Opinião

Marketing: o jogo onde o autêntico ganha sempre

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Num ecossistema digital em que a informação circula à velocidade de um clique, a autenticidade tornou-se um valor estratégico para as organizações em geral, empresas e respetivas marcas.

Se, num passado recente, bastava dominar os meios de difusão, hoje o público – sobretudo as gerações mais jovens – avalia, compara e penaliza rapidamente qualquer tentativa de manipulação ou de comunicação menos transparente.

Dados recentes ajudam a ilustrar esta realidade: um estudo da Edelman Trust Barometer 2024 revela que 67% dos consumidores da Geração Z afirmam ter deixado de seguir ou mesmo boicotado marcas que consideraram pouco autênticas. No mesmo alinhamento, um relatório, da McKinsey, conclui que mais de 70% dos jovens valorizam mais a coerência entre discurso e prática de uma empresa do que a inovação inerente ao produto.

A questão central do ponto de vista da gestão é que a penalização não se traduz apenas em perda de reputação: traduz-se em perda direta de vendas e numa erosão de confiança difícil de recuperar.

A história recente está repleta de exemplos internacionais de como a falta de autenticidade pode sair cara. Quem não se recorda do caso Volkswagen, com o escândalo “Dieselgate”, que evidenciou como a adulteração de dados ambientais corroeu a imagem de uma marca considerada sólida, resultando em multas superiores a 30 mil milhões de euros e numa quebra duradoura da confiança com efeitos práticos no goodwill da marca, só recuperados cerca de 7 anos mais tarde.

Mais recentemente, campanhas de “greenwashing” – em que empresas comunicam um compromisso ambiental que não corresponde à realidade – têm sido expostas rapidamente por utilizadores atentos nas redes sociais, muitas vezes através da investigação comprovada levada a cabo pelos consumidores. Encontramos múltiplos exemplos na dermocosmética, produtos alimentares, de higiene pessoal ou pronto-a-vestir. Em contrapartida, há exemplos de excelência que mostram este trilho da transparência e muitos estão perto de nós.

Quem desempenha nesta matéria um papel decisivo, embora ambivalente, é precisamente a inteligência artificial (IA). Por um lado, as ferramentas de IA permitem às marcas produzir e difundir conteúdos em larga escala, analisar tendências e personalizar mensagens. Por outro, levantam a questão da verificação: como distinguir entre um conteúdo legítimo e um adulterado? Deepfakes e textos fabricados podem induzir em erro, mas a própria IA está a ser desenvolvida como mecanismo de aferição da verdade, através de sistemas de deteção de manipulação digital ou de validação de dados. Ou seja, a tecnologia pode ser tanto instrumento de distorção como guardiã da autenticidade – dependendo da forma como é usada.

A dimensão pedagógica desta transformação não pode ser ignorada. Cabe às marcas e às organizações perceber que a sua comunicação já não se limita a persuadir: deve educar, esclarecer e assumir uma responsabilidade social. Num mundo em que a literacia digital é crescente, sobretudo entre os mais jovens, qualquer deslize é rapidamente amplificado, enquanto a transparência é recompensada com fidelização.

A conclusão é inequívoca: o futuro da comunicação será julgado pela sua credibilidade e autenticidade. Marcas e instituições que optarem por atalhos, distorções ou meias-verdades arriscam-se a ser excluídas do espaço de confiança. Já aquelas que assumirem a clareza, a coerência e a transparência como valores centrais não só garantirão a sua relevância, como se posicionarão como referências de confiança num mundo saturado de informação.

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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