Opinião
Agentic AI: antes de delegar, defina as suas próprias regras

Há uns anos, falar de automação era sinónimo de scripts, fluxos e regras rígidas para tarefas repetitivas. O objetivo era garantir previsibilidade e eficiência, mantendo sempre as decisões mais importantes nas mãos das pessoas.
Hoje, a promessa vai muito além disso: delegar não só tarefas, mas também decisões, a sistemas que conseguem aprender, planear e agir. É aqui que entra a Agentic Artificial Intelligence (Agentic AI), conceito explorado por Pascal Bornet no livro com o mesmo nome.
Esta abordagem não se limita a criar agentes autónomos — entidades capazes de atuar sobre tarefas específicas com alguma autonomia — mas define como esses agentes devem interagir entre si e com todo o ecossistema da organização. Sem esta base, nenhum sistema — por mais avançado que seja — conseguirá tomar decisões de forma segura, coerente e alinhada com a estratégia da organização. Não podemos pedir a um agente inteligente que opere num terreno confuso, sem referências nem limites. Felizmente, muitas organizações já iniciaram este trabalho de clarificação, mapeando processos e responsabilidades. O próximo passo é perceber como usar a Agentic AI de forma responsável, aproveitando a autonomia digital sem abdicar de controlo e confiança.
O que muda com a Agentic AI?
Ao contrário da automação tradicional, a Agentic AI permite ir mais além:
- integra agentes capazes de observar, planear, decidir e agir.
- organiza a interação desses agentes entre si e com os sistemas.
- gere exceções e adapta comportamentos ao contexto.
- sempre dentro de regras e princípios de governação bem definidos pelas pessoas.
Desta forma, transforma agentes digitais em colaboradores inteligentes, capazes de lidar com fluxos complexos, responder a mudanças de prioridade e até reconfigurar processos sem depender de supervisão constante.
O que precisa de estar garantido primeiro?
Se o objetivo é delegar decisões, a organização tem de garantir antes as suas próprias regras. Há quatro elementos essenciais:
- Mapeamento detalhado dos processos – fundamental para percebermos como optimizar, onde podemos utilizar AI e como ela deve funcionar de acordo com os processos da organização.
- Papéis, responsabilidades e objetivos claros – para definir limites de atuação e metas, e para que fique claro o que é esperado dos agentes.
- Regras de governação e supervisão humana – essenciais para controlo e consistência, garantindo uma utilização orientada aos valores da organização.
- Cultura de melhoria contínua – os agentes aprendem, mas terão de evoluir – tal como a organização também tem de estar preparada para ajustar regras, processos e métricas.
Como começar a delegar
Tal como em qualquer mudança profunda, o melhor caminho é faseado:
- Escolher um domínio limitado e controlado: Escolha primeiro processos claros e de baixo risco — por exemplo gestão de tickets ou aprovações simples.
- Descrever comportamentos e exceções: Documente regras, prioridades, dados de contexto e casos-limite para orientar decisões seguras.
- Definir ciclos de feedback: Tal como as pessoas, os agentes precisam de métricas de performance, mecanismos de supervisão e correção.
- Evoluir progressivamente: Depois de testar em ambiente controlado, vá alargando o âmbito de forma faseada, sempre monitorizando e ajustando.
A Agentic AI não substitui pessoas — complementa-as. Liberta equipas de decisões rotineiras e repetitivas, permitindo-lhes focar no que cria mais valor: resolver problemas criativos, estratégicos e complexos. Mas para que esses agentes possam decidir de forma autónoma, a organização tem de definir primeiro as suas próprias regras, processos e princípios de governação. É assim que se constrói, de forma segura e responsável, o próximo nível de produtividade.