Como podem as start-ups da área da saúde digital crescer de forma sustentável

Em Silicon Valley vive-se a obsessão pelo crescimento rápido. No entanto, para as start-ups que atuam na área da saúde digital essa abordagem envolve riscos e pode ser perigosa. Saiba como podem vingar de forma sustentável, segundo Chris Hogg, CCO da Propeller Health.

A abordagem dominante na indústria de tecnologia é que, para ter sucesso, a start-up tem que estar pronta para vender a ideia rapidamente, não importa em que ponto de desenvolvimento esteja. Se a start-up trabalha numa indústria relativamente simples, em princípio isso não será problemático.

O mesmo não se poderá dizer das start-ups que atuam na área da saúde, como ainda recentemente aconteceu com algumas  – Theranos, uBiome, Nurx, eClinicalWorks, Practice Fusion – que chegaram às noticias pelas piores razões.

Na opinião de Chris Hogg, CCO da Propeller Health e promotor da evolução da área da saúde digital, citado pelo Techcrunch, estas empresas são o exemplo de organizações que, na procura pelo crescimento, colocaram o paciente em segundo lugar e sofreram as consequências.

Os erros cometidos
O CCO da Propeller Health considera que, nos primórdios da saúde digital, as start-ups estavam mais focadas no paciente do que atualmente. Os fundadores tinham uma compreensão inata da importância dos resultados para a saúde e ansiavam provar que o produto funcionava. Se a start-up de saúde digital for pressionada pelos investidores para crescer, será muito difícil priorizar o paciente face ao lucro.

No caso da Propeller Health, o CCO destaca o entendimento dos investidores no foco de desenvolvimento no produto, especialmente quando o crescimento era lento. As empresas digitais de saúde financiadas como empresas de tecnologia, com pequenas quantias de cada vez, têm necessidade de mostrar um progresso significativo entre 18 a 24 meses para obter a próxima ronda de financiamento. Em contraste, as empresas de ciências da vida são financiadas mais fortemente desde o início, sabendo que há um longo caminho a percorrer no desenvolvimento dos produtos e da sua validação clínica.

Uma empresa como a uBiome, que pode ter apressado os testes de aprovação médica para responder a metas agressivas de crescimento é, na opinião de Chris Hogg, resultado dos efeitos de um ambiente de financiamento que estimula as empresas a obter crescimento acima de tudo.

O produto, os testes e a comercialização
Outro dos problema que este empreendedor aponta ao setor é a elevada quantidade de fundadores e investidores que entraram na saúde digital oriundos de áreas que nada têm a ver com saúde. Na sua perspetiva é importante todos terem noções básicas da forma como a inovação acontece num cenário clínico e dos procedimentos que envolve: criação do produto, teste e comercialização. Além de desconhecerem estas regras, muitos dos novos “atores” desta indústria consideravam as regras e os métodos de “saúde tradicional” desatualizados e desnecessários.

O resultado é excesso de empresas que tentaram escalar antes de provar que o produto funcionava, pondo em risco os pacientes. Sem os testes próprios, o produto pode dar aos pacientes e aos médicos informações incorretas, levando a um tratamento inadequado, causando desperdício de verbas e produtos desnecessários, o que pode afetar a credibilidade deste ecossistema.

Reconstruir uma cultura de resultados
Mudar a forma de pensar sobre o sucesso na saúde digital é uma responsabilidade que, segundo aquele empreendedor, recai sobre diferentes intervenientes. A começar pelos meios de comunicação que, na sua ótica, podem ser mais críticos na cobertura que fazem das start-ups deste segmento, priorizando a cobertura de pesquisas com resultados comprovados em detrimento das rondas de financiamento e números de contratação.

A par disso, o circuito de palestras deve elogiar os fundadores que expliquem como os seus produtos mudaram a vida das pessoas para melhor e, acima de tudo, a comunidade de investidores tem que ser paciente com seus investimentos, entendendo que o verdadeiro crescimento na saúde leva tempo, sugere Chris Hogg da Propeller Health.

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