Entrevista/ “Investir em engenharia com propósito é investir num futuro mais humano e sustentável”

A engenharia está a ganhar um novo protagonismo na área da saúde e o ISQ quer estar na linha da frente dessa transformação. Com soluções que combinam tecnologia, ciência e impacto social, o instituto afirma-se como um agente estratégico no desenvolvimento de um setor da saúde mais moderno e eficiente.
Com mais de 50 anos de experiência na engenharia de sistemas complexos, o ISQ tem vindo a alargar o seu raio de ação, colocando o conhecimento científico e tecnológico ao serviço de setores críticos para a sociedade. A saúde é hoje uma dessas áreas prioritárias, onde se cruzam competências em sensorização, automação, inteligência artificial e qualidade certificada.
Em entrevista ao Link to Leaders, Pedro Matias, presidente do ISQ, explica como o instituto está a contribuir para um sistema de saúde mais eficiente, sustentável e centrado nas pessoas, revelando projetos, parcerias e tendências que estão a moldar o futuro da saúde em Portugal.
O ISQ está tradicionalmente associado à engenharia e à indústria. Como surgiu o interesse e envolvimento do ISQ no setor da saúde?
O envolvimento do ISQ no setor da saúde foi uma evolução natural da nossa missão que é a de colocar o conhecimento científico e tecnológico ao serviço das empresas e da sociedade. Foi isso que sempre fizemos ao longo dos anos em que fomos abraçando sempre novos setores industriais. Assim, à medida que a saúde se tornou num dos domínios mais exigentes e tecnologicamente avançados, identificámos inúmeras oportunidades para aplicar as nossas competências em áreas como engenharia biomédica, sensorização, monitorização remota, rastreabilidade, certificação, qualidade e segurança. O nosso foco sempre foi gerar impacto positivo — e poucos setores têm tanto impacto social tão positivo como a saúde, por isso tem sido uma evolução natural.
“Temos trabalhado no desenvolvimento de soluções personalizadas para os vários subsetores das Ciências da Vida, para laboratórios farmacêuticos e científicos (…)”.
Que projetos ou áreas de inovação na saúde destacaria atualmente no vosso portefólio?
Temos trabalhado no desenvolvimento de soluções personalizadas para os vários subsetores das Ciências da Vida, para laboratórios farmacêuticos e científicos, cannabis medicinal e dispositivos médicos. Temos laboratórios dedicados ao controle de qualidade de produtos farmacêuticos, estudos de estabilidade e também toda a fileira do controle de qualidade.
Como o ISQ colabora com hospitais, universidades ou start-ups do setor? Há alguma parceria estratégica que possa partilhar?
Acreditamos que a inovação nasce da colaboração. Trabalhamos com hospitais públicos e privados, universidades de referência e start-ups tecnológicas através de consórcios, projetos europeus de inovação colaborativa como o Horizon Europe ou mesmo no quadro do PRR – Programa de Recuperação e Resiliência. Hoje em dia Portugal tem empresas de excelência e de forte relevância internacional como sejam a Hovione, a Bial, a Bluepharma, os Laboratórios Atral ou a Tecnimede e o ISQ já colabora com muitas delas. São empresas muito profissionais e muito exigentes e por isso é muito positivo e gratificante trabalhar com elas.
Por outro lado, a nível de empresas internacionais temos também tido contactos com algumas das mais relevantes a nível mundial para tentar desenvolver projetos e atividade comercial como por exemplo a Pfizer, Roche, Novartis, Sanofi, Glaxo Smith Kline, Merck, Bayer, etc. Estamos também muito motivados para dinamizar clusters e ambientes de inovação seja com o Health Cluster Portugal ou com os vários Polos de Inovação em Saúde (em Braga, Coimbra, Lisboa).
Em termos de impacto social, que tipo de benefícios concretos estas tecnologias trazem para os cidadãos e o sistema de saúde?
Estamos a contribuir para um sistema de saúde mais preventivo, personalizado, eficiente e sustentável, o que se traduz não só em ganhos de bem-estar para os cidadãos, mas também em poupança significativa para o sistema nacional de saúde.
“Temos décadas de experiência em engenharia de sistemas complexos, certificação, qualidade e segurança (…)”.
O que diferencia o ISQ de outras entidades tecnológicas ou centros de interface que também atuam na inovação em saúde?
O ISQ distingue-se por aliar capacidade técnica multidisciplinar a uma forte orientação para a aplicação prática. Temos décadas de experiência em engenharia de sistemas complexos, certificação, qualidade e segurança — competências críticas quando se fala de tecnologias aplicadas à saúde. Além disso, operamos com uma lógica de independência e confiança que nos permite atuar como facilitadores neutros entre parceiros tecnológicos, clínicos e reguladores.
De que forma a engenharia está hoje ao serviço da saúde? Pode dar-nos exemplos concretos de aplicações desenvolvidas pelo ISQ?
Hoje, engenharia significa criar soluções adaptadas à realidade clínica. Um exemplo é o desenvolvimento de sensores integrados que podem depois ser aplicados em várias áreas médicas. Outro é a utilização de técnicas de machine learning que podem também ser adaptadas para atos clínicos. Trabalhamos também em robótica e em automação que são duas áreas que a saúde cada vez aplica mais.
Quais são os principais desafios técnicos e éticos ao trabalhar na interseção entre engenharia e saúde?
Tecnicamente, o desafio está em garantir segurança, precisão e interoperabilidade em ambientes clínicos exigentes. Do ponto de vista ético, a proteção de dados e a transparência dos algoritmos de inteligência artificial são temas centrais. No ISQ temos uma abordagem rigorosa, respeitando a legislação (como o RGPD) e promovendo sempre soluções centradas na defesa do interesse das pessoas.
Que tendências tecnológicas o ISQ antecipa como mais transformadoras para o setor da saúde nos próximos 5 a 10 anos?
Identificamos várias tendências com elevado potencial: a medicina personalizada baseada em dados, a aplicação de inteligência artificial no apoio ao diagnóstico, a biotecnologia integrada com sensores inteligentes e a expansão da telemedicina. Também destacamos a impressão 3D de próteses e órgãos, bem como a nanotecnologia aplicada ao diagnóstico precoce e à terapêutica dirigida.
“A engenharia tem um papel crucial na modernização do setor da saúde, na resposta a crises sanitárias e na melhoria da qualidade de vida”.
Que mensagem deixaria aos decisores políticos e empresariais sobre a importância de investir em engenharia com propósito?
Investir em engenharia com propósito é investir num futuro mais humano e sustentável. A inovação só faz sentido se estiver ao serviço das pessoas. A engenharia tem um papel crucial na modernização do setor da saúde, na resposta a crises sanitárias e na melhoria da qualidade de vida. É fundamental que políticas públicas e estratégias empresariais integrem este valor transformador.
E aos jovens engenheiros ou investigadores que querem trabalhar em inovação com impacto social na área da saúde?
Diria que estão a escolher uma área desafiante, mas profundamente gratificante. Trabalhar na interseção entre saúde e tecnologia é trabalhar onde a inovação encontra o seu verdadeiro propósito: melhorar vidas. O ISQ está aberto a colaborar, acolher talento e criar pontes para projetos com impacto real. A saúde precisa de mentes curiosas, éticas e comprometidas — e os jovens engenheiros têm um papel vital a desempenhar.