das partes envolvidas num banco de dados centralizado e acelerando o processo.

A solução desta start-up disponibiliza aos intervenientes no processo o acesso aos documentos necessários para a concessão de crédito agrícola, além de recursos como criação automatizada de documentos, assinaturas digitais e análise automática de documentos. Todo o ecossistema  – composto por fornecedores, distribuidores, investidores, bancos, sistema judicial, distribuidores ou credores, entre outros – beneficia do aumento da transparência e da rapidez do fluxo de informações.

InCeres
Esta start-up desenvolveu uma solução baseada na cloud para fertilidade do solo. A empresa recolheu dados de mais de cinco milhões de hectares, que agora são usados para fornecer informações a toda a cadeia de abastecimento de fertilizantes. Os agricultores podem aproveitar os benefícios da agricultura de precisão para reduzir os custos e, desta forma, serem mais competitivos. A solução InCeres fornece, por exemplo, informações sobre a variabilidade nutricional do solo de forma a calcular as aplicações corretas de fertilizante para cada parcela da exploração agrícola. Como estão na cloud, os dados podem ser acedidos em qualquer lugar e em qualquer altura.

Solinftec
A start-up de São Paulo está a desenvolver a “Alice”, uma assistente de inteligência artificial (IA) que integra e processa dados de máquinas, pessoas, redes de estações climáticas e outras entradas de big data. Pode ser considerada como uma espécie de “Alexa” para os agricultores. A solução inicial foi desenvolvida de acordo com as necessidades dos agricultores da indústria da cana-de-açúcar, mas agora o assistente virtual também já atua nos setores da soja, milho e algodão. Para usar a “Alice”, o agricultor tem que colocar dispositivos inteligentes no equipamento agrícola e fixar alguns sensores nos campos. O resultado final é um simulador da exploração agrícola em forma digital.

A Solinftec fornece aos clientes um registo de todos os dados da colheita, incluindo uma função de rastreabilidade que abrange desde a colheita até aos veículos de entrega que vão até as fábricas, tudo sem a necessidade de qualquer intervenção humana.

Aegro
A start-up Aegro desenvolveu uma aplicação de gestão agrícola que auxilia os agricultores na produtividade, controlo financeiro, controlo comercial e controlo de pragas. A solução possui um painel de controlo da colheita que providencia uma visão geral de áreas, produção prevista, despesas orçamentadas e compara esses dados com os custos reais. Desta forma pode apresentar dados para estabelecer o ponto de equilíbrio para as culturas. A start-up recebeu cerca de 1,8 milhões de dólares (1,6 milhões de euros) e tem mais de 355 clientes, que representam uma área agrícola de 520 mil hectares.

Horus Aeronaves
Esta start-up do estado de Santa Catarina desenvolveu uma das primeiras oferta de serviços de drones para agricultura na América Latina. A empresa já obteve 3 milhões de dólares (2,7 milhões de euros) em financiamento. Os drones de fibra de carbono usam câmaras multiespectrais para produzir imagens do terreno em alta resolução. Essas imagens podem ser “desconstruídas” para fornecer informações valiosas aos agricultores, como contagem de plantas, análise de saúde das culturas e mapas que mostram onde é necessário mais de fertilizante.

AIMIRIM
A start-up AIMIRIM desenvolveu um sistema que usa machine learning para ajudar nos aspetos industriais da produção de etanol. A empresa apoia diversos projetos de engenharia, particularmente aqueles que envolvem Computational FluidDynamics (CFD).

No ano passado a start-up estabeleceu uma parceria com a Raizen (o maior produtor de açúcar de cana e etanol) para utilizar inteligência artificial na automação da queima de bagaço de cana usada para gerar energia. Atualmente em atividade em duas fábricas da Raisen, a solução mostra que as taxas de combustão obtiveram uma redução aproximada de 30% na quantidade de bagaço para desenvolver o mesmo valor calorífico.

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