Fundações de empresa devem ser agentes de mudança
Agentes de mudança e um motor de inovação na economia social. Este deve ser o papel que as Fundações de Empresa devem assumir e uma das mensagens que saiu da conferência realizada pelo GRACE, na semana passada.
“Fundações de empresa-Agentes de mudança” foi o tema que reuniu na semana passada presidentes e responsáveis de várias Fundações, nacionais e internacionais, num encontro promovido pelo GRACE (Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial) e pelo Centro Português de Fundações, com o apoio da Fundação Vasco Vieira de Almeida.
Com um painel de oradores onde constaram nomes como Maria do Céu Ramos (presidente do Centro Português de Fundações), José Miguel Júdice (Conselho Consultivo das Fundações), Gonçalo Matias (Fundação Francisco Manuel dos Santos), Daniel Bessa (Fundação Bial), Raimundo Pérez-Hernandez (Fundação Ramón Areces), Jorge Filipe (Fundação Pão de Açúcar), e Paula Guimarães (Fundação Montepio) , estiveram em debate os “Desafios e oportunidades para as fundações de empresa”, “Liderar pelo exemplo” e “Como maximizar o impacto social”.
Margarida Couto, presidente do GRACE, recorreu ao exemplo de uma borboleta e de um elefante para explicar o papel das Fundações de Empresas, uma vez que estas são uma mistura dos dois, porque têm no seu ADN o melhor da empresa (o lado robusto, sensato e antigo do elefante) e o melhor da economia social (que representa o lado mais mais sonhador, mais frágil, do setor social).
Para presidente do GRACE, as Fundações de empresa têm uma dupla responsabilidade de liderar pelo exemplo. Ou seja, explicou, “o facto de serem este híbrido – de incorporarem caraterísticas muito vincadas das empresas, mas de serem elas próprias um ator da economia social, do terceiro setor – dá-lhes uma responsabilidade muito particular, na minha opinião, mais do que qualquer outra fundação, de liderarem pelo exemplo.
Isto por dois motivos, avançou a presidente do GRACE. Primeiro, porque enquanto inteligência social das empresas, ou braço social, as Fundações têm a obrigação de replicar na sua ação tudo aquilo que as empresas têm de melhor, por exemplo a gestão profissional, as boas práticas de governance, uma gestão eficiente e reacional dos recursos, idealmente accountability. “Tudo isto são conceitos absolutamente centrais à atividade das empresas e que estas já demonstraram ser capazes de transportar para dentro de uma Fundação”, assegura.
Aliás, as Fundações são atores especialmente empoderados da economia social também por uma razão: porque têm funding garantido. No dia 1 de janeiro de cada ano, começam o ano com a tranquilidadde de saber que o seu instituidor reservou um determinado montante para que esta possa cumprir a sua função social. Têm a responsabilidade de fazer muito melhor do que fariam as empresas se não tivessem constituído uma fundação de empresa.
“Têm obrigação de adoptar uma visão de longo prazo, o que implica fazer uma grande evolução face a outros atores da economia social, por exemplo fazer parcerias de longo prazo, que são verdadeiramente transformadoras para os projetos, e não parcerias pontuais”, aconselha Margarida Couto.
Vários perfis, a mesma missão!
A presidente do GRACE frisou ainda a existência de vários tipos de Fundações de Empresa. “Não há uma fórmula única, o que é bom”, referiu. Margarida Couto acredita que não faz sentido, que não é essencial, que uma Fundação tenha de ser completamente independente da empresa que lhe deu origem. “Não sinto que isso deva ser uma verdade absoluta porque esta diversidade é boa. Há lugar para todos e não há fórmula certa. Cada empresa tem de encontrar a sua fórmula, que também vai evoluindo ao longo do tempo”, acrescenta.
Assim, classifica as Fundações de acordo com diferentes perfis: as que definem a sua estratégia com imensa independência face à empresa que as instituiu, e as que ainda têm uma estratégia muito alinhada com a empresa fundadora, “o que não tem mal nenhum”, assegura a presidente do GRACE. Depois, Fundações que atuam em áreas que não se cruzam com o core business da empresa e outras que, pelo contrário, têm a sua intervenção na sociedade muito alinhadas com o core bussiness da empresa.
“Em qualquer caso, o que as Fundações de Empresa devem ter todas – independentemente do modelo adoptado, da área de intervenção em que apostem ou do posicionamento que tomem – é a obrigação de serem agentes de mudança”, concluiu Margarida Couto.
Lembrou ainda que em Portugal nunca houve tantas oportunidades para as empresas desempenharem este papel. “Nos últimos anos, têm-se assistido ao nascimento de mais Fundações de Empresa que já estão viradas para este novo mundo da mudança, para evoluir de um paradigma mais existencialista para um paradigma de provocar mudança social. Por outro lado, salientou, há um outro aspecto importante: as empresas são por natureza inovadoras. O setor fundacional é por natureza conservador, e este é o desafio: fazer com que este híbrido – entre uma borboleta, mais suave, e um elefante – consiga incorporar este lado menos conservador das empresas que é o lado da inovação, porque acreditamos que só através da inovação é que verdadeiramente as Fundações de Empresa vão poder ser estes agentes de mudança”.
Margarida Couto, terminou a sua análise ao setor, destacando ainda a importância das Fundações de empresa liderarem pelo exemplo. “Se há coisa que pode minar a credibilidade das Fundações é fazerem diferente daquilo que apregoam, é deixarem-se capturar por interesses que não são exclusivamente interesses de desenvolvimento social”, afirmou.
Por isso, alerta, são importantes duas coisas: a primeira que demonstrem que estão com muita genuinidade neste setor, que reportem. Durante muito tempo, havia um certo constrangimento em divulgar aquilo que se faz de bom, com receio que parecesse social washing ou uma tentativa de ganhar reputação. É evidente que comunicar o bem é difícil e quando é uma Fundação de Empresa que o faz mais dificil é. Mas deve ser feito porque só através disso é que há uma contaminação positiva”.
A intervenção da presidente do GRACE, antecedeu um painel moderado por António Gomes Mota, e com as intervenções de Rui Pedroto (Fundação Manuel António da Mota) e Miguel Coutinho (Fundação EDP), e onde se discutiu o tema liderar pelo exemplo. Sophie Faujour (European Venture Philanthropy) Association), Rafael Chueca Blasco (Fundação la Caixa) e Paula Guimarães, num debate moderado por Nathalie Ballan, do GRACE, encerraram a conferência com uma reflexão sobre “Como maximizar o impacto social?”, moderada por António Gomes Mota (Instituto Português de Corporate Governance).








