Opinião
Podem os asiáticos pensar em Paz?

Mandou-me uma pessoa amiga um vídeo de uma cerimónia de apresentação do livro “Can Asians Think of Peace?[1]”, constituído de muitos ensaios, mais de 60, sobre diferentes aspetos da manutenção da paz, ou do modo de evitar conflitos e atitudes agressivas, referentes a diferentes geografias e a variados tipos de incidentes na Ásia.
Na apresentação do livro editado pela AAP- Asian Peace Program, sedeada em Singapura, depois de uma breve apresentação de Kishore Mahbubani[2], houve uma interessante entrevista dele ao George Yeo, uma pessoa com larga experiência de responsabilidade à frente de Ministérios do Governo de Singapura.
O tema da paz era central na sua entrevista a George Yeo e no livro. Mahbubani tem uma acertada introdução à obra, parecendo querer evidenciar os critérios que os editores Kishore M., Varigonda Kesava Chandra e Kristen Tang terão seguido na seleção dos diferentes ensaios.
Todos eles são ensaios breves, em média de 4,5 páginas, muito centrados no tema que abordam, sem divagações laterais, algo que o leitor, que quer ir diretamente ao tema, apreciará muito.
Sem ser necessário documentar em demasia, a intuição de qualquer pessoa sensata, que observa à sua volta e interpreta com sentido comum os acontecimentos, dá-se conta de que a paz é absolutamente essencial para que as pessoas, famílias, se centrem no seu trabalho, na vida familiar, nos estudos, nos planos que querem realizar para ter uma existência feliz, ocupada com coisas úteis, com o lazer e o descanso, e novas iniciativas, criadoras de riqueza e de mais postos de trabalho.
Quando a paz falta por justas ou injustas reivindicações – sem querer antes falar e ver com as outras partes interessadas, como evitar um possível conflito -, o resultado pode ser desastroso, porque com confrontos todos perdem e não ganha ninguém.
É o que verificamos com muitos países que se enfronharam em escaramuças fronteiriças ou na ocupação ilegítima do poder na sua terra. Apenas criam sofrimentos, ansiedade, sangue e mortes.
Mahbubani referia como o Vietname teve problemas de fronteira com a China, que duraram até ao ano 1991. As trocas comerciais entre a China e o Vietname eram irrisórias, de cerca de $32 milhões. E com a paz e a melhoria da confiança entre si, já não houve necessidade de ter tropas na fronteira de nenhum dos lados e as trocas comerciais passaram para $172.000 milhões por ano, uma multiplicação de 5700 vezes! E elas poderão aumentar mais ainda com uma linha férrea a ser construída de Hanói até ao coração da China.
Se as evidências são notórias, faz falta algum bom senso para se pôr de parte qualquer solução a um conflito que não seja negociada, buscando o bem das duas partes, sem gastos nem traumatismos para qualquer das partes.
Mesmo podendo pensar que “ganharíamos” se avançássemos para um confronto, será sempre uma conclusão viciada e falsa, pois nos confrontos violentos há sempre perdas materiais, morais e de vidas dos dois lados.
Mahbubani preconiza três princípios para, um após outro, serem os promotores da paz: serenar, falar e comerciar. Nada mais pragmático e simples.
Importa serenar e não julgar as intenções, quando provavelmente nem sequer as houve. Depois, falar, pois é falando que se entendem melhor os problemas e se dissipam dúvidas e interpretações malévolas. E comerciar, criar e dar lugar a interesses mútuos de longo prazo que cimentam e garantam a boa convivência e a paz. E aí está a grande vantagem de se dar bem com os vizinhos e cuidar de ter uma relação sempre muito cordata.
Pode-se fazer um breve exercício de relembrar cada um dos conflitos havidos entre os Países e Alianças durante os Séculos XX e XXI e contabilizar as perdas de cada lado. Invariavelmente, apenas houve perdas, nada se ganha, pois a destruição abarca ambos os lados. E o montante dos gastos a somar à destruição eleva-se a quantidades assustadoras que dariam para programas de ensino e treino profissional para toda a juventude do país e para cuidar da saúde de todos os cidadãos, sem terem que pagar nada por ela.
[1] O livro está disponível na net para download.
[2] Kishore Mahbubani e um diplomata de Singapura, autor e Pprofessor. Foi embaixador às Nações Unidas e presidente do Conselho de Segurança das N. U. É fundador da Escola de Politicas Publicas, Lee Kuan Yew.