Entrevista/ “A transformação digital está a redefinir completamente o conceito de aprendizagem organizacional”

Joana Teixeira, Head of Digital Learning da Cegoc, defende que as Academias Digitais Corporativas são hoje peças estratégicas para as empresas. “Não estamos a falar de meros repositórios de conteúdos, mas de plataformas vivas onde o conhecimento flui em múltiplas direções, potenciado por tecnologias adaptativas”, frisa.
No contexto empresarial atual, em que a transformação digital e a evolução acelerada das competências moldam o futuro do trabalho, as Academias Digitais Corporativas afirmam-se como verdadeiros ecossistemas de aprendizagem contínua. Mais do que plataformas tecnológicas, são estruturas estratégicas que integram cultura, liderança e inovação para potenciar o desenvolvimento de talento.
Quem o defende é Joana Teixeira, Head of Digital Learning da Cegoc que, em entrevista ao Link to Leaders, explica como estas academias tornaram-se peças-chave para responder aos desafios do upskilling, da personalização da aprendizagem e da digitalização, reforçando o seu papel como aliadas estratégicas das organizações.
“Enquanto as iniciativas tradicionais de formação tendem a ser episódicas e desconectadas, as Academias Digitais Corporativas estabelecem um continuum de aprendizagem perfeitamente integrado nos objetivos do negócio”, afirma.
Como define as Academias Digitais Corporativas no contexto atual das organizações?
As Academias Digitais Corporativas são ecossistemas integrados de desenvolvimento que transcendem o modelo fragmentado de formação tradicional. No atual contexto, representam a resposta estratégica a três desafios cruciais: a urgência do upskilling contínuo, a digitalização acelerada e a necessidade de personalização da aprendizagem.
Não estamos a falar de meros repositórios de conteúdos, mas de plataformas vivas onde o conhecimento flui em múltiplas direções, potenciado por tecnologias adaptativas. Estas academias permitem às organizações estruturar uma oferta formativa eficaz que alavanque a performance dos colaboradores, sem sacrificar a qualidade ou a relevância estratégica. A Academia transcende a tecnologia – é uma extensão natural da cultura de aprendizagem da organização.
“A Academia não é um evento, é uma infraestrutura permanente de desenvolvimento que transforma competências em resultados mensuráveis, maximizando o retorno do investimento em formação”.
Em que se distinguem de outras iniciativas de formação empresarial?
A distinção fundamental reside na abordagem sistémica e estratégica. Enquanto as iniciativas tradicionais de formação tendem a ser episódicas e desconectadas, as Academias Digitais Corporativas estabelecem um continuum de aprendizagem perfeitamente integrado nos objetivos do negócio.
Três elementos-chave marcam esta diferença: primeiro, a personalização dos percursos formativos, onde cada colaborador acede a conteúdos adaptados às suas necessidades; segundo, a integração de serviços administrativos completos que libertam as equipas de RH para atividades de maior valor; e terceiro, a incorporação das melhores práticas internacionais de Digital Learning numa experiência formativa coerente e envolvente.
A Academia não é um evento, é uma infraestrutura permanente de desenvolvimento que transforma competências em resultados mensuráveis, maximizando o retorno do investimento em formação.
De que forma a Cegoc tem vindo a posicionar-se como parceira das organizações na conceção e implementação das Academias Digitais Corporativas?
Na nossa abordagem às Academias Digitais Corporativas combinamos mais de duas décadas de experiência em soluções formativas digitais com um profundo conhecimento das necessidades reais das empresas portuguesas. O nosso modelo de parceria baseia-se no acompanhamento integral. Através do nosso Implementation Strategist, guiamos as organizações em todo o processo, desde o diagnóstico inicial à criação de percursos formativos à medida, com acesso à vasta biblioteca de ativos digitais do Grupo Cegos.
Destacamos, ainda, o nosso apoio na otimização de investimentos, através da recuperação que pode chegar aos 80%, via programas de financiamento, traduzindo o nosso compromisso com resultados mensuráveis e impacto real no negócio dos nossos clientes.
Quais são os passos críticos para uma implementação bem-sucedida de uma Academia Digital Corporativa?
A implementação bem-sucedida de uma Academia Digital Corporativa requer uma metodologia estruturada em quatro pilares fundamentais. Iniciamos com o alinhamento estratégico, no qual estabelecemos a correspondência entre os objetivos de negócio e as necessidades de desenvolvimento, garantindo que a Academia nasce já integrada ao ADN da organização.
Segue-se a arquitetura da experiência de aprendizagem, onde desenhamos jornadas formativas personalizadas, selecionando percursos Ready2Go e criando conteúdos à medida. O terceiro pilar, frequentemente negligenciado, é a estratégia de engagement e comunicação, essencial para criar uma cultura de aprendizagem contínua.
Finalmente, implementamos um modelo de governance e medição de impacto, estabelecendo KPIs claros que traduzem aprendizagem em resultados de negócio mensuráveis. Este processo iterativo assegura que a Academia evolui continuamente com a organização.
“Como alicerce fundamental de uma Academia Digital bem-sucedida, o diagnóstico rigoroso permanece muitas vezes nos bastidores, apesar do seu papel determinante”.
Que fatores devem ser considerados na fase de diagnóstico e planeamento?
Como alicerce fundamental de uma Academia Digital bem-sucedida, o diagnóstico rigoroso permanece muitas vezes nos bastidores, apesar do seu papel determinante. Focamo-nos em cinco dimensões essenciais: a maturidade digital da organização, o estilo de liderança predominante, a cultura de aprendizagem existente, as competências prioritárias e a infraestrutura tecnológica atual.
O nosso processo de diagnóstico envolve conversas estruturadas com decisores-chave, análise das necessidades formativas e sessões colaborativas com as equipas. Este trabalho permite-nos descobrir, não só as necessidades imediatas, mas também oportunidades de desenvolvimento que muitas vezes passam despercebidas no dia-a-dia organizacional.
Na fase de planeamento, damos particular atenção à definição de indicadores que permitam acompanhar a evolução da Academia, assegurando que os investimentos em formação se traduzem em melhorias concretas na performance e nos resultados da organização.
Quais são as principais vantagens destas academias para as organizações? Pode dar exemplos de como este tipo de iniciativas se traduz em valor real para a organização?
As vantagens são transformadoras para as organizações. Em primeiro lugar, o aumento estruturado de competências transversais chave dos colaboradores, maximizando a eficiência do trabalho e promovendo um contexto mais inclusivo.
Depois, a otimização significativa da estratégia e orçamento de formação através da integração de soluções digitais inovadoras. A nossa experiência mostra que a centralização formativa permite uma redução substancial nos custos operacionais, enquanto expande significativamente o alcance e a consistência da aprendizagem.
Em terceiro lugar, a libertação das equipas de RH para atividades de maior valor acrescentado, externalizando toda a gestão administrativa a uma equipa dedicada. Por último, a oportunidade de recuperar parte significativa do investimento através de candidaturas a programas de financiamento, transformando o que seria um centro de custo num investimento estratégico com retorno tangível e mensurável.
“Temos observado que quase metade das organizações já implementam algoritmos de aprendizagem adaptativa (…)”.
Como é que a transformação digital está a mudar o paradigma da formação nas empresas? Que tendências se destacam atualmente?
A transformação digital não está apenas a introduzir novas ferramentas. A transformação digital está a redefinir completamente o conceito de aprendizagem organizacional. Migramos de um modelo episódico para um fluxo contínuo, onde o conhecimento é consumido no momento exato da necessidade, no formato ideal para cada contexto.
A Inteligência Artificial destaca-se como a força motriz desta revolução. Temos observado que quase metade das organizações já implementam algoritmos de aprendizagem adaptativa, onde a IA personaliza cada percurso formativo, como demonstrámos no nosso projeto Adaptive Learning. Tal como no mercado de trabalho, onde 47% dos profissionais já estão em funções altamente expostas à IA, as academias corporativas tornaram-se laboratórios de inovação tecnológica.
As plataformas responsivas e o prompt engineering emergiram como novas linguagens corporativas, enquanto a gamificação e os elementos sociais deixaram de ser acessórios para se tornarem pilares centrais da experiência formativa do futuro.
Qual o papel da liderança e da cultura organizacional neste processo?
A liderança não é apenas um facilitador, é o próprio catalisador desta transformação. Sem uma liderança que personifique ativamente a cultura de aprendizagem contínua, mesmo as melhores plataformas tecnológicas tornam-se apenas interfaces subaproveitadas.
No processo de implementação das Academias Digitais, envolvemos ativamente os líderes desde o primeiro momento, na definição dos percursos formativos por categoria funcional, na personalização da oferta e na integração com os objetivos estratégicos da organização.
A cultura organizacional é o terreno onde a semente da Academia Digital vai germinar ou definhar. As organizações mais bem-sucedidas são aquelas onde os líderes são os primeiros a abraçar a aprendizagem, onde a partilha de conhecimento é valorizada e recompensada, e onde o desenvolvimento de competências está intrinsecamente ligado à progressão de carreira e ao reconhecimento profissional.
“Estamos no limiar de uma era onde as Academias Digitais Corporativas se tornarão os verdadeiros “centros nervosos” das organizações”.
Por fim, olhando para o futuro: como antevê a evolução das Academias Digitais nos próximos anos?
Estamos no limiar de uma era onde as Academias Digitais Corporativas se tornarão os verdadeiros “centros nervosos” das organizações. A IA generativa transformará radicalmente estes ecossistemas, criando experiências de aprendizagem hiperpersonalizadas, não apenas baseadas em funções, mas adaptadas ao estilo cognitivo individual de cada colaborador.
Nas “profissões em ascensão”, que representam 22,5% do nosso mercado de trabalho, veremos a IA como parceira estratégica, não apenas automatizando processos formativos, mas potenciando a criatividade humana. As academias tornar-se-ão assistentes superinteligentes que não só executam, mas também inspiram.
Veremos a dissolução das fronteiras entre formação e trabalho, com sistemas preditivos que antecipam lacunas de competências antes mesmo que se manifestem como problemas. O fascinante é que a IA está a democratizar o conhecimento, transformando as academias de centros de custo em poderosos catalisadores da inovação organizacional.