Opinião

Reforma Ativa: do fim da carreira ao reinício de um propósito

Pedro Rocha e Silva, Managing-Diretor da LLH | DBM Portugal

“O que queres ser quando fores grande?”. Desde tenra idade, somos desafiados a pensar sobre o nosso propósito profissional, no mesmo “pacote” de “como te chamas?” e “quantos anos tens?”.

Muito cedo na vida, começamos a preparar-nos para o caminho profissional que vamos perseguir e que vai ter um papel determinante na nossa trajetória de vida. A profissão tem, assim, um cunho de identidade e, para além de nos fornecer sustento e definir estilo de vida é, em grande parte, responsável pela nossa satisfação ou insatisfação pessoal, por grande parte das nossas realizações e um campo onde vamos contribuir com propósito.

A carreira profissional compõe uma fatia “gigante” da nossa vida e se, nas primeiras décadas de vida é uma estrada sem fim à vista, a partir de certa altura, começamos a compreender que abrandar faz parte do processo, quer porque nos diz a tradição (os nossos pais e gerações anteriores chegaram à reforma), quer porque sentimos que os nossos objetivos derivam para outras necessidades e apelos.

Mas, quem somos quando deixamos de trabalhar ou de perseguir uma carreira profissional? Reformamo-nos do trabalho/profissão ou da vida? Será a reforma um terreno árido, que anuncia o fim da linha, onde se instala o ócio e no qual se começam a perder competências (aquelas que custaram tanto a desenvolver e conquistar)?

Longe disso, a reforma é um terreno fértil, um caminho aberto e arejado, no qual podemos construir novos horizontes, explorar novos interesses e dar asas a novas oportunidades, algumas nunca antes pensadas ou possíveis. Podemos transformar os nossos papéis, desenvolver novas competências e criar novas conexões. Na verdade, podemos tomar as rédeas de uma viagem que nos conduz do fim da carreira profissional a uma reforma com propósito e plena de satisfação, onde a “cor” da vida pode cintilar com novos tons. Preparar esse caminho faz toda a diferença!

Antes de mais, definir como queremos fazer o caminho e a transição. Com data marcada ou de forma suave? Fazer um phasing out profissional permite capitalizarmos o leque de valências do nosso perfil ao serviço do mercado profissional e, simultaneamente, dos nossos próprios objetivos. Permite igualmente ganhar mais controlo sobre o nosso tempo, ajustando-o a novos rítmos até ao momento em que queiramos estar em plena reforma. Para ponderar esta possibilidade, requer que sejamos capazes de honesta e objetivamente, analisar o que queremos e o que podemos fazer nesse sentido.

A reforma pode ser o que queiramos que seja. Importa, para isso, olhar para esta transição como um projeto que se planeia e prepara cuidadosamente, com antecedência, trabalhando para que se desenvolvam os recursos práticos e objetivos, financeiros e emocionais. E, assim, construir uma reforma ativa, com propósito, plena de satisfação, diversificando atividades e alcançando novas realizações, mantendo a nossa identidade de um ser feliz, integrado na vida familiar e social com novos papéis e objetivos.


Pedro Rocha e Silva é atualmente o Managing Director da LHH|DBM Portugal. Licenciado em Organização e Gestão de Empresas, pelo ISCTE, iniciou a sua carreira na Andersen Consulting, tendo mais tarde passado por empresas como a Watson Wyatt, Portugal Telecom, Heidrick&Struggles e Neves de Almeida HR Consulting.

Desenvolveu maioritariamente a sua carreira na área de Recursos Humanos, com uma experiência relevante nas temáticas de Executive Search, Talent Assessment, Leadership Advisory, Políticas de Remuneração, Modelos de Avaliação de Desempenho e Carreiras, estando atualmente dedicado às áreas do Outplacement e de Preparação para a Reforma.

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