Opinião
Benchmarking: comparar para melhorar

Se há algo que a experiência me ensinou ao longo dos anos é que ninguém evolui isolado. As organizações, tal como as pessoas, crescem mais e melhor quando olham à sua volta, observam, questionam e, sobretudo, quando têm a coragem de aprender com outros.
O benchmarking, que muitos ainda vêem apenas como uma comparação fria de números, é, para mim, uma verdadeira escola de humildade, inspiração e superação. Lembro-me tantas vezes de conversar com líderes e equipas, tanto em pequenas empresas como em grandes organizações, e sentir aquele receio velado: “Mas será que mostrar o que fazemos e ver o que outros fazem não nos expõe em demasia?” É compreensível. Somos ensinados a proteger os nossos segredos, a valorizar o que é “nosso”. No entanto, o benchmarking não é copiar, é sim adaptar, transformar, inovar a partir do melhor que vemos nos outros e do que sabemos de nós próprios.
A história está cheia de exemplos de organizações que deram saltos de gigante ao abrir portas e mentes. A Xerox, nos anos 80, mostrou ao mundo que espreitar por cima do muro pode ser o que separa o declínio do renascimento. Dados recentes da APQC indicam que quem pratica benchmarking de forma consistente vê melhorias de eficiência na ordem dos 30%. São números, sim, mas acima de tudo são histórias de mudança real, vivida no terreno.
Não posso deixar de sublinhar a importância das pessoas neste processo. As melhores práticas que conheço passam sempre por envolver equipas diversas, ouvir quem está na linha da frente e definir, juntos, os indicadores certos. É fundamental não cair na tentação de olhar só para a “conta-corrente”. Satisfação dos clientes, qualidade dos processos, sustentabilidade, tudo conta, porque tudo influencia a nossa capacidade de criar valor.
No setor público, confesso que tenho visto exemplos que me surpreendem pela positiva: hospitais que partilham indicadores, escolas que discutem métodos, municípios que desafiam os seus próprios padrões. Um estudo da OCDE aponta para ganhos de satisfação superiores a 15% quando as melhores práticas são partilhadas e implementadas. Isto prova que, mesmo num ambiente desafiante, há espaço para crescer em conjunto.
Mas a grande lição do benchmarking é esta: comparar é apenas o início. O verdadeiro desafio está em transformar o que aprendemos em ações concretas. E isso exige líderes corajosos, que cultivem a curiosidade, o inconformismo saudável e, acima de tudo, a humildade de quem sabe que nunca sabe tudo.
Comparar para melhorar não é moda, é a essência de quem quer fazer melhor, todos os dias. Num mundo que muda a cada instante, esta abertura para aprender com os outros não é apenas útil, é vital. O futuro pertence a quem tem a ousadia de olhar para o lado, aprender e, sem medo, adaptar. Porque, no final, avançamos sempre mais longe juntos.